terça-feira, 20 de março de 2012

Um Freud educador I


    

A educação

    O que se pode dizer da aplicação da psicanálise à pedagogia. Freud diz que, pessoalmente, não contribuiu nada, deixando para Melanie Klein e Anna Freud, sua filha, o cuidado de uma aplicação do modelo metapsicológico ao campo da educação.
     Contudo, a infância está presente em toda reflexão freudiana. Raras são as notas analíticas que não fazem referencia a ela. Da teoria das fases ao conceito de "sedução precoce", da idéia da sexualidade infantil ao complexo de Édipo, o conjunto da obra repousa sobre uma teoria da infância e de seu desenvolvimento. A infância aparece
como um período determinante para a formação da pessoa.
    Assim, a influência de Freud sobre a reflexão educativa do século XX é decisiva, e são raros os autores contemporâneos que tenham abordado a pedagogia sem fazer referencia direta ou indireta a Freud. Alguns se apóiam explicitamente em sua doutrina para justificar uma concepção, outros se limitam a tomar emprestados certos conceitos. Não é certo, contudo, que esse sucesso incontestável não esteja ligado a certa flutuação na interpretação, pois aqueles que vêem como denunciador da assimilação (educação - autoridade - neurose ) o consideram partidário da não diretividade, enquanto outros recorrem a ele em apoio à autoridade adulta. Os interpretes de Freud dividem suas postulações em visões contraditórias acerca do papel e dos limites da educação.
    Talvez isso se deva ao fato de Freud não ter deixado nenhum tratado especifico sobre a questão educativa. De fato, Freud jamais redigiu um trabalho tendo como objeto esse problema, o que não o impediu, contudo, ao longo de sua obra, de pesquisar, examinar, criticar, se necessário, o papel dos professores, dos pais, ou seja, a autoridade adulta sobre a criança. Não há obra de Freud, em um momento ou outro de seu desenvolvimento, em que não seja cotejada a questão educativa. Desde Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905) até Mal-estar na civilização (1930), as referencias à educação são constantes. Se conservadores e revolucionários defendem suas teses, significa que essa reflexão dispersa, que responde a questões tão diversas quanto as que se encontra em Totem e tabu e no Caso do pequeno Hans, em Cinco lições de psicanálise, é essencial. Talvez, entretanto, pudesse parecer ambígua em uma leitura superficial.
     Na realidade, o pensamento de Freud sobre a educação, como veremos, sobre a questão da adaptação da criança à realidade, ao mesmo tempo natural e social, testemunha uma unidade, uma continuidades e uma firmeza indubitável. Sua coerência deriva, sem dúvida, do fato de a psicanálise não se reduzir a uma simples metodologia terapêutica, mas ser encarada como um ponto de vista global sobre a existência, no qual a vida da criança é um momento primeiro e fundador.
     

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