A educação
O que se pode dizer da
aplicação da psicanálise à pedagogia. Freud diz que, pessoalmente, não contribuiu nada, deixando
para Melanie Klein e Anna Freud, sua filha, o cuidado de uma aplicação do
modelo metapsicológico ao campo da educação.
Contudo,
a infância está presente em
toda reflexão freudiana. Raras são as notas analíticas que não fazem
referencia a ela. Da teoria das fases ao conceito de "sedução
precoce", da idéia da sexualidade infantil ao complexo de Édipo, o
conjunto da obra repousa sobre uma teoria da infância e de seu
desenvolvimento. A infância aparece
como um período determinante para
a formação da pessoa.
Assim, a influência de Freud
sobre a reflexão educativa do século XX é decisiva, e são raros os
autores contemporâneos que tenham abordado a pedagogia sem fazer
referencia direta ou indireta a Freud. Alguns se apóiam explicitamente em sua
doutrina para justificar uma concepção, outros se limitam a tomar emprestados
certos conceitos. Não é certo, contudo, que esse sucesso incontestável não
esteja ligado a certa flutuação na interpretação, pois aqueles que vêem como
denunciador da assimilação (educação - autoridade - neurose ) o consideram
partidário da não diretividade, enquanto outros recorrem a ele em apoio à
autoridade adulta. Os interpretes de Freud dividem suas postulações em
visões contraditórias acerca do papel e dos limites da educação.
Talvez isso se deva ao fato de
Freud não ter deixado nenhum tratado especifico sobre a questão educativa. De
fato, Freud jamais redigiu um trabalho tendo como objeto esse problema, o que
não o impediu, contudo, ao longo de sua obra, de pesquisar, examinar, criticar,
se necessário, o papel dos professores, dos pais, ou seja, a autoridade adulta
sobre a criança. Não há obra de Freud, em um momento ou outro de seu
desenvolvimento, em que não seja cotejada a questão educativa. Desde Três ensaios sobre a teoria da
sexualidade (1905) até Mal-estar na civilização (1930), as referencias à educação
são constantes. Se conservadores e revolucionários defendem suas teses,
significa que essa reflexão dispersa, que responde a questões tão diversas
quanto as que se encontra em Totem
e tabu e no Caso do pequeno
Hans, em Cinco lições de
psicanálise, é essencial.
Talvez, entretanto, pudesse parecer ambígua em uma leitura superficial.
Na realidade, o pensamento
de Freud sobre a educação, como veremos, sobre a questão da adaptação da criança
à realidade, ao mesmo tempo natural e social, testemunha uma unidade, uma
continuidades e uma firmeza indubitável. Sua coerência deriva, sem dúvida, do
fato de a psicanálise não se reduzir a uma simples metodologia terapêutica, mas
ser encarada como um ponto de vista global sobre a existência, no qual a vida
da criança é um momento primeiro e fundador.
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