O vagabundo
Começar um romance com um chavão ou lugar comum "E foram felizes para sempre",
sempre colocado no final dos contos, não é só uma forma de fugi do
convencionalismo, mas, também, porque não tem um acerto maior do que o instinto
popular. E dizer: "tudo que se diz
já foi dito,” Não é tão diferente do que dizer: não há caminho que se ande que
alguém não tenha andado. Em um romance convencional sempre existe no mínimo um
casal de enomarados, um mocinho e um vilão. Falar de macho e fêmea, além das
suas funções biológicas, que apesar de todas as possíveis vicissitudes, não há
mais nada que se possa dizer que não se tenha dito ou pensado. O
"Amor" de Romeu e Julieta pôs termo ao tema. Romance sem morte, sem
casamento não é um fim lógico para um romance consagrado. E esse não tem. Mas
espere! Eu não quero deixar você, meu leitor, no blecaute. Este alfarrábio
consiste em falar de um homem em que tive e tenho contato, embora um pouco
menos do que antes. Na maior parte do tempo não estamos juntos, como fazíamos
quando crianças e adolescentes. Estudamos na mesma escola e nas mesmas turmas. Jogamos-nos
mesmos times e ás vezes estávamos em lados opostos. Não sei o que aconteceu,
com ele, quando eu não estava presente. Ele não é muito de contar suas
histórias para qualquer um. Eu sou uma das suas exceções. Mas acredito que
posso recorrer à imaginação para preencher, assim penso, as lacunas e tornar
essa narrativa mais coerente. No entanto, prefiro contar os fatos como eles se
sucederam. E, quem sabe, ter a imparcialidade de um historiador que, compromissado
com o acontecimento do fato, não deixa, em seu relato, qualquer margem a uma
palavra de opinião. Portanto, relatar os fatos como realmente aconteceram é
minha pretensão. Quando alguém
não tem nada para fazer, ou sofre de ergofobia, tende a ser escritor. Por que
escrever um livro com o título de O vagabMundo? Há poucos meses escrevi um
romance com o título de O Santo-de-Pau-Oco. Um título satírico e irônico, mas
não tão quanto esdrúxulo. Mas a estranheza e anomalia no título se refletem
também na estrutura do romance que não passou despercebido pelos poucos
leitores. Fugi quase que completamente de um romance clássico. Nele destaquei
um personagem e, valendo-me do privilégio que exercem os romancistas, deixei
fluir a imaginação para ilustrar o tipo que eu criara. Visto os escassos fatos
que eu conhecia do personagem real quando não estávamos juntos. Muito
contundente. Ele me fez ver que temos muitos em comum. Sou triturador.
Destruir, confundir, mentir é coisa que me faz divertir. Como riu daquele
instante que ela me dizia. “hoje preciso de você com qualquer humor com
qualquer sorriso.” Então logo: “maldito tempo que se acaba quando estou contigo.”...
“eu preciso de você hoje, não amanhã” Nesse romance preciso ser semelhante.
Mesmo sem querer inventar coisa alguma, mas só quando necessário, para melhor
entendimento, preciso valer-me da imaginação. Coisas que fazemos, mesmo que não
escrevemos. Pois não há possibilidade de registrar o passado em cada instante.
O instante é o presente maior que o tempo nos oferece como uma infinitude
eterna. O instante,este não existe mais, pois se apagou. La naquele bar,
bebendo uma brhama na beira do meu rio ouvindo a voz de Evandro Mesquita sinto-me a dois passos do paraíso. Bey
bay! aquele livro que acabei de ler, bey bey. a hora que fiquei nervoso, bey bey.
Aquele meu olhar malicioso, bey bey. Também
não poderia fazer de outra forma para não constrangi e nem ofender ninguém -
Mas eu até sinto prazer em ofender alguém - Inclusive você - E, sendo assim,
dei aos personagens nomes fictícios sem deixar de procurar outros meios de
evitar o reconhecimento. Todavia, o homem sobre quem escrevo só não passa
despercebida quando indagado e ouvido. Receio que nenhum vestígio desse homem
possa ser deixado com sua passagem pela vida. Este livro, sendo lido, não passa
de uma pedra jogada no rio e o vestígio que ela deixa na superfície da água.
Mas seu caráter, sua eloqüência e exemplo de vida para aqueles que o conhecem
não pode deixar de exercer influência. Talvez seja, como muitos outros, que
somente depois de sua morte se compreenderá que nessa época viveu um ser
extraordinário. O tempo dirá. O tempo é
detentor da verdade. E mostrará a si mesmo a transparência da realidade que
foge ao mais sofisticado e evoluído sentido. Foge a mais pura percepção
alcançada até agora. O homem vai levar muito e muitos tempos para entender o
tempo. Aceitar o tempo é como aceitar a
vida na sua total plenitude. A vida só reclama por isso. É lá que dormimos
nossos sonhos. É sempre o tempo que queremos ressuscitar. Aquele meu parente
morto vem me incomodar. É só um sentimento ilhado. Pois em sua memória Ele não apaga a própria. Então, fica entendido que este livro é uma
fonte de informação sobre esse extraordinário homem. Era o mínimo que eu
poderia fazer para meu amigo. E a força maior que me impulsiona a escrever esse
romance é um puro desejo de escrever unicamente aos meus conterrâneos de minha
cidade de Santa Luzia do Paruá. Dar um tempinho do meu tempo a Santa de minha
vida. Não quero fama, isso já sou. não quero sucesso, sou bem sucedido, não
quero riqueza, sou muitíssimo rico. não quero progresso quero a santa na minha
ida. Só quero conversar com meus amigos. Não quero estátua e nem troféu. Mas
por favor! Que ninguém use véu! Pois saibam que meu mundo é um bordel. Não
quero o Céu sem antes conhecer o Inferno. Quis o acaso que eu convivesse com
uma Santa que não enxerga com os olhos. Mas estende na palma de sua mão todo o
conhecimento a ser visto com a leitura simples de um gesto. Que carrega o verde
da esperança. É como diz a musica que toca. É um amor maior que eu. Mas é
preciso amar direito. É para vocês, meus
ilustres habitantes desse pedaço de nave espacial - que gira e revira para
mostrar um mundo racionalmente infinito – quem dera Ela fazer melhor e fugisse
de sua órbita e nos mostrasse o que há alem do infinito – que escrevo esse
romance. Fique claro, também, que as conversas não foram literalmente
registradas. Não tomei nota de nada. O que tenho são lembranças de uma boa
memória. Uma boa memória só é possível quando algo nos chama atenção. Mesmo
sendo minhas palavras, reproduzirei fielmente o que lembro. Mesmo não sendo uma
história inventada, não posso deixar a tomar a liberdade de colocar nos lábios
de meus personagens palavras e gestos que eu, por não está presente, repito,
não poderia ter ouvido e visto. E assim, pelo mesmo motivo, criei um cenário
semelhante ao real. Porque nos mesmos lugares, poderiam facilmente ser
identificados tais personagens, mas sem deixar de dá vida e verossimilhança as
cenas que, sem tais recursos, seriam insalubres e incolores. Tal recurso,
obviamente, deixa a narrativa mais prazerosa e interessante. E finalmente, por
querer ser lido, acredito está no meu direito de valer-me de tais recursos.
Assim sendo, serei um narrador onipresente e onisciente. É como já disse: fugi
do romance clássico. Mas não é minha pretensão fundar uma escola literária. Só
penso que um artista deve nascer sem regras e usar seu próprio modelo
espontaneamente. Mas nem precisava tanto me explicar, pois o leitor,
inteligente, familiarizado com leituras, sem dificuldade perceberá que me vali
de tais recursos. Em resumo, você já entendeu que tudo pode ser invenção, uma
recriação, uma adapatição. Seja que nome for, consideramos que é um fator.
Enganei-te? Não! Tudo é verdade? Esse
personagem, cujo nome é Onório, é do tipo que deixa qualquer mulher apaixonada.
Romântico e sedutor anda pelos corredores do sexo oposto. Seja numa mesa de bar
ou numa praça, Ele passa despercebidos pelos homens, mas as mulheres os
observam. Em uma tarde de outubro, bebendo uma cerveja, em praça publica, o céu
rubro, estava a meditar. Relembrando, sem querer, um conto de amor. Algumas
mulheres o observavam. Uma delas pensava: “fica mais um pouquinho!” quando ele
se levantou para ir embora. E dizia uma: “você quebrou meu coração”. Outra
dizia: “se ele escutasse meu coração!” outra mais pensava! “eu posso perceber
que você anda sempre chorando. “Deus te abençoe” “muita felicidades” ...”Queria
ser seu ombro amigo.” Outra: “você vai ficar sempre na minha mente. Se pelo
menos me escutasse!” Mas ele saía sem disso sequer dar-se conta. Parte para sua
casa. Difícil é penetrar na sua mente em cada instante. Por vezes parecia
alheio a tudo, mas sem vacilar caminha e, quando é cumprimentado, cumprimenta
as pessoas. Seu gosto diverso dificulta qualquer possibilidade de uma previsão.
Seu celular toca e ele atende. Diz: “Obrigado! Foi um prazer!” Ou termina com
um sorriso. Caminha e observa o céu já escuro, que apesar da incandescência
artificial, observa o natural. La longe, uma estrela. Seu brilho o chama a ela
se juntar. "somos da mesma matéria" diria a estrela para que ele não
tirasse lhes os olhos. Ele responde: "eu sou. não posso ser o que não
sou”. Mas ela responde: “Você pode vir a ser o que sempre foi." Ele tira o
olhar. Um cachorro corre em sua direção latindo. Ele então ouriça os pelos do
corpo que o faz parecer um macaco evoluído. Da uma olhada para o cachorro e
diz: “calma parceiro!” um amigo passa e pergunta: “O que é o homem? Ele
responde: ”É razoável que tenhamos fé na Razão.” O amigo, enquanto medita, ele
segue seu caminho. Em casa, uma mulher lhe pergunta:
- Isso são
horas!?
- O que é
hora? – Pega uma toalha, banha e vai deitar.
"Quero
tocar seu rosto, ter você só meu. Para mim uma noite com você será sempre sem
fim. E se o fim existe, quero ser sua existência." Lia em seu celular uma
mensagem. "Eu não posso viver sem amar sem senti?" respondia.
"Dou-te a minha vida como prova de amor, mas só não me faz sofrer e não me
diga que esse sonho um dia acabou. Deixa pelo menos eu ter esse sonho lindo com
você!" - Recebia o retorno da mensagem. Então ele se vira no travesseiro,
e novamente consegue dormir. Então sonha. Conecta-se ao um mundo virtual tão
real quanto o da vigília. Caminha em direção ao rio com um anzol na mão. Tudo é
muito real. Após
pegar alguns peixes sentou-se no tronco de uma árvore. Lembrou de dona
Francisca. Rezadeira profética que sempre consultava. Havia deixado de visitá-la.
“você é o escolhido”. Aquela frase não
saía da lembrança. “vi essa frase no filme Matrix. Lembro muito bem quando o
Senhor dos sonhos, Ópio, pronunciou essa frase a um jovem rapaz de nome Novo. –
ficou pensando um pouco. Pegou ao lado uma folha e começou a mastigar. “deixa
ver se entendi” pensou um pouco. “Ópio é pai de Morfina e Morpheu e, este
último o sucedeu; tendo assim por herança o dom do pai por hereditariedade” - lembrava.
Olhou o céu iluminado. Poucas nuvens faziam no céu um rebanho de ovelhas.
Pensou que Jesus cristo pudesse descer naquelas nuvens que aos poucos iam
cobrindo a estrela maior, infinita. Estava com trinta e cincos anos. Seus
cabelos lisos compridos, com alguns fios aproximando dos olhos castanhos, começavam
a esmaecer como aquelas nuvens. Era alto e magro. O rosto rosado fazia dos
olhos castanhos uma piscina. Aquela calmaria fez lembrar-se do movimento da
cidade. Pessoas vão e voltam. Cada um, um universo. Fora chamado de louco. Uma
lagartixa cava sua morada. Um bem-te-vi gorjeia em uma cerca de arame farpado.
A vida mostra seu segredo em um rebanho de gado. Um touro fecunda uma vaca,
outra da cria no mesmo instante. Lembrou de Sofia. Como a conheceu naquele
lugar. A pergunta lhes feita que o fez calar-se. O sono anestesiou-o. Cansaço.
Dormiu. Sonhou que sonhava. E novamente, via a realidade nua e crua. Sonhou.
Sonhou que uma bela mulher lhe passava as mãos nos cabelos. Fazia-lhe cafuné.
Ela colocou as duas mãos em sua face. Aproximou sua boca na dele com suavidade
e refrescância. Abriu os olhos, olhou em volta. Caminhava no espaço. A mulher
caminhava a seu lado no vazio do espaço. Descrever-la não me é possível. Não
consigo ver-la com nitidez. É como se ela fosse uma pintura da pura
surrealidade. Via-se todo o universo na
sua infinitude.
Deixo aqui: - o sonho que eu chamo-o de ultra-sonhos.
Se é que eu posso criar um neologismo capaz de definir uma subida ao terceiro
sonho – para da voz aos personagens sonhadores.
ULTRASSONHO
Onório
– Um anjo! Um demônio! Estou sonhando?”O homem é
imortal?" Então Deus existe?
O Ser
"– Descubra por si mesmo! -
Diz uma voz rouca e sonora
- Mesmo que diga que nem a
esperança, nem o medo, crença, negação, podem mudar os fatos. Que diga que as
coisas são como são, e serão como deverão ser, digo que é preciso que tenha
esperança. A esperança é tão essencial para vida como o ar e a água. É preciso
esperança para vencer. A esperança é gerada quando se tem propósitos.”
Onório de
pronto respondeu puxado um revolver e apontando para onde vinha a voz pois já
não via mais ninguém. Enquanto falava as imagens iam passando como em uma tela
gigante de cinema a sua frente em slide. Como em um sonho ultra-surreal, Ele
estava também dentro das imagens que passavam, mas como um observador. Nada
podia fazer para mudar os fatos, mas tinha desejo. Explico: é como se alguém
dormiu e sonhou, mas nesse sonho ele dorme e tem um sonho dentro do seu real
sonho. Nesse sonho ultra-surreal ele ver a vida humana sendo passada de acordo
com o fato que citava. A resposta de Onório foi um discurso surpreendente, pois
era dono de uma força de expressão admirável. No mais era sempre contundente e
quase nada que o homem criou, até agora, ele não tritura. Devo alertá-lo, meu
caro leitor, que Onório, às vezes, é rebelde. E você é livre para parar de
continuar a leitura agora. Você fica como estar. Mas se continuar, saiba que
não vai ter mais como voltar. Você tem que escolher. Eu mostro a entrada do
labirinto e digo que a rosa-de–vento é a saída, mas você é quem deve entrar e
sair. Mas se já está aqui, é porque vai prosseguir. Algo sobre Onório? Claro!
Deus da pura
beleza não me deixe sem digitais, sem alento e destreza por usar a língua
portuguesa, em míseros panfletos e jornais.
Hó, deus que ao sino badalo, não deixe escorrer pelo
ralo o fruto de meu trabralho, pois tudo esculaxo, enchir minha mão de calo,
mas ainda devo a esculápio um galo.
Ateísta era rotulado Onório constantemente. Um rótulo que na verdade não se
encaixa naquilo em que hoje ele pensa e acredita embora tenha sido uma fase
pela qual ele passou e que foi bastante interessante ainda que nem sempre
agradável devido aos inúmeros preconceitos. A trajetória até ele alcançar a
conscientização de ateísmo não foi uma viagem corriqueira e sim uma longa
jornada com a duração de quase uma vida. Ateísmo é apenas um rótulo teísta. As
impressões gravadas durante uma infância, e principalmente na adolescência,
submetidas a uma rigorosa disciplina católica nunca poderiam ser deletadas com
um só comando. Essa referencia que faço
é que, freqüentemente, demonstra como uma pessoa religiosa enxerga o ateísmo. “Este
tipo de lamentação pretende associar a moral com a crença em um Deus, como se
ao longo de mais de cinco mil anos a civilização humana não tivesse presenciado
tantas imoralidades em nome de Deus”. E Onório sabia disso. Mas o pior é que o
ateísmo pode vir a ser uma religião. Então tudo será como sempre foi. Mera
opinião que compartilho em quase tudo. Sendo assim ele fala sem nada temer:
Onório
- Para que esperança? Esperança é
uma ilusão. Convicto tornei-me da
natureza universal. Convicto de que todos os deuses e fantasmas são mitos que
entraram na minha mente, na minha alma, em cada gota do meu sangue, o senso, o
sentimento e a alegria da liberdade. Fugi da prisão quando os muros racharam.
Livre agora estou. A luz invadiu as masmorras e a tristeza deu lugar à alegria.
Pó foi o que restou às travas, as algemas, as barreiras. Um servo, um servente
ou um escravo, nada mais disso sou. Sem mestres estou nesse gigantesco mundo.
Nesse espaço infinito. Estou livre. Penso livremente em um ideal de vida e
amor. Rejeitei toda e qualquer crença cruel e ignorante digitado em todos os
"livros sagrados" que selvagens ignorantes e estúpidos do passado
produziram. Livre de todas as bárbaras lendas do passado, livre de papas e
padres, de todos os "chamados" e dos "excluídos", dos erros
santificados e das mentiras santas, do medo de sofrimento eterno, dos monstros
alados da noite, de diabos, fantasmas e deuses. Pela primeira vez sou livre.
Não há lugares proibidos em qualquer recanto da minha mente. Não há lugar que a
imaginação não possa atingir com suas asas coloridas. Nenhuma algema me
prendendo. Nenhum acoite nas minhas costas. Nenhum fogo na minha carne, nenhum
mestre me encarando nem ameaçando, nada mais de seguir os passos dos outros,
nenhuma necessidade de me curvar, ajoelhar ou rastejar, ou expressar palavras
mentirosas. Estou livre. Coloco-me de pé e sem medo e alegremente, encaro o
mundo. E então, meu coração é preenchido de gratidão, com a paixão por todos
aqueles heróis, os pensadores, que deram suas vidas pela liberdade de mãos e
cérebros, pela liberdade de trabalho e pensamento, por aqueles que tombaram nos
campos cruéis da guerra; aqueles que morreram nas masmorras, acorrentados; aqueles
que subiram orgulhosamente os degraus do patíbulo, aqueles acoitados no
pelourinho, aqueles cujos ossos foram esmagados, cujas carnes foram feridas e
rasgadas; aqueles que foram esquartejados e lançados seus membros nos recantos
do país, por aqueles consumidos pelo fogo, por todos os bravos, sábios e bons
de todos os países, cujo saber e ações resultaram em liberdade para os filhos
dos homens. Não de deuses. Quando me dispus a segurar a tocha que eles
acenderam e a ergui no alto, aquela chama pôde ainda iluminar a escuridão. Vou
ser verdadeiros para mim mesmo. Verdadeiro para os fatos que conheço e, acima
de tudo, preservar a veracidade de minha alma. Se há deuses, não posso
ajudá-los. Mas poço ajudar meus semelhantes. Não posso amar o inconcebível, mas
poço amar minhas companheiras, filhos e amigos. Poço ser tão honesto quanto
ignorante. Se o que há alem do horizonte do desconhecido for me perguntado,
direi que não sei. Eu posso dizer a verdade. A liberdade que os bravos
conquistaram, posso gozar. O monstro da superstição posso destruir. A serpente
silvante da ignorância e do medo posso destruir. As coisas assustadoras que
dilaceram e ferem com bicos e garras, posso afastar de minha mente. Civilizar
nosso semelhante posso. Posso preencher a minha e sua vida com ações generosas,
com palavras carinhosas, com arte e música e todo o êxtase do amor. Inundar
nossos anos com o brilho do sol posso. Posso, com o clima da candura, beber até
a última gota do cálice dourado da felicidade. Posso olhar a natureza e entender
seus mistérios. Isso posso." – Quando terminou de falar percebeu que nada
via mas não era noite nem o dia, era invisibilidade. Já havia passado por uma
situação dessas em que teve pavor de abrir os olhos e temer não por ver a mais
assombrosa imagem, mas por nada ver.
Botou a arma no ombro e caminhou naturalmente no espaço branco que aos
pouco ia de decompondo e dando formas diversas em diversas cores. Olhou um
prédio com um corredor com varias portas. Foi até o meio do corredor sem saber
que porta entrar. Parou olhou para trás, olhou para a porta a sua frente e
entrou. A porta desapaceu a sua costa. Ao longe viu um casal de velhos colhendo
arroz. Aproximou-se. O casal olharam o por um instante, mas voltaram a colher
arroz.
- Bom dia! - Saudou Onorio.
- Bom diaaa! - Responderam em uníssono. Ele continuou andando sobre o
olhar do casal. Uma fonte de igarapé com alguma manchas de capa rosa e algumas
palhas de arroz. Fez uma onda para afastá-lo e bebeu filtrando a água com a
camisa. Molhou toda camisa e vestiu. O sol do meio dia cortava o equador.
Sentiu fome. Com um tiro certeiro derrubou uma curica do bando. Pegou umas
palhas de milho e com um isqueiro fez um fogo e assou e comeu o pássaro na
sobra quase que própria de uma arvore morta pelo fogo. Andou até uma cidade.
Entrou em um supermercado. Pegou um cerveja, pagou e saiu. Avistou o prédio de
novo. Foi em sua direção. Entrou logo na primeira porta a esquerda. A porta
sumiu novamente. Era o show do RPM. Sabia que toda porta ia da em algum lugar.
Gostava de brincar com Alice seguindo o coelho. Leu Coraline de Neil Gaiman.
Pois sabia que não a porta que não da a lugar algum. Uma mulher lhe chama. Da
uma olhada e segue-a. ela o leva a seu apartamento. Toc... toc ... ele abre a
porta, um homem o empurra e começa discutir com a mulher. Ele sai, enxerga o
prédio. Entrou na primeira da direita. Estava em um culto de oração protestante
do cristianismo. O pastor convida há
todos os presentes para ouvir a palavra de um senhor que era dono de suas
vidas. Pois ele era muito bom por lhes ter lhe dado a vida, mas na verdade cobra
a como se fosse um dívida. Tudo que queria é que o adorasse dobrando o joelho.
Onório pensou em ficar e combater esse senhor tão injusto. Mas viu que muitos
não sabia mais viver sem isso. E libertá-los seria a sua morte. Poucos se
adapitaria a uma nova realidade. Então o Senhor já os dominava de forma tal que
a liberdade é sinônimo de ... quem permanecesse ali veria um morto que
ressucitou vindo buca-los para um lugar melhor do que aquele. Pensou que
pudesse ficar e ver o truque e desmascara o charlatão. Acabar com essa
brincadeira engando pessoas por eles criadas robóticamente. Estendeu a mão e o
prédio apareceu. Entrou em outra porta. Era o inferno. Viu Martim Lutero e
Martim luter King sendo queimado na fogueira por heresia e promover o
anarquismo. Viu um ladrão dando esmola a um cego. Viu um cego guiando um
cachorro. Havia um movimento. A lugar estava um auvorosso. Estavam crussificando
o Deus por mal administração. Não tinha
fogo para todos. Faltava espeto para a carne do churrasco. Estendeu a mão.
Entrou em outra porta. Era o céu, o diabo balançando em uma rede. Sozinho, mas
com uma diabinha lhe cariciando. Tinha levado um pouco do fogo infernal. O
cheiro do churrasco atraiu a atenção dos amigos que aos poucos vinham se
aproximando. Fazia, após um gole, brindava com Maquiavel a invenção de Baco. O
químico da saúde. Apolo afiava seu acorde. E para animar o amor maldito,
cantava. Rosana: “como uma deusa você me mantem e as coisas que você me diz me
leva alem” . e dividam o amor e o poder. Formavam um belo casal. Heitor
presenteava Aquiles com um alazão. Dante escrevia uma comédia. Paulo de Tarso
pregava o absurdo. O Corvo ensinava seus
filhos a escrever a melhor poesia. Foi lhe concedido uma ilha onde a prodiga
terra, nesse paraíso, tudo produzia. onde poderia viver sem trabalhar com era
de seu desejo. O seu trono não era mais ameaçado por sua prole. Era amigo do
corvo. Uma amizade eternizada que dali não sai jamais. – estendeu a mão e
entrou em outra porta. Viu com uma
distribuição equânime da igualdade, mas como a necessidade de que cada um
reconheça o seu lugar na sociedade segundo a natureza das coisas e não tente
ocupar o espaço que pertence a outrem.
Neste
lugar, não é justo dar a cada um o que
lhe é devido, não é justo dar ao amigo o que não lhe é adequado e prejudicar
inimigos, não é justo, também, salientar, apenas o interesse do mais forte.
a
justiça é boa, por causa dos efeitos que ela faz surtir na alma. Pelo
fato do homem não ser auto-suficiente, ele precisa manter uma relação de
reciprocidade e, no caso do Estado justo, ao ser humano impõe-se a plena
responsabilidade pela justiça, onde os homens justos vivem em confiança
recíproca e eles são reciprocamente dependentes. Agindo desta forma, não há
oposição entre indivíduos e Estado, eles se completam e devem auxílio mútuo, onde
tudo gravita em torno da justiça. Por causa da sua tarefa ordenadora, ela é a
virtude cardeal. Ela responde pela ordem social e da alma. Desta forma, A
justiça como uma virtude cardeal, diz respeito à própria vida da alma.
Nestas
circunstâncias, A Repúblicaé uma teoria racional do Estado. Assim, Platão quer
conhecer e formar o Estado perfeito para poder conhecer e formar o homem
perfeito. A justiça é boa, por causa dos efeitos que ela faz surtir na alma.
O dialogo aqui é alternado e que toma a palavra é
o Ser.
- você sabe quem sou?
- Não.
- Sou Deus.
- O que é Deus?
- Você quer saber quem sou eu? Eu estou em toda parte. Você não conhece
a verdade. O mundo que você acredita ser real é uma ilusão. Isso é dado para
não perceber a verdade.
- Que verdade?
- Você é um escravo, por Platão! És como todos. Vive no mundo da caverna. Você não
ver nada além dessa caverna. Esse é o seu mundo. Você não consegue usar seus
sentidos. Sua mente está presa.
- Essa é a verdade?
- Nada do que você ver é verdade. A matéria não existe com suas formas.
É sua mente que dá forma. Eu tenho um inimigo que controla sua mente levando ao
um niilismo e você fica sem saber quem é o criador e a criatura. É preciso que
tenha fé.
- Se fé pudesse tornar algo imaginário em realidade,
eu viveria o melhor mundo possível. Dizem que criaste tudo. Que Jacó não-o
temeu. Que tudo fez e tudo pode. Inclusive destruir essa criação sua e fazer
uma melhor ou mais pior, ou, até mesmo, fazer um igual. Isso realmente é uma
coisa impossível. O mundo e tudo que
nele existe foi criado por você, a racionalidade humana é obra sua, que reúne
essência e existência, detendo toda a sabedoria, criando tudo a sua imagem e
semelhança, portanto tudo que foi criado por você é belo, como explica bem o
livro que você mandou escrever.Guerras? Fome? Violência? Discriminação? Abuso
de poder? Diferença social? Tudo isso então é obra do todo poderoso que é você,
senhor do céu e da terra? Tudo isso é obra sua? Mas por quê?
– por que me
pergunta aquilo que já sabe da Resposta?
- resposta?
Não sei nem qual foi a pergunta!
- que graça há
em conversar com alguém quando ele já sabe o que vou perguntar? Fazer um mundo
melhor, igual, ou pior, não é possível sem você.
Onório ficou observando. Olhando para os
lados. Não sabia onde estava. Só sabia que tudo era muito real. Pessoas passavam
de repente na sua frente com perfumes de odores diferentes e seus sentidos distinguia
a todos. Olhou uma taça com um liquido escuro. Um homem a ergueu e sentiu o
cheiro de um doze anos. Seus olhos não tirava as propriedades físicas da
matéria com o espaço. não entendia como foi acontecer isso com ele. Não
lembrava de ter vivido antes, mas aquilo não lhes era estranho. Começou sentir
medo. Tremia, mas não sabia de que. Um homem toca em seu rosto e ele acorda.
Aliviado ele cai na risada.
- a quanto
dormi? Pergunta ao filho que lhe tinha tocado o rosto enquanto dormia. Ele
então responde:
- cuxilou três minutos.
- Três
minutos? É realmente faz três minutos que deitei. Esbolsou um sorriso. – o
rapaz se afasta e ele começa a olhar em volta. Tudo real. Mas esteve dormindo
três minutos, mas parecia ter sonhado um dia. Pensou em fazer para dormir e ver
o mesmo sonho. Fechou a porta do quarto e tomou diazepan. Ele estava novamente onde
parou. Um onde todos os sentidos são aguçados.