sexta-feira, 20 de abril de 2012

Jesus da aula na escola pública


O sermão da montanha
Naquele tempo, jesus subiu a um monte seguido pela mutidão e, sentado sobre uma grande pedra, deixou os seus discípulos e seguidores aproximarem-se.
Ele os preparava para serem educadores capazes de transmitir a lição da boa nova a todos os homens.
Tomando a palavra disse-lhes:
- em verdade, em verdade vos digo: felizes os pobres de espirito, porque deles é o reino do céu. Felizes os que tem fome e sede de justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos porque eles...
Pedro interrompeu.
- mestre, vamos ter que saber disso de cor?
André perguntou;
- é pra copiar?
Filipe lamentou:
Esqueci meu papiro!
João levantou a mão:
Posso ir ao banheiro?
Judas Iscariotes resmungou:
- vai valer ponto?
Jusdas tadeu defendeu-se:
- foi o outro judas que perguntou!
Tomé questionou:
- tem uma formula pra provar que isso tá certo?
Tiago Maior indagou:
O que é que vou ganhar com isso?
Tiago menor reclamou:
Não ouvi nada com esse grandão na minha frente.
Simão Zelote gritou, nervoso:
Mas por que é que não dá logo a resposta e pronto?!
Mateus queixou-se:
- eu não entendi nada, ninguém não entendeu nada!
Um dos fariseus, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem ensinado nada a ninguém, tomou a palavra e dirigiu-se a Jesus, dizendo:
- isso que o senhor está fazendo é uma aula? Pois onde está o seu plano de curso e a avaliação diagnóstica? Cader os objetivos gerais e os específicos? Quaia são as suas estratégias para a recuperação dos conhecimentos prévios?
Caifás emendou:
- o senhor fez uma programação que inclua os temas transversais e as atividades integradoras com outras disciplinas? E os projetos? E os espaços para incluir os parâmetros curriculares gerais? O senhor, também, elaborou os conteúdos conceituais, processuais e atitudinais?
Pilatos, sentado lá no fundão, disse a Jesus:
- quero ver as avaliações da primeira, segunda e terceira etapas e reservo-me o direito de, ao final, aumentar as notas dos seus discípulos, para que cumpram as promessas do imoperador, de um ensino de qualidade! Nem pensar em números e estatísticas que coloquem em duvida a eficácia dos nosso projeto! E ver se não vai reprovar ninguém!
E foi nesse momento que Jesus disse: “senhor, por que me abandonastes... ?”

A arte da palavra




Pausa
                                                                         Mário Quintana


Quando pouso os óculos sobre a mesa para uma pausa na leitura de coisas feitas, ou a feitura de minhas próprias coisas, surpreendo-me a indagar com que se pareceóculos sobre a mesa.
     Com algum inseto de grandes olhos e negras e longas pernas ou antenas?
    Com algum ciclista tombado?
    Não, nada disso me contenta ainda. Com que se parece mesmo?
    E sinto que, enquanto eu não captar a sua implícita imagem-poema, a inquietação perdurará.
     E, enquanto o meu Sancho Pança, cheio de si e de senso comum, declara a meu dom quixote que os óculos sobre a mesa, além de parecerem apenas uns óculos sobre a mesa, são, de fato, um par de óculos sobre a mesa, fico a pensar qual dos dois ­­ ­- dom quixote ou Sancho? – vive uma vida mais intensa e prtanto mais verdadeira...
    E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade da recriação das coisas em imagens, para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida.
     Esse enigma, eu passo a ti, pobre leitor.
    E agora?
    Por enquanto, ante a atual insolubilidade da coisa, só me resta citar citar o dilema de Stechetti:
Io sonno um poeta o sonno um imbecile?”
     Alternativa, aliás, extensiva ao leitor de poesia...
    A verdade é que a minha atroz função não é resolver e sim propor enigmas, fazer o leitor pensar e não pensar por ele.
    E daí?
- Mas o melhor – pondera-me, com a sua voz pausada, o meu Sancho Pança -, o melhor é repor depressa os óculos no nariz.

MÁRIO QUINTANA
(1906-1994)
Poeta sul-riograndense. Buscando sempre uma poesia simples e despojada, publicou mais de uma dezenas de livros, entre os quais se destacam:  A rua dos cata ventos (1940), Espelho mágico (1948), O aprendiz de feiticeiro (1950), Caderno H (1976), apontamento de história sobrenatural (1976), A vaca e o hipogrifo (1977) e escoderijos de tempo (1980).
Dom Quixote e Sancho Pança – personagens da novela Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, escritor espanhol do século XVI. As duas personagens representam os dois lados da alma e do comportamento de todo ser humano: Dom Quixote é o simbolo do idealismo, do sonho, da imaginação, do espirito de aventura...; Sancho Pança, do realismo, do espírito prático, dos interesses imediatos...
Stechetti – pseudônimo do escritor italiano Olindo Guerrini (1845-1916).
Nesta pequena crônica, Mário Quintana reflete sobre suas atividades de escritor e de leitor de poesia. O tema do texto é colocado de maneira direta e, aparentemente, até simplista: escrever e ler poesia não é uma grande perda de tempo? E, radicalizando, pergunta com Stechtti: escrever e ler poesia não é uma imbecilidade?

SENSO COMUM – Ideias amplamente aceita em uma época: opiniões contrarias são vistas como absurdas e aberrantes.
BOM SENSO OU SENSO CRÍTICO – Capacidade de discernir, sem preconceitos, o verdadeiro do falso.
SENSO POÉTICO OU ARTÍSTICO Maneira especial e original de ver a realidade.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O princípio é o infinito (Anaximandro)

O PROBLEMA: qual é a origem do mundo... existe um principio primordial do qual derivam todas as coisas...
A TESE: Com notável avanço intelectual em relação a Tales, Anaximandro identifica o arché não mais em um elemento natural, mas no ápeiron, termo grego que indica o ilimitado, o infinito, uma realidade primigênia e diferenciada, sem limites e sem fronteiras. provavelmente, o raciocínio que o levou a essa conclusão é a seguinte: cada parte do universo é resultado de uma oposição entre forças antagônicas ( a terra, a água, o ar, o fogo) - ou seja, todos os elementos naturais são efeitos (em uma situação de momentâneo equilíbrio) de pares opostos: o quente opõe-se ao frio, o seco opõe-se ao úmido. Mas também o cosmo, em seu conjunto, deve ser produto de um antagonismo fundamental; e como o universo se mostra definido, limitado, determinado em cada um dos seus componentes, deve-se pensar que ele se tenha originado e seja sustentado por um principio diametralmente contrario: o ápeiron.

   Anaximandro - filho de Praxíades, sucessor e discípulo Tales - utiliza pela primeira vez o termo princípio e afirma que o infinito é o principio e o elemento dos seres. Diz, ainda, que o princípio não é a água como queria Tales, nem qualquer outro dos chamados elementos, mas uma outra natureza infinita, da qual provêm todos os mundos que nele existe. (Citado por Simplício.)

O princípio é a água (Tales)

PROBLEMA: Qual é a origem do mundo... Existe um principio primordial ( arché) do qual tudo deriva...

TESE: Segundo Tales, o princípio primordial deve ser identificado na água. a resposta pode parecer insatisfatória, mas sua importância reside no fato de que pela primeira vez na história do pensamento busca-se uma solução racional, não mais mítico-fantástico, dogmático, doutrinário, religioso. Isso pode ser confirmado pelos motivos expostos por Tales: as sementes, como todos os alimentos são úmidas.
Conhecemos o pensamento de Tales somente por meio de testemunhos deixados por outros filósofos. entre esses, destaca-se Aristóteles, que dedicou as primeiras páginas de sua obra Metafísica a um breve resumo sobre os pensadores que o precederam.

    As primeiras filosofias eram naturalísticas, ou seja, buscavam uma explicação exclusivamente natural para os fenômenos naturais. então, para a maior parte daqueles que filosofaram pela primeira vez pensava que o principio de todas as coisas era somente de ordem material. de fato, eles afirmam que aquilo de que todos os seres são constituídos, do qual se originam e no qual se extinguem é elemento e princípio dos seres, pelo fato de constituir uma realidade que permanece idêntica mesmo na transformação das sua afeições... Por esse motivo, acreditam que nada é gerado - de fato nada é gerado, nada é criado, mas tudo é transformado e somente isso. isso é fato - e nada é destruído - de fato não se pode destruir, dá sumisso nem mesmo ao menor átomo, e, portanto, o que não pode ser destruído também não pode ser criado - posto que tal realidade se conserva sempre.

                                     O arché é o princípio, aquilo que permanece em transformação

     não costumamos falar que Sócrates é gerado, em sentido absoluto, ao se tornar belo ou músico, muito menos dizemos que ele morre ao perder essas características. Pelo simples fato de o substrato (nesse caso, o próprio Sócrates) continuar existindo, tambem devemos dizer que não se corrompe, em sentido absoluto, nenhuma das outras coisas: efetivamente, deve haver alguma realidade natural (só uma ou mais que uma) da qual derivam todas as outras, enquanto aquela continua a existir, imutável.


      As argumentações de Tales baseiam-se na observação e no raciocínio.

  entretanto, esses filósofos não estão de acordo quanto ao número e á espécie de tal princípio. Tales diz que esse principio é a água (por isso, afirma que a Terra flutua sobre água), essa convicção da constatação de que o alimento de todas as coisas é úmido, e de que até mesmo o quente é gerado do úmido e vive no úmido. Ora, aquilo do qual todas as coisas são geradas é, justamente, o princípio de tudo, e a água é o principio da natureza das coisas úmidas.

Os Milésios: Tales, Anaximandro, Anaxímenes

     Nas primeiras páginas de Metafísica, resumindo as doutrinas dos pensadores gregos que o precederam, Aristóteles afirma que Tales e o os seus discípulos de Mileto, Anaximandro e Anaxímenes, foram os primeiros filósofos, porque enfrentaram racionalmente - e, portanto, sem recorrer a uma explicação mítica, ou seja, religiosa. o problema do princípio primordial ( arché, em grego), do qual deriva tudo. É evidente que tal progresso da espiritualidade humana não pode ter ocorrido de uma unica vez. Por isso, a afirmativa de Aristóteles deve ser entendida como uma precisa definição da filosofia, porque localiza a essência do novo estilo de pensamento não na originalidade dos problemas, mas nos processos utilizados para se chegar a uma resposta. A filosofia, em resumo, tem início quando o pensamento se torna racional, seja no sentido de procurar acompanhar processos lógicos, seja no sentido de encontrar na realidade provas que sustentem as afirmações produzidas. E por mais que hoje nos pareçam pobres, as respostas de Tales e dos Milésios, pela sistemática recusa ao provável e ao fantástico, já são totalmente racionais.
    A história da escola filosófica de Mileto, hoje uma cidade da Turquia, está ligada aos acontecimentos políticos na Ásia Menor entre os séculos VI e IV a.C. Depois de beneficiar-se de sua localização, favorável ao comercio, e de experimentar um grande desenvolvimento socioeconômico e tecnológico, Mileto foi ocupada pelos persas e várias vezes destruídas, o que determinou o fim da sua escola filosófica.
    Apesar do grande volume de relatos, não sabemos muita coisa a respeito de Tales (cerca de 624-545 a.C.). A sua figura, efetivamente, está condicionada ao fato de ele ser o primeiro de uma série de filósofos e de sua imagem corresponder ao esterótipo que faz desse tipo de pensador: Tales é observador da natureza, o inventor genial, político empenhado na luta contra os persas, além de geômetra, astrônomo e um observador do céu tão atento a ponto de distrair-se e cair em um buraco de rua. Dessa forma é fixada a imagem do filósofo que, de tão absorto em profundas reflexões, não tem mais condições de enfrentar a vida cotidiana.
   aparentemente, Tales nada escreveu, mas resta um fragmento dos pensamentos de Anaximandro (cerca de 610-547 a.c.) e de Anaxímenes ( cerca de 596-525 a.C) cuja contribuição se limita a oferecer uma resposta diferente ao problema apresentado por Tales.