Heráclito
O princípio é o fogo (ou o dinheiro)
O PROBLEMA – qual
a origem de tudo? Existe mesmo um princípio fundamental em que tudo deriva? Já
vimo aqui que os Milésios, ou seja, aqueles filósofos da escola de mileto
buscaram responder essas perguntas: Tales na água; Anaximandro no infinito;
Anaxímenes no ar.
Mas Heráclito não é de Mileto, mas de Éfeso ( Éfeso é uma
colônia ateniense localizada na costa da Lídia)
Membro de uma família aristocrática – talvez descendente de
antigos reis -Heráclito sempre mostrou grande desprezo pelas massas e pelos
princípios democráticos, mesmo morando em uma cidade como Éfeso dominada pelo
partido popular. Distante da atividade politica, ele se manteve em altivo
isolamento e em oposoção ao resto da sociedade. Essa postura transparece em
seus escritos, especialmente quando contrapõe os melhores homens à maioria, como sugere uma de suas máximas
célebres: um homem vale mais do que dez
mil se for o melhor.
O seu comportamento às vezes contraditórios talvez explique
algumas extravagancias, a começar pela estranha forma com o qual – aos 60 anos,
de acordo com a tradição – resolveu matar-se : devorado por cães na praça
publica de Éfeso, depois de ter-se coberto por esterco. Mas, com certeza, sua personalidade
justifica o estilo intencionalmente obscuro dos seus escritos ( tanto que foi
apelidado de o obscuro). Escrever,
para Heráclito, significava gravar frases curtíssimas, concisas, aforismos tão
profundos quanto ambíguos, sobre finas laminas de ouro que depois ele mesmo
depositava no cofre do templo citadino, ordenando aos sacerdotes que só
tornassem públicos o seu conteúdo após a sua morte. Portanto, em certo sentido,
quis ser um filosofo póstumo, recusando-se a falar aos pobres compatriotas (
que, sem meio-termo, definia os adormecidos)
para dirigir-se a humanidade do futuro.
Provavelmente, foi ao refletir sobre a própria existência
que ele elaborou sua doutrina mais conhecida, que pode ser resumida na formula pánta rheî: “tudo flui”. De fato Heráclito
permaneceu na história como o filósofo no devir, mas a crítica contemporânea
já demostrou que essa intepretação é redutiva: sob as aparências mais mutáveis,lel
entrevê uma lei, um princípio unitário. Essa lei de interdependência dos
contrários, segundo a qual cada par de opostos forma uma indivisível unidade, é
o logos, a razão que governa todas as
coisas. Mas os homens, em sua maioria, são incapazes de ouvi-lo.
A TESE:O arché, o principio gerador da realidade,
consiste no fogo. De fato, tudo se origina no fogo e no fogo todas as coisas se
tr4ansformam. Em certo sentido, a resposta de Heráclito parece aproximar-se
daquela formulada pelos pensadores de Mileto, que já haviam identificado o
principio fundamental em um elemento material. No caso de Heráclito, o fogo
constitui mais uma metáfora do que um elemento natural especifico, e isso é
demostrado na comparação com o dinheiro: pela sua capacidade de transformar uma
coisa em outra, o fogo pode ser substituído pelo símbolo do dinheiro, que, por
sua vez, é capaz de trocar uma mercadoria por uma outra qualquer.
Essa ordem universal, que é a mesma para todos, não foi
criada por nenhum dos deuses ou homens, mas foi e será fogo, constantemente vivo
que sempre se acende ou se apaga na justa medida.
Todas as coisas podem ser transformadas em fogo e o fogo
pode se transformar em todas as coisas, do mesmo modo que se troca o dinheiro
por todas as coisas e todas as coisas são trocadas por
dinheiros.
Por isso o mendigo pede uns trocadinhos.