Deus errou por não usar outro
meio senão a linguagem escrita para se comunicar com um povo analfabeto,
inculto, obtuso e rude. Devia mesmo era ter ensinado os códigos linguísticos em
primeiro lugar; dado incentivo a construções de escolas em vez de igrejas.
Cláudio Fontana
A Bíblia deve ser interpretada
O PROBLEMA que valor se deve atribuir a Bíblia? Pode existir oposição entre ciência e fé?
A TESE em princípio não deveria existir discrepância entre as
palavras dos profetas e as observações científicas, posto que tanto a Bíblia como a natureza são obras do mesmo
Criador para quem segue o criacionismo.Porem, a discordância pode existir, sim,
uma vez que a Bíblia não é um tratado de astronomia e, além disso, os profetas,
para se fazerem entender, deveriam levar em conta o nível cultural de seus
interlocutores (leitores). Donde se conclui que a Bíblia deve ser oportunamente
interpretada, distinguindo o significado real do literal. Ao contrario, a
natureza, para quem tudo é Deus, é um livro criado por este também e não pode
da origem a mal-entendidos. Aliás, longe de minha impessoalidade, não há nada
na Bíblia que não se pode mostrar o contrario. Deus devia está bêbado quando a
digitou. mas a natureza não tem erro, exceto anomalia. Não é a ciência que deve
adaptar-se a Bíblia, mas a sua interpretação que deve se adaptar as teorias
científicas. O texto que se segue é parte de uma carta enviada por Galileu a
Benedetto Castelli, o seu discípulo predileto. Na verdade, não se trata de um
documento particular, pois, para discutir o delicado problema das relações
entre ciência e a fé – de grande atualidade depois das descobertas astronômicas
produzidas pelo telescópio -, Galileu voluntariamente escolheu o gênero
literário epistolar (cartas), seja porque era menos comprometedor, seja porque
essas cartas, copiadas e amplamente distribuídas no ambiente científico e cultural,
cumpriam o papel hoje desempenhado pelas revistas cientificas.
A BÍBLIA PODE ATÉ CONTER ALGUMAS
VERDADES, MAS PODE SER MAL-INTERPRETADA.
Quanto a questão levantada pela
Sereníssima Senhora, parece-me muito prudentemente ela tenha afirmado... que as
Sagradas Escrituras não podem nunca mentir ou se enganar, sendo sua proposição
absoluta e inviolávelverdade. Eu só teria acrescentado que, se bem que as escrituras
não possam enganar-se, não se pode excluir o caso de se enganarem alguns de
seus interpretes e comentadores, de diversas maneiras.
NEM SEMPRE O VERDADEIRO
SIGNIFICADO DE UMA FRASE COINCIDE COM O SENTIDO LITERAL.
Entre essas maneiras haveria uma
muito grave e frequente: querer ater-se ao significado literal das palavras.
Assim, efetivamente, não só se manifestariam diversas contradições mas também
se incorreria em graves heresias e até mesmo em blasfêmias, posto que seria
necessário atribuir a Deus pés, mãos e olhos, além de sensações físicas e
emoções típicas do homem, como a ira, o remorso, o ódio e até o esquecimento
das coisas passadas e a ignorância das futuras.
OS PROFETAS EMPREGARAM UMA
LINGUAGEM FIGURADA PARA FAZER-SE ENTENDER PELOS SEUS CONTEPORÂNEOS.
Como nas Escrituras existem
muitas afirmações que, atendendo-se as palavras, apresentam um conteúdo
diferente do real, mas que assim saõ formuladas para se adaptar à ignorância do
povo, necessário, para aqueles ppucos que merecem ser separados do povo ignario,
que os comentadores exponham sensatamente o verdadeiro significado e expliquem
igualmente os motivos pelos quais se utilizou uma forma particular para um
determinado conteúdo.
A BÍBLIA NÃO EXPÕE VERDADES
CIENTÍFICAS
Dado que as
Escrituras, em muitas passagens, não só são capazes de transmitir conteúdos
diferentes do significado literal das palavras como têm necessidade de fazê-lo,
parece-me que nas discussões de caráter científico elas deveriam ser deixadas
de lado. (A Bíblia e a
natureza pode até ser obras de Deus, mas primeira pode ser mal compreendida, o
que já seria um erro de Deus escrever para que não saberá nunca ler, mas a
natureza pode ser estudada cientificamente e não existe analfabeto para ler
esse livro.)Portanto, Em caso de controvérsia, é mais razoável confiar nhoque
sugere a natureza.) Visto que as
Sagradas Escrituras e a natureza têm a mesma origem no verbo divino, as primeiras
ditadas pelo Espirito Santo, a segunda obediente executora dos desígnios de
Deus; visto que estamos todos de acordo quanto ao fato de que, nas Escrituras,
utiliza-se uma linguagem para que todos possam entende-las, e que o significado
literal das palavras é muitas vezes diferente da verdade absoluta; visto ainda
que a natureza é inexorável e imutável, e de nenhuma maneira está interessada
na explicação que os seres humanos, com os seus limitados instrumentos, possam
dar aos seus recônditos fins e aos seus modos de operar, porque nunca se afasta
da lei a que está submetida; visto enfim tudo isso, pode-se razoavelmente
concluir, diante daquilo que os fenômenos naturais ou a sensata experiência
colocam diante dos nossos olhos, ou das deduções a que chegamos com rigorosa
experiências, que não existe qualquer motivo para levantar duvidas, contrapondo
trechos das Escrituras que aparentemente sustentam o contrario, posto que toda
proposição das Escrituras não está vinculada à obediência rigorosa de uma lei,
como é o caso dos fenômenos naturais.
MUITAS
PASSAGENS DA BIBLIA OU QUASE TODA ELA DEVE SER INTERPRETADA EM SENTIDO
METAFÓRICO.
Antes, se para
o simples proposito de adaptar à capacidade de compreensão de povos rústicos e
incultos as Escrituras encobriram os seus dogmas basilares, atribuindo ao
próprio Deus condições distantes e contrarias à sua natureza, quem poderá asseverar que,
renunciando aquele proposito, ao falar mesmo que incidentalmente da Terra, do
Sol ou de qualquer outra criatura, elas tenham escolhido ater-se com maior
rigor ao significado restrito e limitado das palavras?
PARA SEREM
COMPREENDIDOS, OS PROFETAS TIVERAM QUE SE ATER AOS CONHECIMENTOS CIENTÍFICOS DA
ÉPOCA.
Ainda mais
porque teriam afirmado a proposito dessas criaturas, coisas muito distantes da
proposição geral das Sagradas Letras, coisas tais que, se apresentadas como verdades
nuas e cruas, inevitavelmente comprometeriam o seu fim ultimo, tornando o povo
mais resistente a receber as mensagens que dizem respeito à salvação divina da
alma.
UMA OBSERVAÇÃO
CIENTIFICA NATURAL É MAIS SEGURA DO A MAIS PERFEITA INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA
Estando as
coisas assim e, além do mais, sendo óbvio que duas verdades não podem entrar em
oposição entre si, é tarefa dos comentadores prudentes empenhar-se em descobrir
o verdadeiro significado dos trechos das Escrituras conforme as conclusões a que
se chega por meio da observação da natureza, e verdadeiras e seguras porque
evidentes para os sentidos ou deduzidas a partir de demonstrações
metodologicamente irrepreensíveis.
EM CASO DE
DIVERGENCIA ENTRE A BIBLIA E A CIENCIA, PREVALECE A OBSERVAÇÃO CIENTÍFICA EM
QUE NEM MESMO O MAIS RUSTICO CRENTE PODE NEGAR.
E mais: posto
que, como eu disse,mesmo se ditadas pelo Espírito Santo, as Escrituras, pelas
razões citadas, apresentam em muitos pontos exposições cujo verdadeiro
significado está muito longe do literal, e, por outro lado, também não podemos
afirmar com certeza que todos os interpretes falam sob a mesma inspiração de
Deus, a mim pareceria mais prudente impedir a quem quer que seja de vincular
todas as passagens das Escrituras como se, em um certo sentido, houvesse a
obrigação de dar respostas verdadeiras aos fenômenos naturais, depois que os
sentidos ou as demonstrações cientificas chegaram a conclusões contrarias. Quem
quer impor limites ao engenho humano? Quem desejará afirmar que no mundo já se
sabe tudo o que existe para saber?...
AS VERDADES
QUE DEVEM SER BUSCADAS NA BÍBLIA SÃO DE TIPO ÉTICO RELIGIOSO.
Sou de opinião
que a autoridade das Sagradas Escrituras tenha se colocado como único objetivo
persuadir os homens acerca de questões que, sendo necessárias à salvação e
transcendendo as possibilidades da linguagem humana, não podiam, por outro
saber ou outro meio, se mostra criveis senão pela boca do próprio Espirito
Santo.
NÃO EXISTE NA BÍBLIA QUALQUER DOUTRINA ASTRONÔMICA.Mas não me
parece que seja crível que Deus – que nos deus o dom dos sentidos, da
inteligência e da linguagem – tenha desejado fazer com que deixássemos de lado
esses dons para nos levar a conhecer por meio de outros instrumentos,
principalmente as ciências, que recebem nas Escrituras um tratamento totalmente
irrelevante e fragmentário. Esse é o caso da astronomia, que aparece de modo
tão sumário que não são apresentados nem mesmo o nome dos planetas. Por outro
lado, se os primeiros escritores sagrados tivessem a intenção de comunicar ao
povo a verdade acerca da disposição e do movimento dos corpos celestes, não
teriam falado pouco a respeito; isto é o mesmo que não dizer
nada sobre as continuas, complexas e admiráveis conquistas que caracterizam a
ciência.