sexta-feira, 29 de junho de 2012

A loucura de Cristo e as dos cristãos


A loucura de cristo e as dos cristãos

O PROBLEMA: Em que consiste uma vida autenticamente cristã? Qual o limite entre a loucura patológica e a estultice do conformista?

A TESE: A irracionalidade nem sempre é negativa e nem sempre as normas sociais são compatíveis com uma vida autenticamente cristã. O mesmo se a distinção é muitas vezes problemática, existem dois tipos de loucura: a primeira é dos poderosos, daquele que reduzem o Cristianismo à observância dos ritos; a segunda é loucura dos cientistas e dos aventureiros que desafiam o desconhecimento por um amor ao conhecimento, é principalmente aquela dos verdadeiros cristãos, que abandonam tudo e às vezes chegam mesmo a transgredir os costumes sociais para imitar a loucura da cruz.
  
O que quer que os mortais geralmente digam de mim, e não ignoro quanta má fama tem a loucura entre os mais loucos, porém, digo que sozinho acalmo com a minha influencia homens de deuses. E a prova mais convincente é que logo que aqui cheguei, diante dessa numerosa numerosa assembleia, todos os rotos imediatamente se iluminaram de nova e insólita alegria, e logo as vossas frontes se desnuviaram, aplaudindo com um sorriso de tão encantadora alegria, que todos os presentes que aqui contemplo me parecem bêbados como os deuses de Homero... quando antes  estáveis sentados, tristes e preocupados, como se estivésseis saído há pouco do antro de Trofônio. ( o filho de Apolo). ( veja que a loucura pode se apresentar com um rosto feliz)
E como acontece quando o Sol mostra à Terra o seu belo rosto dourado, ou como depois de um duro inverno, de novo, na primavera, o zéfiro sopra a suave carícia, num átimo tudo muda de aspecto. O que grandes oradores podem a custo conseguir, com longos discursos longamente meditados, eu obtive num instante, somente com a minha presença: mandastes embora o tormento das preocupações... (veja que a experiência da loucura pode ser fonte de regeneração)
O próprio Cristo, que é a sabedoria do Pai, de uma certa maneira se fez estulto ele mesmo para vir em socorro à loucura humana, quando, assumindo a natureza humana, se apresentou como homem; do mesmo modo que se fez pecado, para nos redimir do pecado.
E então quis nos redimir senão com a loucura da cruz, valendo-se de apóstolos idiotas e obtusos aos quais deliberadamente prescreveu a insipiência, afastando os da sabedoria, chamando-os a seguir o exemplo das crianças, dos lírios, da mostarda e dos passarinhos ( todas elas, coisas estúpidas e desprovida de inteligência, que vivem graças somente à orientação da natureza, sem artificies, sem ansiedade)... A escolha de Cristo, de encarnar-se em um homem também poderia ser uma forma de loucura.
Mas, para não prosseguir ao infinito e para oferecer-vos a essência da coisa, na minha opinião toda religião cristã tem uma espécie de parentesco com a loucura e absolutamente não se dá bem com a sabedoria. Quereis prova? Observai, em primeiro lugar, como aqule que mais encontra prazer nas funções sagradas e em todas as coisa da religião, que se acostam sempre aos altares, são jovens, velhos, mulheres ignorantes. É a mãe natureza que nos impele a isso, é sabido; e nada mais. ( o ritualismos exasperado pode levar a uma forma de loucura).
   Em segundo lugar, vede todos aqueles fundadores primeiros da religião; eles abraçavam uma vida de extraordinária simplicidade e eram inimigos irreconciliáveis da cultura. (pode se dizer com isso que louca também a vida dos profetas).
Finalmente, não existem loucos mais desvairados do que aqueles que alguma vez se deixaram tomar pelo ardor da piedade cristã: dissipando os seus bens, sem se preocupar com as ofensas, deixando se enganar, não distinguindo amigos dos inimigos, tendo horror ao prazer, alimentando-se de jejuns, vigília, lágrimas, labutas e injúrias, desinteressado da vida, não ansiando senão a morte; resumindo, tornando-se, parece, absolutamente insensível ao senso comum, como se o seu espirito estivesse noutro lugar, e não dentro do corpo. E o que é isso senão loucura? Não é de surpreender que os apóstolos parecessem bêbados de vinho doce, ou que São Paulo tenha parecido louco ao juiz Festo. (portanto, loucura é uma vida verdadeiramente cristã)