Em um lugar
indescritível, onde as linhas se entrelaçam, o vento faz a curva, caminha
Platão, apontando o dedo para cima, ao lado de Aristóteles que contraria o
mestre apontando o dedo para baixo, negando seu idealismo para apontar o real.
- Zenão!
- Aqui estou Mestra
dos mestres.
- Vejo que és muito
feliz. A que se deve a tanta felicidade?
- Penso Mestra, que
atingi a plenitude e a felicidade quando abandonei todas as paixões terrenas,
contrariedades, aborrecimentos e desassossegos. Para mim, a única forma de
viver sem essas contrariedades é viver em ataraxia ou apatia, ou seja,
abandonado ao destino, impassivamente, nada receando e nada esperando.
- Hum! Muito bom!
2- - Epicuro!
- Grande mestra, é um
prazer está em sua presença! Pergunte, Mestra!
- Vejo, assim como
Zenão, sua felicidade. É como ele disse?
- Meu propósito era
atingir a felicidade, meu estado é caracterizado pela aponia, a ausência de
dor e ataraxia ou imperturbabilidade da alma. Eu busquei na
natureza as balizas para o meu pensamento: penso que o homem, a exemplo dos
animais, busca afastar-se da dor e aproximar-se do prazer. Estas referências
seriam as melhores maneiras de medir o que é bom ou ruim. Utilizei da teoria
atômica de Demócrito para justificar a constituição de tudo o que há. Das
estrelas à alma, tudo é formado de átomos, sendo, porém de diferentes
naturezas. Digo que os átomos são de qualidades finitas, de quantidades
infinitas e sujeitos a infinitas combinações. A morte física é o fim do corpo,
que pode ser entendido como somatório de carne e alma, pela desintegração
completa dos átomos que o constituem. Desta forma, os átomos, eternos e
indestrutíveis, estão livres para constituir outros corpos. Essa teoria, que
trabalhei exaustivamente, tenho a finalidade de explicar todos os fenômenos
naturais conhecidos ou ainda não e, principalmente, extirpar os maiores medos
humanos: o medo da morte e o medo dos deuses. Eu percebi que as pessoas são
muito supersticiosas e devem se afastar da verdadeira função das religiões e
dos deuses. Os deuses vivem em perfeita harmonia, desfrutando da
bem-aventurança divina. Não é preocupação divina atormentar o homem de qualquer
forma. Os deuses são modelos de
bem-aventurança que servem como modelo para os homens e não seres instáveis,
com paixões humanas, que devem ser temidos. Desta forma procuro tranqüilizar as
pessoas quanto aos tormentos futuros ou após a morte. Não há por que temer os
deuses nem em vida e nem após a vida. E, além disso, depois de mortos, como não
estaremos mais de posse de nossos sentidos, será impossível sentir alguma
coisa. Então, não haveria nada a temer com a morte. No entanto, a caminho da
busca da felicidade ainda estão às dores e os prazeres. Quanto às dores
físicas, nem sempre seria possível evitá-las. Talvez aqui discordo, em parte,
de Zenão. Mas eu faço questão de frisar que elas não são duradouras e podem ser
suportadas com as lembranças de bons momentos que o indivíduo tenha vivido.
Piores e mais difíceis de lidar são as dores que perturbam a alma. Essas podem
continuar a doer mesmo muito tempo depois de terem sido despertadas pela
primeira vez. Para essas, Eu recomendo a reflexão. As dores da alma estão freqüentemente
associadas às frustrações. Em geral, oriunda de um desejo não satisfeito.
Acredito que para atingir a certeza é necessário confiar naquilo que foi
recebido passivamente na sensação pura e, por conseqüência, nas idéias gerais
que se formam no espírito. Defendo ardorosamente a liberdade humana e a
tranqüilidade do espírito. Quando conversei com Demócrito sobre os átomos,
percebi, não sei se ele concorda, ele mesmo dirá isso, que os átomos se
encontram fortuitamente, por uma leve inclinação em sua trajetória, que o faria
chocar com outro átomo para constituir a matéria. Acredito que o encontro dos átomos é
necessário. A inclinação a que o átomo se desvia poderia ser por uma vontade,
um desejo ou por afinidade com outro átomo. Este encontro fortuito dos átomos é
que garante a liberdade, se assim não fosse, tudo estaria sob o jugo da
Natureza, garante a explicação dos
fenômenos, sua elucidação, fazendo com que possam ser explicados racionalmente.
Assim, ao compreender como opera a Natureza, o homem pode livrar-se do medo e
das superstições que afligem o espírito. Devo dizer que os casos fortuitos não
são diferentes do natural. O prazer de que falo é o prazer do sábio, entenda-se
como quietude da mente e o domínio sobre as emoções e, portanto, sobre si
mesmo. É o prazer das justo-medidas e não dos excessos. É a própria Natureza
que nos informa que o prazer é um bem. Este prazer, no entanto, apenas satisfaz
uma necessidade ou aquieta a dor. A Natureza conduz-nos a uma vida simples. O
único prazer é o prazer do corpo e o que se chama de prazer do espírito é
apenas lembrança dos prazeres do corpo. O mais alto prazer reside no que
chamamos de saúde. Entre os prazeres, Eu elego a amizade. Por isso o convívio
entre vós que são estudiosos me faz bem. Quanto ao que Zenão propôs, apesar de
compartilharmos diversos conceitos básicos, temos divergência porque ele
entende, foi o que pude perceber, que a virtude, e não o prazer constitui o bem
supremo.
-Teles!
- Presente!
- Como tem pensado
que o mundo se originou?
- Eu tenho identificado
na água porque vejo as sementes, como todo alimento, são úmidas. Até mesmo quem
acredita em um criador imaginou esse criador pairando sobre a água e que esta
lhe era anterior, mesmo que diga que tudo criou. Não há, a meu ver, viver em um
mundo natural e não buscar explicação natural para os fenômenos que são
puramente naturais. Como não pensar que
aquilo que todos os seres são constituídos, do qual se originam e no qual se
extingue não ser o elemento de princípio dos seres? O fato de constituir uma
realidade idêntica sempre idêntica mesmo nas transmutações das suas feições.
Por isso afirmo que nada é gerado e nada é destruído, posto que tal realidade
se conserve sempre. Não digo que algo é gerado, em sentido absoluto, ao se torna
belo ou velho, nem digo que se torna o Nada ao perder essas características.
pois ele é um substrato que continuará existindo. Também não se corrompe, em
absoluto, nenhumas das outras coisas. Efetivamente existe uma realidade natural
da qual deriva todas as outras coisas, enquanto aquela continua a existir
imutável. Vejo que todas as coisas são úmidas e que até mesmo o quente é gerado
do úmido e vive no úmido. Sendo assim, aquilo do qual todas as coisas são
geradas é, necessariamente, o princípio de tudo e a água é, por esse motivo, o
princípio das coisas úmidas.
4 - Naxímadro!
Presente Augusta
Mestra!
- Fale-nos do Universo!
- Com todo prazer
mestra! Considero que a Terra tenha o formato de um cilindro e que é circundada
por várias rodas cósmicas, imensas e cheias de fogo. O Sol é um furo, numa
dessas rodas cósmicas, que deixa o fogo escapar. À medida que essa roda gira, o
Sol também gira, explicando-se assim o movimento do Sol em torno da Terra.
Eclipses se devem ao bloqueio total ou parcial desse furo. A mesma explicação é
dada para as fases da Lua, que também são um furo em outra roda cósmica. E
finalmente, as estrelas são pequenos furos em uma terceira roda cósmica, que se
situa mais perto da Terra, do que as rodas do Sol e da Lua. O Universo é eterno
e infinito. Um número infinito de mundos existiu antes do nosso. Após sua
existência, eles se dissolveram na matéria primordial que eu chamo de a-peiron.
E posteriormente outros mundos tornaram a nascer e ainda acontece.
- Muito interessante! E como surgiram os
animais? Pode nos Explicar isso também?
- Grande Mestra, é
simples, os animais nasceram do lodo marinho, e o homem foi formado, no
princípio, dentro de peixes, onde se desenvolveu e donde foi expulso logo que
se tornou de tamanho suficiente para bastar-se a si próprio.
- Hum! Muito bom!
Pode nos falar de Deus! Tem quem acredita que o homem foi feito no princípio
tal como é hoje por um ser semelhante.
- Sim. Eu não
acredito em nenhum deus, para mim todos os ciclos de criação, evolução e
destruição são fenômenos naturais, que ocorrem a partir do ponto em que a
matéria abandona e se separava do a-peiron. O a-peiron é a realidade primordial
e final de todas as coisas e, conseqüentemente, contem toda a natureza do
divino em si próprio. Se quiserem chamar meu a-peiron com outro nome, tudo bem.
Tudo o que existe, somente existe em função de uma emancipação do ser eterno e,
portanto ao se separar deste, é digno de castigo. De onde as coisas têm seu
nascimento, ali também devem ir ao fundo. Segundo a necessidade, pois têm de
pagar penitência e de ser julgadas por suas injustiças, conforme a ordem do
Tempo. Tudo o que nasce um dia vai morrer. Tudo o que é quente, um dia vai
esfriar. Tudo o que é grande, pode ser quebrado em pedaços menores. Fogo pode
ser combatido com água, e como resultado, fogo e água deixam de existir.
- Excelente! Você tem
contribuído com algumas de suas idéias para a semelhança da opiniões e teorias
da Física atual: sua idéia de um mundo que sustenta-se por um equilíbrio de forças
é muito semelhante à gravidade e à força centrípeta, forças que mantêm a Terra
girando em torno do Sol; sua idéia de que a ação do Sol faz surgirem as
criaturas de estrutura simples na água, que depois migram para a terra e
adquirem estrutura mais complexa se parece com a teoria da evolução das
espécies; sua idéia dos opostos se parece com a teoria de que o vácuo produz
partículas pois supõe-se que, logo depois do Big-Bang, o vácuo tenha produzido
pares de partículas e anti-partículas que se exterminavam ao se encontrarem,
pois o espaço ainda era muito pequeno e os pares sempre se encontravam, as únicas diferenças entre as teorias são
que, para você, os pares são de coisas com propriedades determinadas como frio
e calor, e para a Física, esses pares são algo como energia concentrada; De
acordo com o que diz, os contrários revezam-se no tempo, e para os novos sábios, os pares se auto-exterminam,
pois são como matéria positiva e
anti-matéria negativa e, ao se encontrarem, precisavam "saldar" sua
dívida de energia.
avarrois (mudar nome)
6 - Pitágoras -
Para mim, o
número, é sinônimo de harmonia,
constituído da soma de pares e ímpares - os números pares e ímpares expressa as
relações que se encontram em permanente processo de mutação. é a essência das coisas, criando noções
opostas, limitado e ilimitado, e sendo
harmonia das esferas. O cosmo é
regido por relações matemáticas. há uma ordem que domina o universo. Evidências
disso estariam no dia e noite, no alterar-se das estações e no movimento
circular e perfeito das estrelas. Por isso o mundo poderia ser chamado de
cosmos ou ordem, correspondência, beleza. A terra é esférica, estrela entre as
estrelas que se movem ao redor de um fogo central. O princípio fundamental que forma todas as
coisas é o número. A distinção de forma, lei, e substância, considero o número
o elo entre estes elementos. Só há quatro elementos: terra, água, ar e fogo.
Minha concepção é de que todas as coisas são números e o processo de libertação
da alma é resultado de um esforço basicamente intelectual. A purificação
resulta de um trabalho intelectual, que descobre a estrutura numérica das
coisas e torna, assim, a alma como uma unidade harmônica. Os números não são,
neste caso, os símbolos, mas os valores das grandezas, ou seja, o mundo não é
composto dos números 0, 1, 2, etc., mas dos valores que eles exprimem. Assim,
portanto, uma coisa manifestaria externamente a estrutura numérica, sendo esta
coisa o que é por causa deste valor.
7 - ACEBÍADES OU
ALEXANDRE O GRANDE. (mudar nome)
8-
Antístenes, nascido
em 445 a.C., era filho de Antístenes, um ateniense, e de uma trácia.[1] Em sua juventude lutou na Tânagra (426 a.C.), e foi discípulo de Górgias e, posteriormente, de Sócrates, do lado quem
acabou permanecendo até sua condenação e morte.[2] Nunca perdoou os responsáveis pela
perseguição de seu mestre, e diz-se que teria até mesmo tido um papel
instrumental na punição deles.[3]
Sobreviveu à Batalha de Lêuctra (371 a.C.), e teria comparado a vitória
dos tebanos a um grupo de alunos escolares espancando seu professor.[4] Embora uma fonte nos diga que teria morrido
com 70 anos de idade,[5] aparentemente
ainda estava vivo em 366 a.C.,[6] e
teria aproximadamente 80 anos quando morreu em Atenas, por volta de 365 a.C..
Teria lecionado no Cinosarges,[7] um
ginásio destinado a atenienses filhos de
mães estrangeiras, situado próximo ao templo de Héracles. Diógenes Laércio
afirma que suas obras ocupavam dez volumes, porém hoje em dia só restam poucos
fragmentos. Seu estilo favorito parece ter sido os diálogos, alguns deles
ataques contundentes a contemporâneos, como Alcibíades, na segunda de suas duas
obras chamadas Ciro, Górgias em seu
Arquelau, e Platão em seu Satão.[8] Seu estilo era puro e elegante, e
Teopompo chegou a dizer que Platão teria
roubado diversas de suas ideias.[9]
Cícero, no entanto, o chama de "um homem maias inteligente do que
culto" (em latim: homo acutus magis quam eruditus).[10] Tinha uma força considerável de sarcasmo e
ironia, e tinha o hábito de fazer trocadilhos, como dizer, por exemplo, que
preferia ficar entre corvos (korakes) do que bajuladores (kolakes), pois os
primeiros devoram os mortos, e os segundos os vivos.[11] Duas de suas declamações sobreviveram, Ajax e
Odisseu, ambas puramente retóricas.
[editar] Filosofia
Busto em mármore de
Antístenes, baseado no mesmo original que a peça do Museu Pio-Clementino acima
(Museu Britânico).
[editar] Ética
Antístenes foi um
pupilo de Sócrates, de quem ele aprendeu o preceito ético fundamental de que a
virtude, e não o prazer, é a meta da existência. Tudo o que um sábio faz, disse
Antístenes, está em conformidade com a virtude perfeita,[12] e o prazer não
apenas é desnecessário, como é mesmo um mal positivo. Relatou-se que teria
acreditado que a dor[13] e até mesmo a má reputação (em grego: ἀδοξία)[14] seriam
bençãos, e que teria afirmado: "prefiro enlouquecer a sentir
prazer."[15] Parece, provável, no entanto, que ele não considerasse todo
tipo de prazer desprezível, mas apenas aquele que resulta da gratificação dos
desejos sensuais ou artificiais, pois é possível encontrar palavras suas
louvando os prazeres que brotam "de dentro da alma de alguém",[16] e
o gozo de uma amizade escolhida com sabedoria.[17] Antístenes colocava o bem
supremo numa vida vivida de acordo com a virtude - virtude esta que consistia
da ação, que quando obtida nunca é perdida, e exime o sábio do erro.[18] Está
fortemente ligada à razão, porém para que ela possa se desenvolver na ação, e
para ser suficiente para a felicidade, precisa do auxílio da força socrática
(em grego: Σωκρατικὴ ἱσχύς).[12]
[editar] Física
Sua obra sobre a
filosofia natural (Physicus) continha uma teoria sobre a natureza dos deuses,
onde Antístenes argumentava que existiam diversos deuses nos quais as pessoas
acreditavam, porém apenas um Deus natural.[19] Também afirmou que Deus não
lembrava em nada qualquer coisa existente na Terra, e que portanto não poderia
ser compreendido a partir de qualquer representação sua.[20]
[editar] Lógica
Na lógica, Antístenes
foi atormentado pelo problema do Um e dos Muitos. Como um nominalista de fato,
acreditava que a definição e o predicado são ou falsos ou tautológicos, já que
só se pode afirmar que cada indivíduo é o que ele é, e não pode fornecer mais
do que uma mera descrição de suas qualidades.[21] Desacreditava, assim, o
sistema platônico das Ideias. "Um cavalo", segundo Antístenes,
"eu vejo, porém a qualidade inerente a todos os cavalos eu não
vejo."[22] A definição seria um mero método circular de declarar uma
identidade: "uma árvore é um vegetal que cresceu" não faria mais
sentido, portanto, em termos de lógica, do que "uma árvore é uma
árvore".
9) Hipátia (pesquisar) pode ser trocada a ordem
conforme a ordem do nascimento.
10 - Ésquine (trocar
nome)
11 - Parmênides!
- digo,
primeiramente, quatro coisas: o Ser é
Uno e a imóvel; O mundo sensível é uma ilusão; O Ser é Uno, Eterno, Não-Gerado
e Imutável; Não se confia no que vê. Não concordo com Heráclito porque toda
mutação é ilusória. Vamos e dir-te-ei – e tu escutas e levas as minhas
palavras. Eu comparo as qualidades umas com as outras e as ordeno em duas
classes distintas. Por exemplo: A luz e a escuridão são duas classes distintas.
A segunda qualidade nada mais é do que a
negação da primeira. As diferenças nas
qualidades positivas e negativas e, pode-se encontrar essa oposição fundamental
em toda a Natureza. Exemplos: leve-pesado, ativo-passivo, quente-frio,
masculino-feminino, fogo-terra, vida-morte, e essa comparação se aplicam a
mesma no modelo luz-escuridão; o que corresponde à luz são a qualidade positiva
e o que corresponde à escuridão, a qualidade negativa. O pesado é apenas uma
negação do leve. O frio é uma negação do quente. O passivo uma negação ao
ativo, o feminino uma negação do masculino e, cada um apenas como negação do
outro. Por fim, nosso mundo divide-se em duas esferas: aquela das qualidades
positivas: luz, quente, ativo, masculino, fogo, vida; e aquela das qualidades
negativas: escuridão, frio, passivo, feminino, terra, morte. A esfera negativa
é apenas uma negação da esfera positiva, isto é, as esferas negativas não
contem às propriedades que existem na esfera positiva. Quanto às mudanças e
transformações físicas, o Vir-a-Ser, que a todo instante vejo ocorrer no mundo,
eu as explico como sendo apenas uma
mistura participativa de ser e não-ser. Ao vir-a-ser é necessário tanto o ser
quanto o não-ser. Se eles agem conjuntamente, então resulta um vir-a-ser. Um
desejo é o fator que impele os elementos de qualidades opostas a se unirem, e o
resultado disso é um vir-a-ser. Quando o desejo está satisfeito, o ódio e o
conflito interno impulsionam novamente o ser e o não-ser à separação. Então,
toda mudança é ilusória. Só o que existe realmente é o ser e o não-ser. O vir-a-ser
é apenas uma ilusão sensível. Isto quer dizer que todas as percepções de meus
sentidos apenas criam ilusões, nas quais tenho a tendência de pensar que o
não-ser é, e que o vir-a-ser tem um ser.
Toda minha realidade
é imutável, estática, e sua essência está incorporada na individualidade divina
do Ser - Absoluto, o qual permeia todo o Universo. Esse Ser é onipresente, já
que qualquer descontinuidade em sua presença seria equivalente à existência de
seu oposto – o Não-Ser. Esse Ser não pode ter sido criado por algo, pois isso
implicaria em admitir a existência de outro Ser. Do mesmo modo, esse Ser não
pode ter sido criado do nada, pois isso implicaria a existência do “Não-Ser”.
Portanto, o Ser simplesmente é. Como poderia ser gerado? E como poderia perecer
depois disso? Assim a geração se extingue e a destruição é impensável. Também
não é divisível, pois que é homogêneo, nem é mais aqui e menos além, o que lhe
impediria a coesão, mas tudo está cheio do que é. Por isso, é todo contínuo;
pois o que é adere intimamente ao que é. Mas, imobilizado nos limites de
cadeias potentes, é sem princípio ou fim, uma vez que a geração e a destruição
foram afastadas, repelidas pela convicção verdadeira. É o mesmo, que permanece
no mesmo e em si repousa, ficando assim firme no seu lugar. Pois a forte
Necessidade o retém nos liames dos limites que de cada lado o encerra, porque
não é lícito ao que é ser ilimitado; pois de nada necessita – se assim não
fosse, de tudo careceria. “Mas uma vez que tem um limite extremo, está completo
de todos os lados; à maneira da massa de uma esfera bem rotunda, em equilíbrio
a partir do centro, em todas as direções; pois não pode ser algo mais aqui e
algo menos ali.” O Ser - Absoluto não pode vir-a-ser. E não podem existir
vários “Seres-Absolutos”, pois para separá-los precisaria haver algo que não
fosse um Ser. Conseqüentemente, existe apenas a Unidade eterna. O que está fora
do Ser não é Ser; o Não-Ser é nada; o Ser, portanto, é.
12 - SÓCRATES!
- Eu acredito na imortalidade da alma e recebi uma missão especial do deus Apolo.
Acredito que a excelência moral é uma questão de inspiração e não de
parentesco, pois pais moralmente perfeitos não têm filhos semelhantes a eles.
Minhas idéias não são próprias, mas de meus mestres: Pródico e Anaxágoras de
Clazômenas . Minha sabedoria é limitada à minha própria ignorância. Só sei que
nada sei. Acredito que os atos errados são conseqüências da própria ignorância.
Eu acredito que o melhor modo para as pessoas viverem é se concentrando no próprio
desenvolvimento ao invés de buscar a riqueza material. Convido-os a se
concentrarem na amizade e em um sentido de comunidade, pois acredito que esse é
o melhor modo de se crescer como uma população. Acredito que as idéias
pertencem a um mundo que somente os sábios conseguiam entender.
13 - HERÁCLITO!
O pensamento de
Heráclito
Os filósofos de
Mileto (Tales, Anaximandro, Anaxímenes, entre outros) haviam percebido o
dinamismo das mudanças que ocorrem na physis, como o nascimento, o crescimento
e a morte, mas não chegaram a problematizar a questão.
Heráclito, inserido
no contexto pré-socrático, parte do princípio de que tudo é movimento, e que
nada pode permanecer estático - Panta rei ou "tudo flui", "tudo
se move", exceto o próprio movimento.
Mas este é apenas um
pressuposto de uma doutrina que vai mais além. O devir, a mudança que acontece
em todas as coisas é sempre uma alternância entre contrários: coisas quentes
esfriam, coisas frias esquentam; coisas úmidas secam, coisas secas umedecem etc.
A realidade acontece, então, não em uma das alternativas, posto que ambas são
apenas parte de uma mesma realidade, mas sim na mudança ou, como ele chama, na
guerra entre os opostos. Esta guerra é a realidade, aquilo que podemos dizer
que é. "A doença faz da saúde algo agradável e bom"; ou seja, se não
houvesse a doença, não haveria por que valorizar-se a saúde, por exemplo. Ele
ainda considera que, nessa harmonia, os opostos coincidem da mesma forma que o
princípio e o fim, em um círculo; ou a descida e a subida, em um caminho, pois
o mesmo caminho é de descida e de subida; o quente é o mesmo que o frio, pois o
frio é o quente quando muda (ou, dito de outra forma, o quente é o frio depois
de mudar, e o frio, o quente depois de mudar, como se ambos, quente e frio,
fossem "versões" diferentes da mesma coisa).
Panta rei os potamós
(do grego πάντα ῥεῖ ), traduzido como
"Tudo flui como um rio" é o célebre aforisma no qual a tradição
filosófica subsequente identificou sinteticamente o pensamento de Heráclito com
o tema do devir, em contraposição à filosofia do ser própria de Parmênides.
Mas, na realidade, o
famoso moto panta rei não é atestado nos fragmentos conhecidos da obra de
Heráclito, e pode ser atribuído ao seu discípulo Crátilo, que desenvolveu o
pensamento do mestre, radicalizando-o. A fórmula léxica panta rei será cunhada
e utilizada pela primeira vez somente por Simplício, em seu comentário à
Physica Auscultatio, 1313, 11. A expressão deriva de um fragmento do tratado
Sobre a natureza:
Não se pode percorrer duas vezes o mesmo
rio e não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado; por
causa da impetuosidade e da velocidade da mutação, esta se dispersa e se
recolhe, vem e vai.
—91 Diels-Kranz
Tudo é considerado
como um grande fluxo perene no qual nada permanece a mesma coisa pois tudo se
transforma e está em contínua mutação. Por isso, Heráclito identifica a forma
do Ser no Devir pelo qual todas as coisas são sujeitas ao tempo e à sua
relativa transformação.
Heráclito sustenta
que só a mudança e o movimento são reais, e que a identidade das coisas iguais
a si mesmas é ilusória: para Heráclito tudo flui (panta rei).
O panta rei é uma
consequência de polemos (guerra, conflito), que reina sobre tudo. Em
consequência, Heráclito de Éfeso não é o filósofo do "tudo flui" mas
do "tudo flui enquanto resultado da tensão contínua dos opostos em
luta".
A doutrina dos contrários
Polemos é pai de todas as coisas, de todas,
de todos reis.
A doutrina da unidade
dos contrários é talvez o aspecto mais original do pensamento filosófico de
Heráclito. A lei secreta do mundo reside na relação de interdependência entre
dois conceitos opostos, em luta permanente; mas, ao mesmo tempo, um não pode
existir sem o outro. Nada existiria se não existisse, ao mesmo tempo, o seu
oposto. Assim, por exemplo, uma subida pode ser pensada como uma descida por
quem está na parte de cima. Entre os contrários se cria uma espécie de luta
constitutiva do logos indiviso.
Nessa dualidade, que
na superfície é uma guerra (polemos), mas no fundo é harmonia entre os
contrários, Heráclito viu aquilo que definia como o logos, a lei universal da
Natureza.
E é a própria
doutrina dos contrários que faz de Heráclito o fundador de uma lógica
"antidialética", fundada na lei estética do devir da realidade.
Antidialética porque tese e antítese (ser e não ser) são uma síntese
contraditória e permanente na realidade, que só assim pode vir a ser, através
dos seus dois aspectos existenciais ("no mesmo rio, entramos e não entramos";
"somos e não somos"); oposta à lógica aristotélica porque oposta ao
seu princípio da não-contradição e do terceiro excluído.
A teoria de Heráclito
é alternativa à ontologia de Parmênides, o filósofo da unidade e da identidade
do Ser, que ensina que é a contínua mudança a principal característica do não
ser .
A partir de seus
pressupostos - panta rei e a guerra entre os contrários -, Heráclito definiu
uma arché, um princípio que está em todas as coisas desde a sua origem: o fogo.
Para ele, "todas as coisas são uma troca do fogo, e o fogo, uma troca de
todas as coisas, assim como o ouro é uma troca de todas as mercadorias e todas
as mercadorias são uma troca do ouro"; ou seja, todas as coisas
transformam-se em fogo, e o fogo transforma-se em todas as coisas.
[editar] A cosmologia
de Heráclito
Heráclito, em detalhe
do afresco pintado por Rafael, A Escola de Atenas
Segundo Heráclito, o
fogo é, pois, o elemento primordial de todas as coisas. Tudo se origina por
rarefação e tudo flui como um rio. O cosmos é um só e nasce do fogo e, de novo,
é pelo fogo consumido, em períodos determinados, em ciclos que se repetem pela
eternidade.
Em seu livro - Do
Céu, Aristóteles escreve: "Concordam todos em que o mundo foi gerado; mas,
uma vez gerado, alguns afirmam que é eterno e outros que é perecível, como
qualquer outra coisa que por natureza se forma. Outros, ainda, que,
destruindo-se, alternadamente é ora assim, ora de outro modo, como Empédocles e
Heráclito de Éfeso. (…) Também Heráclito assevera que o universo ora se
incendeia, ora de novo se compõe do fogo, segundo determinados períodos de
tempo, na passagem em que diz "acendendo-se em medidas e apagando-se em
medidas."
Para Heráclito, o
fogo, quando condensado, se umidifica e, com mais consistência, torna-se água;
e esta, solidificando-se, transforma-se em terra; e, a partir daí, nascem todas
as coisas do mundo. Este é o caminho que Heráclito define como sendo "para
baixo".
Derretendo-se a
terra, obtém-se água. Água transforma-se em vapor, tal como vemos na evaporação
do mar. E, rarefazendo-se, o vapor transforma-se novamente em fogo. E este é o
caminho "para cima".
Nosso mundo é cercado
pelos astros (Sol, Lua e estrelas). Esses nada mais são do que barcos cujas
concavidades estão voltadas para nós, e que carregam dentro de si chamas
brilhantes. A mais brilhante (para nós) é a chama do Sol e também a mais
quente. Os demais astros distam mais da Terra e é por isso que seu brilho é
menos vivo e menos quente, mas a Lua, que está bem próxima da Terra, não é por
isso, mas por não se encontrar num espaço puro – a escuridão. O Sol,
entretanto, está em região clara e pura.
Os eclipses do Sol e
da Lua acontecem quando as concavidades dos barcos se voltam para cima. E as
fases da Lua ocorrem quando o barco que a encerra se volta aos poucos em nossa
direção.
Dia e noite, meses e
estações, chuvas, ventos e demais fenômenos são conseqüências de diferentes
evaporações. Pois a brilhante evaporação, inflamando-se no círculo do Sol,
produz o dia; e, quando a contrária prevalece, produz a noite; e, quando da
evaporação brilhante nasce o calor, faz verão; mas, quando da sombra o úmido
prevalece, faz-se o inverno.
O Deus e a alma
Dentro do pensamento
de Heráclito, Deus não tinha a aparência de um homem nem de outro animal
qualquer. Deus não era nem criador, nem onipotente. Heráclito limitava-se a
identificá-lo com os opostos, os quais persistem apesar de suas mudanças e
assim são capazes de compreender sua própria unidade.
"O Deus é
dia-noite, inverno-verão, guerra-paz, saciedade-fome; mas se alterna como o
fogo, quando se mistura a incensos, e se denomina segundo o gosto de cada
um."
Nesse argumento,
podemos ver que Heráclito considerava as diversas divindades da mitologia
grega, que eram adoradas pelos homens de seu tempo, como sendo apenas fogo
misturado a diferentes tipos de incensos.
E a alma consiste
apenas de mais uma rarefação do fogo e sofre as mesmas mudanças que todas as
outras coisas também experimentam; e a morte traz a completa extinção da alma.
"Para almas é
morte tornar-se água, e para água é morte tornar-se terra, e de terra nasce
água, e de água alma."
Novamente aqui, nesse
raciocínio, vemos Heráclito descrever seus caminhos "para baixo" e
"para cima".
14 - PLATÃO
Em linhas gerais, Platão desenvolveu a noção
de que o homem está em contato permanente com dois tipos de realidade: a
inteligível e a sensível. A primeira é a realidade imutável, igual a si mesma.
A segunda são todas as coisas que nos afetam os sentidos, são realidades
dependentes, mutáveis e são imagens das realidades inteligíveis.
Tal concepção de
Platão também é conhecida por Teoria das Ideias ou Teoria das Formas. Foi
desenvolvida como hipótese no diálogo Fédon e constitui uma maneira de garantir
a possibilidade do conhecimento e fornecer uma inteligibilidade relativa aos
fenômenos.
Para Platão, o mundo
concreto percebido pelos sentidos é uma pálida reprodução do mundo das Idéias.
Cada objeto concreto que existe participa, junto com todos os outros objetos de
sua categoria de uma Idéia perfeita. Uma determinada caneta, por exemplo, terá
determinados atributos (cor, formato, tamanho etc). Outra caneta terá outros
atributos, sendo ela também uma caneta, tanto quanto a outra. Aquilo que faz
com que as duas sejam canetas é, para Platão, a Idéia de Caneta, perfeita, que
esgota todas as possibilidades de ser caneta. A ontologia de Platão diz, então,
que algo é na medida em que participa da Idéia desse objeto. No caso da caneta
é irrelevante, mas o foco de Platão são coisas como o ser humano, o bem ou a
justiça, por exemplo.
O problema que Platão
propõe-se a resolver é a tensão entre Heráclito e Parmênides: para o primeiro,
o ser é a mudança, tudo está em constante movimento e é uma ilusão a
estaticidade, ou a permanência de qualquer coisa; para o segundo, o movimento é
que é uma ilusão, pois algo que é não pode deixar de ser e algo que não é, não
pode passar a ser; assim, não há mudança.
Por exemplo, o que
faz com que determinada árvore seja ela mesma desde o estágio de semente até
morrer, e o que faz com que ela seja tão árvore quanto outra de outra espécie,
com características tão diferentes? Há aqui uma mudança, tanto da árvore em
relação a si mesma (com o passar do tempo ela cresce) quanto da árvore em
relação a outra. Para Heráclito, a árvore está sempre mudando e nunca é a
mesma, e para Parmênides, ela nunca muda, é sempre a mesma e sua mudança é uma
ilusão .
Platão resolve esse
problema com sua Teoria das Idéias. O que há de permanente em um objeto é a
Idéia; mais precisamente, a participação desse objeto na sua Idéia
correspondente. E a mudança ocorre porque esse objeto não é uma Idéia, mas uma
incompleta representação da Idéia desse objeto. No exemplo da árvore, o que faz
com que ela seja ela mesma e seja uma árvore (e não outra coisa), a despeito de
sua diferença daquilo que era quando mais jovem e de outras árvores de outras
espécies (e mesmo das árvores da mesma espécie) é a sua participação na Idéia
de Árvore; e sua mudança deve-se ao fato de ser uma pálida representação da
Idéia de Árvore.
Platão também
elaborou uma teoria gnosiológica, ou seja, uma teoria que explica como se pode
conhecer as coisas, ou ainda, uma teoria do conhecimento. Segundo ele, ao ver
um objeto repetidas vezes, uma pessoa se lembra, aos poucos, da Idéia daquele
objeto que viu no mundo das Idéias. Para explicar como se dá isso, Platão
recorre a um mito (ou uma metáfora) segundo a qual, antes de nascer, a alma de
cada pessoa vivia em uma estrela, onde se localizam as Idéias. Quando uma
pessoa nasce, sua alma é "jogada" para a Terra, e o impacto que
ocorre faz com que esqueça o que viu na estrela. Mas, ao ver um objeto aparecer
de diferentes formas (como as diferentes árvores que se pode ver), a alma se
recorda da Idéia daquele objeto que foi visto na estrela. Tal recordação, em
Platão, chama-se anamnesis.
A reminiscência
Uma das condições
para a indagação ou investigação acerca das Idéias é que não estamos em estado
de completa ignorância sobre elas. Do contrário, não teríamos nem o desejo nem
o poder de procurá-las. Em vista disso, é uma condição necessária, para tal
investigação, que tenhamos em nossa alma alguma espécie de conhecimento ou
lembrança de nosso contato com as Idéias (contato esse ocorrido antes do nosso
próprio nascimento) e nos recordemos das Idéias ao vê-las reproduzidas
palidamente nas coisas.
Deste modo, toda a
ciência platônica é uma reminiscência. A investigação das Idéias supõe que as
almas preexistiram em uma região divina onde contemplavam as Idéias. Podemos
tomar como exemplo o Mito da Parelha Alada, localizado no diálogo Fedro, de
Platão. Neste diálogo, Platão compara a raça humana a carros alados. Tudo o que
fazemos de bom, dá forças às nossas asas. Tudo o que fazemos de errado, tira
força das nossas asas. Ao longo do tempo fizemos tantas coisas erradas que
nossas asas perderam as forças e, sem elas para nos sustentarmos, caímos no
Mundo Sensível, onde vivemos até hoje. A partir deste momento, fomos condenados
a vermos apenas as sombras do Mundo das Idéias.
Amor
No Simpósio, de
Platão, Sócrates revela que foi a sacerdotisa Diotima de Mantinea que o iniciou
nos conhecimentos e na genealogia do amor. As idéias de Diotima estão na origem
do conceito socrático-platônico do amor.
Conhecimento
Platão não buscava as
verdadeiras essências da forma física como buscavam Demócrito e seus
seguidores. Sob a influência de Sócrates, ele buscava a verdade essencial das
coisas. Platão não poderia buscar a essência do conhecimento nas coisas, pois
estas são corruptíveis, ou seja, variam, mudam, surgem e se vão. Como o
filósofo busca a verdade plena, deve buscá-la em algo estável, nas verdadeiras
causas, pois logicamente a verdade não pode variar e, se há uma verdade
essencial para os homens, esta verdade deve valer para todas as pessoas. Logo,
a verdade deve ser buscada em algo superior.
Como seu mestre
Sócrates, Platão busca descobrir as verdades essenciais das coisas. As coisas
devem ter um outro fundamento, além do físico, e a forma de buscar estas
realidades vem do conhecimento, não das coisas mas do além das coisas. Esta
busca racional é contemplativa. Isto significa buscar a verdade no interior do
próprio homem, não meramente como sujeito particular, mas como participante das
verdades essenciais do ser.
O conhecimento era o
conhecimento do próprio homem, mas sempre ressaltando o homem não enquanto
corpo, mas enquanto alma. O conhecimento contido na alma era a essência daquilo
que existia no mundo sensível. Portanto, em Platão, também a técnica e o mundo
sensível eram secundários. A alma humana enquanto perfeita participa do mundo
perfeito das idéias, porém este formalismo só é reconhecível na experiência
sensível.
Também o conhecimento
tinha fins morais, isto é, levar o homem à bondade e à felicidade. Assim a
forma de conhecimento era um reconhecimento, que faria o homem dar-se conta das
verdades que sempre possuíra e que o levavam a discernir melhor dentre as
aparências de verdades e as verdades. A obtenção do autoconhecimento era um
caminho árduo e metódico.
Quanto ao mundo
material, o homem poderia ter somente a doxa (opinião) e téchne (técnica), que
permitia a sua sobrevivência, ao passo que, no mundo das idéias, o homem pode
ter a épisthéme, o conhecimento verdadeiro, o conhecimento filosófico,.
Platão não defendia
que todas as pessoas tivessem igual acesso à razão. Apesar de todos terem a
alma perfeita, nem todos chegavam à contemplação absoluta do mundo das idéias.
Política
"Os males não
cessarão para os humanos antes que a raça dos puros e autênticos filósofos
chegue ao poder, ou antes, que os chefes das cidades, por uma divina graça,
ponham-se a filosofar verdadeiramente." (Platão, Carta Sétima, 326b).
Esta afirmação de
Platão deve ser compreendida com base na teoria do conhecimento, e lembrando
que o conhecimento para Platão tem fins morais.
Todo o projecto
político platónico foi traçado a partir da convicção de que a Cidade-Estado
ideal deveria ser obrigatoriamente governada por alguém dotado de uma rigorosa
formação filosófica.
Platão acreditava que
existiam três espécies de virtudes baseadas na alma, que corresponderiam aos
estamentos da pólis:
* A primeira virtude era a da sabedoria,
deveria ser a cabeça do Estado, ou seja, o governante, pois possui caráter de
ouro e utiliza a razão.
* A segunda espécie de virtude é a coragem,
deveria ser o peito do Estado, isto é, os soldados ou guardiães da pólis, pois
sua alma de prata é imbuída de vontade. E, por fim,
* A terceira virtude, a temperança, que
deveria ser o baixo-ventre do Estado, ou os trabalhadores, pois sua alma de
bronze orienta-se pelo desejo das coisas sensíveis.
O homem e a alma
O homem para Platão
era dividido em corpo e alma. O corpo era a matéria e a alma era o imaterial e
o divino que o homem possuía. Enquanto o corpo está em constante mudança de
aparência, a alma não muda nunca. Desde quando nascemos, temos a alma perfeita,
porém não sabemos. As verdades essenciais estão inscritas na alma eternamente,
porém, ao nascermos, nós as esquecemos, pois a alma é aprisionada no corpo.
Para Platão a alma é
divida em três partes:
* 1 Racional: cabeça; esta tem que
controlar as outras duas partes. Sua virtude é a sabedoria ou prudência
(phrónesis).
* 2 Irascível: tórax; parte da
impetuosidade, dos sentimentos. Sua virtude é a coragem (andreía).
* 3 Concupiscente: baixo ventre; apetite,
desejo, mesmo carnal (sexual), ligado ao libido. Sua virtude é a moderação ou
temperança (sophrosýne).
Platão acreditava que
a alma depois da morte reencarnava em outro corpo, mas a alma que se ocupava
com a filosofia e com o Bem, esta era privilegiada com a morte do corpo. A ela
era concedida o privilégio de passar o resto dos seus tempos em companhia dos
deuses.
Por meio da relação
de sua alma com a Alma do Mundo, o homem tem acesso ao mundo das Idéias e
aspira ao conhecimento e às idéias do Bem e da Justiça. A partir da
contemplação do mundo das Idéias, o Demiurgo, tal como Platão descreveu no
Timeu, organizou o mundo sensível. Não se trata de uma criação ex nihilo, isto
é, do nada, como no caso do Deus judaico-cristão, pois o Demiurgo não criou a
matéria (Timeu, 53b) nem é a fonte da racionalidade das Idéias por ele
contempladas. A ação do homem se restringe ao mundo material; no mundo das
Idéias o homem não pode transformar nada. Pois o que é perfeito, não pode ser
mais perfeito.
15 - ARISTÓTELES
A tradição representa
um elemento vital para a compreensão da filosofia aristotélica. Em certo
sentido, Aristóteles via o próprio pensamento como o ponto culminante do
processo desencadeado por Tales de Mileto. A filosofia pretendia não apenas
rever como também corrigir as falhas e imperfeições das filosofias anteriores.
Ao mesmo tempo, trilhou novos caminhos para fundamentar as críticas, revisões e
novas proposições.
Aluno de Platão,
Aristóteles discorda de uma parte fundamental da filosofia. Platão concebia
dois mundos existentes: aquele que é apreendido por nossos sentidos, o mundo
concreto -, em constante mutação; e outro mundo - abstrato -, o das ideias,
acessível somente pelo intelecto, imutável e independente do tempo e do espaço
material. Aristóteles, ao contrário, defende a existência de um único mundo:
este em que vivemos. O que está além de nossa experiência sensível não pode ser
nada para nós.
[editar] Lógica
Para Aristóteles, a
Lógica é um instrumento, uma introdução para as ciências e para o conhecimento
e baseia-se no silogismo, o raciocínio formalmente estruturado que supõe certas
premissas colocadas previamente para que haja uma conclusão necessária. O
silogismo é dedutivo, parte do universal para o particular; a indução, ao
contrário, parte do particular para o universal. Dessa forma, se forem
verdadeiras as premissas, a conclusão, logicamente, também será.
[editar] Física
A concepção
aristotélica de Física parte do movimento, elucidando-o nas análises dos
conceitos de crescimento, alteração e mudança. A teoria do ato e potência, com
implicações metafísicas, é o fundamento do sistema. Ato e potência
relacionam-se com o movimento enquanto que a matéria se forma com a ausência de
movimento.
Para Aristóteles, os
objetos caíam para se localizarem corretamente de acordo com a natureza: o
éter, acima de tudo; logo abaixo, o fogo; depois o ar; depois a água e, por
último, a terra.
[editar] Psicologia
A Psicologia é a
teoria da alma e baseia-se nos conceitos de alma (psykhé) e intelecto (noûs). A
alma é a forma primordial de um corpo que possui vida em potência, sendo a
essência do corpo. O intelecto, por sua vez, não se restringe a uma relação
específica com o corpo; sua atividade vai além dele.
O organismo, uma vez
desenvolvido, recebe a forma que lhe possibilitará perfeição maior, fazendo
passar suas potências a ato. Essa forma é alma. Ela faz com que vegetem, cresçam
e se reproduzam os animais e plantas e também faz com que os animais sintam.
No homem, a alma,
além de suas características vegetativas e sensitivas, há também a
característica da inteligência, que é capaz de apreender as essências de modo
independente da condição orgânica.
Ele acreditava que a
mulher era um ser incompleto, um meio homem. Seria passiva, ao passo que o
homem seria ativo.
[editar] Biologia
A biologia é a
ciência da vida e situa-se no âmbito da física (como a própria psicologia),
pois está centrada na relação entre ato e potência. Aristóteles foi o
verdadeiro fundador da zoologia - levando-se em conta o sentido etimológico da
palavra. A ele se deve a primeira divisão do reino animal.
Aristóteles é o pai
da teoria da abiogênese, que durou até séculos mais recentes, segundo a qual um
ser nascia de um germe da vida, sem que um outro ser precisasse gerá-lo (exceto
os humanos): um exemplo é o das aves que vivem à beira das lagoas, cujo germe
da vida estaria nas plantas próximas.
Ainda no campo da
biologia, Aristóteles foi quem iniciou os estudos científicos documentados
sobre peixes sendo o precursor da ictiologia (a ciência que estuda os peixes),
catalogou mais de cem espécies de peixes marinhos e descreveu seu
comportamento. É considerado como elemento histórico da evolução da
piscicultura e da aquariofilia.[7]
[editar] Metafísica
O termo
"Metafísica" não é aristotélico; o que hoje chamamos de metafísica
era chamado por Aristóteles de filosofia primeira. Esta é a ciência que se
ocupa com realidades que estão além das realidades físicas que possuem fácil e
imediata apreensão sensorial.
O conceito de
metafísica em Aristóteles é extremamente complexo e não há uma definição única.
O filósofo deu quatro definições para metafísica:
1. a ciência que indaga e reflete acerca dos
princípios e primeiras causas;
2. a ciência que indaga o ente enquanto
aquilo que o constitui, enquanto o ser do ente;
3. a ciência que investiga as substâncias;
4. a ciência que investiga a substância
supra-sensível, ou seja, que excede o que é percebido através da materialidade
e da experiência sensível.
Os conceitos de ato e
potência, matéria e forma, substância e acidente possuem especial importância
na metafísica aristotélica.
[editar] As quatro
causas
Para Aristóteles,
existem quatro causas implicadas na existência de algo:
* A causa material (aquilo do qual é feita
alguma coisa, a argila, por exemplo);
* A causa formal (a coisa em si, como um
vaso de argila);
* A causa eficiente (aquilo que dá origem
ao processo em que a coisa surge, como as mãos de quem trabalha a argila);
* A causa final (aquilo para o qual a coisa
é feita, cite-se portar arranjos para enfeitar um ambiente).
A teoria aristotélica
sobre as causas estende-se sobre toda a Natureza, que é como um artista que age
no interior das coisas.
Essência e acidente
Aristóteles
distingue, também, a essência e os acidentes em alguma coisa.
A essência é algo sem
o qual aquilo não pode ser o que é; é o que dá identidade a um ser, e sem a
qual aquele ser não pode ser reconhecido como sendo ele mesmo (por exemplo: um
livro sem nenhum tipo de história ou informações estruturadas, no caso de um
livro técnico, não pode ser considerado um livro, pois o fato de ter uma
história ou informações é o que permite-o ser identificado como
"livro" e não como "caderno" ou meramente "maço de
papel").
O acidente é algo que
pode ser inerente ou não ao ser, mas que, mesmo assim, não descaracteriza-se o
ser por sua falta (o tamanho de uma flor, por exemplo, é um acidente, pois uma
flor grande não deixará de ser flor por ser grande; a sua cor, também, pois,
por mais que uma flor tenha que ter, necessariamente, alguma cor, ainda assim
tal característica não faz de uma flor o que ela é).
Potência, ato e movimento
Todas as coisas são
em potência e ato. Uma coisa em potência é uma coisa que tende a ser outra,
como uma semente (uma árvore em potência). Uma coisa em ato é algo que já está
realizado, como uma árvore (uma semente em ato). É interessante notar que todas
as coisas, mesmo em ato, também são em potência (pois uma árvore - uma semente
em ato - também é uma folha de papel ou uma mesa em potência). A única coisa
totalmente em ato é o Ato Puro, que Aristóteles identifica com o Bem. Esse Ato não
é nada em potência, nem é a realização de potência alguma. Ele é sempre igual a
si mesmo, e não é um antecedente de coisa alguma. Desse conceito Tomás de
Aquino derivou sua noção de Deus em que Deus seria "Ato Puro".
Um ser em potência só
pode tornar-se um ser em ato mediante algum movimento. O movimento vai sempre
da potência ao ato, da privação à posse. É por isso que o movimento pode ser
definido como ato de um ser em potência enquanto está em potência.
O ato é portanto, a
realização da potência, e essa realização pode ocorrer através da ação (gerada
pela potência ativa) e perfeição (gerada pela potência passiva).
Ética
No sistema
aristotélico, a ética é a ciência das condutas, menos exata na medida em que se
ocupa com assuntos passíveis de modificação. Ela não se ocupa com aquilo que no
homem é essencial e imutável, mas daquilo que pode ser obtido por ações
repetidas, disposições adquiridas ou de hábitos que constituem as virtudes e os
vícios. Seu objetivo último é garantir ou possibilitar a conquista da
felicidade.
Partindo das
disposições naturais do homem (disposições particulares a cada um e que
constituem o caráter), a moral mostra como essas disposições devem ser
modificadas para que se ajustem à razão. Estas disposições costumam estar
afastadas do meio-termo, estado que Aristóteles considera o ideal. Assim,
algumas pessoas são muito tímidas, outras muito audaciosas. A virtude é o
meio-termo e o vício se dá ou na falta ou no excesso. Por exemplo: coragem é
uma virtude e seus contrários são a temeridade (excesso de coragem) e a
covardia (ausência de coragem).
As virtudes se
realizam sempre no âmbito humano e não têm mais sentido quando as relações
humanas desaparecem, como, por exemplo, em relação a Deus. Totalmente diferente
é a virtude especulativa ou intelectual, que pertence apenas a alguns
(geralmente os filósofos) que, fora da vida moral, buscam o conhecimento pelo
conhecimento. É assim que a contemplação aproxima o homem de Deus.
Política
Alexandre e
Aristóteles.
Na filosofia
aristotélica a política é um desdobramento natural da ética. Ambas, na verdade,
compõem a unidade do que Aristóteles chamava de filosofia prática.
Se a ética está
preocupada com a felicidade individual do homem, a política se preocupa com a felicidade
coletiva da pólis. Desse modo, é tarefa da política investigar e descobrir
quais são as formas de governo e as instituições capazes de assegurar a
felicidade coletiva. Trata-se, portanto, de investigar a constituição do
estado.
Acredita-se que as
reflexões aristotélicas sobre a política originam-se da época em que ele era
preceptor de Alexandre, o Grande.
Direito
Para Aristóteles,
assim como a política, o direito também é um desdobramento da ética. O direito
para Aristóteles é uma ciência dialética, por ser fruto de teses ou hipóteses,
não necessariamente verdadeiras, validadas principalmente pela aprovação da
maioria.
Retórica
Aristóteles
considerava importante o conhecimento da retórica, já que ela se constituiu em
uma técnica (por habilitar a estruturação e exposição de argumentos) e por
relacionar-se com a vida pública. O fundamento da retórica é o entimema
(silogismo truncado, incompleto), um silogismo no qual se subentende uma
premissa ou uma conclusão. O discurso retórico opera em três campos ou gêneros:
gênero deliberativo, gênero judicial e gênero epidítico (ostentoso,
demonstrativo).
Poética
A poética é imitação
(mimesis) e abrange a poesia épica, a lírica e a dramática: (tragédia e
comédia). A imitação visa a recriação e a recriação visa aquilo que pode ser.
Desse modo, a poética tem por fim o possível. O homem apresenta-se de
diferentes modos em cada gênero poético: a poesia épica apresenta o homem como
maior do que realmente é, idealizando-o; a tragédia apresenta o homem exaltando
suas virtudes e a comédia apresenta o homem ressaltando seus vícios ou defeito.
Astronomia
O cosmos aristotélico
é apresentado como uma esfera gigantesca, porém finita, à qual se prendiam as
estrelas, e dentro da qual se verificava uma rigorosa subordinação de outras
esferas, que pertenciam aos planetas então conhecidos e que giravam em torno da
Terra, que se manteria imóvel no centro do sistema (sistema geocêntrico).[8]
Os corpos celestes
não seriam formados por nenhum dos chamados quatro elementos transformáveis
(terra, água, ar, fogo), mas por um elemento não transformável designado
"quinta essência". Os movimentos circulares dos objetos celestes
seriam, além de naturais, eternos.
16 - DIÓGENES
Segundo a tradição,
Diógenes vivia a perambular pelas ruas na mais completa miséria até que um dia
foi aprisionado por piratas para, posteriormente, ser vendido como escravo. Um
homem com boa educação chamado Xeníades o comprou. Logo ele pôde constatar a
inteligência de seu novo escravo e lhe confiou tanto a gerência de seus bens
quanto a educação de seus filhos.
Diógenes levou ao
extremo os preceitos cínicos de seu mestre Antístenes. Foi o exemplo vivo que
perpetuou a indiferença cínica perante os valores da sociedade da qual fazia
parte. Desprezava a opinião pública e parece ter vivido em uma pipa ou barril.
Reza a lenda que seus únicos bens eram um alforje, um bastão e uma tigela (que
simbolizavam o desapego e auto-suficiência perante o mundo), sendo ele
conhecido também, talvez pejorativamente como kinos, o cão, pela forma como
vivia.
A felicidade -
entendida como autodomínio e liberdade - era a verdadeira realização de uma
vida. Sua filosofia combatia o prazer, o desejo e a luxúria pois isto impedia a
auto-suficiência. A virtude - como em Aristóteles - deveria ser praticada e
isto era mais importante que teorias sobre a virtude.
Diógenes é tido como
um dos primeiros homens (antecedido por Sócrates com a sua célebre frase
"Não sou nem ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo.") a
afirmar, "Sou uma criatura do mundo (cosmos), e não de um estado ou uma
cidade (polis) particular", manifestando assim um cosmopolitismo
relativamente raro em seu tempo.
Diógenes parece ter
escrito tragédias ilustrativas da condição humana e também uma República que
teria influenciado Zenão de Cítio, fundador do estoicismo. De fato, a
influência cínica sobre o estoicismo é bastante saliente.
Provavelmente,
Diógenes foi o mais folclórico dos filósofos. São inúmeras as histórias que se
contavam sobre ele já na Antigüidade.
É famosa, por
exemplo, a história de que ele saía em plena luz do dia com uma lanterna acesa
procurando por homens verdadeiros (ou seja, homens auto-suficientes e
virtuosos).
Igualmente famosa é
sua história com Alexandre, o Grande, que, ao encontrá-lo, ter-lhe-ia
perguntado o que poderia fazer por ele. Acontece que devido à posição em que se
encontrava, Alexandre fazia-lhe sombra. Diógenes, então, olhando para a
Alexandre, disse: "Não me tires o que não me podes dar!" (variante:
"deixe-me ao meu sol"). Essa resposta impressionou vivamente
Alexandre, que, na volta, ouvindo seus oficiais zombarem de Diógenes, disse:
"Se eu não fosse Alexandre, queria ser Diógenes."
Outra história famosa
é a de que, tendo sido repreendido por estar se masturbando em público,
simplesmente exclamou: "Oh! Mas que pena que não se possa viver apenas
esfregando a barriga!"
Outra história ainda
é a de que um dia Diógenes foi visto pedindo esmola a uma estátua. Quando lhe
perguntaram o motivo de tal conduta ele respondeu "por dois motivos:
primeiro é que ela é cega e não me vê, e segundo é que eu me acostumo a não
receber algo de alguém e nem depender de alguém."
A temática do cão
Diógenes sentado em
seu barril cercado por cães. Pintura de Jean-Léon Gérôme de 1860.
Muitas anedotas sobre
Diógenes referem-se ao seu comportamento semelhante ao de um cão, e seu elogio
as virtudes dos cachorros. Não é sabido se Diógenes se considerava insultado
pelo epiteto "canino" e fez dele uma virtude, ou se ele assumiu
sozinho a temática do cão para si, Os termos modernos cínico e cinismo derivam
da palavra grega kynikos, a forma adjetiva de kynon, que significa cachorro.[3]
Diógenes acreditava que os humanos viviam artificialmente e maneira hipócrita e
poderiam fazer bem ao estudar o cão. Afinal o cão é capaz de realizar suas
funções corporais naturais em público sem constrangimento, um cachorro comerá
qualquer coisa, e não fará estardalhaço sobre que lugar dormir. Cachorros vivem
o presente sem ansiedade, e não possuem as pretensões da filosofia abstrata.
Somando-se ainda a estas virtudes, cachorros aprendem extintivamente quem é
amigo e quem é inimigo. Diferente dos humanos que enganam e são enganados uns
pelos outros, cães reagem com honestidade frente à verdade.
Como colocado
anteriormente (veja Morte), a associação de Diógenes com cachorros foi
rememorada pelos Coríntios, que erigiram em sua memória um pilar sobre o qual
descansa um cão entalhado em mármore de Paros.
Precedente do
anarquismo
O reecontro de
Diógenes e de Alexandre.
Nas reflexões
desenvolvidas pelo filósofos cínicos pode-se reconhecer importantes princípios
do anarquismo ainda na Grécia Antiga. Segundo o historiador inglês Donald R.
Dudley, em particular no pensamento de Diógenes podem ser identificados muitos
elementos presentes no movimento anarquista da contemporaneidade.[6]
Em seu artigo
"Aristóteles e o Anarquismo" (Aristotle and Anarchism) o filósofo
estadunidense David Keyt afirma que as sementes do anarquismo filosófico podem
ser mais facilmente encontradas nas ideias de Diógenes de Sínope do que nas de
Sócrates. Este mesmo autor confere também a Diógenes a defesa do gérmen do
proto-internacionalismo na Antiguidade, uma vez que o próprio Diógenes,
refutando todas as identidades vinculadas as cidades estados e povos antigos, e
negando assim a imprescindibilidade da pólis (apolis), se definia como cidadão
do cosmos (kosmopolitê).[7] O peso do pensamento ácrata de Diógenes na
filosofia da Antiguidade faz este autor considere a hipótese de Aristóteles
estar em parte reagindo e se contrapondo às ideias de Diógenes quando faz sua
defesa das pólis.[8]
Em relação a temática
do casamento Diógenes refuta o modelo familiar grego afirmando que as esposas
deveriam ser mantidas em comum, não reconhecendo nenhuma legitimidade em
qualquer união baseada na coerção, mas somente nas relações que se baseiem na
persuasão entre pares.
Keyt apresenta ainda
a perspectiva de Diógenes em relação à escravidão. Sua crítica à escravidão
estaria focada no caráter de voluntarismo da parte dominada em relação à
dominante: escravos sentem necessidade de mestres..[9] Em relação a este tema a
posição de Diógenes se aproxima das reflexões apresentadas por Étienne de La
Boétie sobre a servidão voluntária. Além de ser outro importante precedente do
anarquismo no final do medievo, La Boétie fora a seu tempo tradutor de diversos
escritos relacionados aos cínicos, adotando também a metodologia cínica baseada
na inventividade, no uso da ironia, em jogos de palavras e paradoxos.[10]
"Na casa de um rico não há lugar para
se cuspir, a não ser em sua cara."
—Diógenes de Sínope
Portal Portal da Anarquia
Da perspectiva
apresentada por Roca e Álvarez Diógenes de Sínope pode ser considerado também
um predecessor dos happenings como ferramenta de contestação política. Ainda na
ótica destes autores, através de suas ações provocativas individuais com as
quais contestava toda forma de autoridade (Diógenes adorava ridicularizar
Platão enquanto autoridade filosófica) e de sacralidade, Diógenes pode ser
considerado um importante precedente da vertente libertária conhecida como
anarcoindividualismo.[11]
Obra
17 - PLOTINO ( FALTA
VER REFERENCIA)
18- EUCLIDES OU
ARQUIMEDES
19 - Zarastruta!
- Aqui!
- É verdade que
sorriu ao nascer? Como conseguiu? Por que sorriu e não chorou como todos?
- Ha! Grande Musa, Eu
sorri de uma piada que meu concorrente contou na corrida para fencundação.
- Que piada!
- Ele contou que iria
sorri ao nascer porque iria inspirar a maior mentira contada no mundo à parti
de seu nascimento.
Há muito tempo, nas
estepes a perder de vista da Ásia Central perto do Mar de Aral, havia uma
pequena vila de casas de adobe, onde vivia a família Spitama. Um dia, no sexto
dia da primavera, eu nasci naquela família. A minha mãe e meu pai decidiram
dar-me o nome de Zaratustra. Quando nasci, não chorei, pelo contrário, ri
sonoramente. As parteiras, vendo aquilo, admiraram-se, pois nunca tinham visto
um bebê rir ao nascer. Só que na vila havia um sacerdote que percebeu que eu
viria a ser um revolucionário do pensamento humano e o que enfraqueceria o
poder dos "donos" das religiões. Ele então decidiu tomar providências
e procurou meu pai Pourushapa Spitama, e lhes disse: "Pourushaspa Spitama,
vim avisar-lhe. Seu filho é um mau sinal para a nossa vila porque riu ao
nascer, ele tem um demônio. Mate-o ou os deuses destruirão seus cavalos e
plantações. Onde já se viu rir ao nascer nesse mundo triste e escuro! Os deuses
estão furiosos!". Mas papai não me
queria ferir, mas o sacerdote insistiu e impôs uma prova. Na manhã seguinte
papai fez uma grande fogueira, e à frente de todos, colocou-me
no meio do fogo, mas eu não sofri dano algum. Então o sacerdote ficou
confuso. Fui levado então para um vale
estreito e colocado no caminho de uma boiada de mil cabeças de gado, para ser
pisoteado. O primeiro boi da boiada percebeu - me e ficou parado sobre ele, protegendo-me,
enquanto o resto passava ao lado e eu
não sofri um só arranhão. O sacerdote logo arquitetou outro plano. Fui
colocado na toca de uma loba que, ao invés de devorá-me, cuidou-me até que
Dugdav, minha mãe, viesse buscá-me. Diante do meus prodígios o sacerdote ficou
envergonhado e mudou-se da vila. Eu cresci peramburalava pelas estepes
indagando-me: "Quem fez o sol e as estrelas do céu? Quem criou as águas e
as plantas? E quem faz a lua crescer e minguar? Quem implantou nas pessoas a
sua natural bondade e justiça?". Eu queria saber tudo. De onde Veio? Veio
por quê? por que não ficou lá? por que não volta? Um dia eu estava meditando às
margens de um rio quando um ser estranho me apareceu. Ele era indescritível,
tal a sua beleza e brilho. perguntei-lhe quem era ele, ao que tevi como
resposta: "Sou Vohu Mano, a Boa Mente. Vim lhe buscar". E tomou-me a
mão, e levou-me para um lugar muito
bonito, onde sete outros seres me esperavam. A Boa Mente disse-me então:
"Zaratustra, se você quiser pode encontrar em você mesmo todas as
respostas que tanto busca, e também questões mais interessantes ainda. Ahura
Mazda, Deus que tudo cria e sustenta, assim escolheu partilhar a sua divindade
com os seres que cria. Agora, sabendo disso, você pode anunciar essa mensagem
libertadora a todas as pessoas.” Mas contestei e perguntei: "Por que eu?
Não sou poderoso e nem tenho recursos!". Os outros seres responderam em
coro: "Você tem tudo o que precisa, o que todos igualmente têm: Bons
pensamentos, boas palavras e boas ações". Eu voltei para casa e contei a
todos o que me acontecera. A minha família aceitou o que eu havia descoberto,
mas os sacerdotes me rejeitaram. Eles disseram: "Se é assim nada há de
especial em nosso serviço, nada valem nossos sacrifícios e perderemos o poder
que nos dão os deuses ciumentos e caprichos que servimos. Estamos sem trabalho
e passaremos fome!". Decidiram, então, dar cabo da minha vida. Eu entendi
que tinha que sair dali por uns tempos. Chamei meus vinte e dois companheiros e
companheiras de primeira hora e fugimos com tudo o que tinhamos. Nós viajamos
durante várias semanas até chegarmos a um lugar cujo governante chamava-se
Vishtaspa. Eu procurei Vishtaspa e partilhei com ela a minha descoberta. Ela me
recusou dizendo: "Por que haveria de crer nesse estranho? Meus deuses são,
com certeza, mais poderosos que esse Ahura Mazda!". Pensa que desistir!?
Passei dois anos tentando convencer Vistaspa, e enfrentando a mais cruel
oposição, passando, inclusive, um tempo preso, um acidente com o cavalo de
Vishtaspa ajudou-me a resolver esse impasse. À beira de morte, o cavalo
tornou-se o pivot de todas as atenções. Vistaspa chamou sacerdotes,
feiticeiros, médicos e sábios para salvar o seu cavalo. Juntos eles tentaram de
tudo, inclusive oferecendo aos deuses dezenas de sacrifícios de outros cavalos.
Além disso, brigaram entre si, fizeram intrigas, mas nada aconteceu, o cavalo
de Vishtaspa só piorava. Eu, que fora criado num ambiente rural, logo percebi
que ele fora envenenado. Procurei Vishtaspa e sugeri um remédio muito usado
nesses casos em minha terra. Sem alternativas, embora descrente, Vishtaspa
aceitou a minha idéia e em dois dias seu cavalo estava de pé, sem sinal do
doença. Todos ficaram pasmos e acharam que eu tinha operado um milagre. Eu
poderia ter usado essa ocasião para arrogar-me poderes sobrenaturais, mas
talvez, por ter sido sincero, consegui mostrar uma sublime beleza e
profundidade de mensagem. Respondi dizendo que havia apenas usado a minha boa
mente e os conhecimentos que tinha adquirido em minha casa. Vishtaspa e sua
família parece que ficaram encantados com a minha honestidade e simplicidade, e
dispuseram-se a ouvi-me de novo, dessa vez com coração e mentes desarmados. Em
pouco tempo não só Vishtaspa e sua família haviam sidos iniciados, como também
grande parte de seu povo.
Eu nasci de uma
virgem, dei uma grande gargalhada ao nascer. A natureza inteira se regozijou
com a minha vinda ao mundo. Desde tenra idade, eu possuía uma sabedoria
extraordinária, manifestada em minha conversação e em minha maneira de ser. Aos
sete anos já começei a cultivar o
silêncio. A minha vida foi salva muitas vezes dos meus inimigos que queriam
martirizá-me a fim de que eu não chegasse à maturidade e cumprisse a minha
missão divina. Aos quinze anos de idade realizei valiosas obras religiosas e
cheguei a ser conhecido por minha grande bondade para com os pobres, anciãos,
enfermos e animais.
Eu vivi quase sempre
isolado, habitei no alto de uma montanha, em cavernas sagradas. Não ingeri
nenhum alimento de origem animal. Fui ao deserto, onde fui tentado pelo diabo,
mas não sucumbi à tentação. Quando completei trinta anos comecei minha missão. Encotrei
muitas dificuldade para converter as pessoas à minha nova religião. Durante dez
anos de pregação só encontrei um crente. E esse era meu primo. E minha voz
ficou que como uma voz que clama no deserto porque ninguém me escutava e não me
entendia.
Fui perseguido e
hostilizado pelos sacerdotes e por toda a sorte de inimigos ao longo de dez
anos. Os príncipes recusaram dar-me apoio e proteção e encarceraram-me porque
entendiam que a minha nova mensagem ameaçava a tradição e causava confusão nas
mentes de seus súbditos. Com 40 anos, realizei milagres e preocupava-me com a
instrução do povo. Converti o rei Vishtaspa, que se tornou um fervoroso
seguidor da religião por me pregada, iniciando a verdadeira difusão dos meus
ensinamentos e de uma grande reforma religiosa. Quando completei 77 anos de
idade, morri assassinado enquanto rezava no templo, diante do fogo sagrado.
- Percebe que a
religião te tirou a vida terrena?
- sim. Ensinei que
antes de o mundo existir, reinavam dois espíritos ou princípios antagônicos: os
espíritos do Bem, Ahura Mazda, e do Mal, Arimã. Tinha as divindades menores, gênios e espíritos
ajudavam Ormuz a governar o mundo e a combater Arimã e a legião do mal que hoje
é chamados de anjos. Arimã é uma
serpente. Ele é Criador de tudo que há de ruim: crime, mentira, dor, secas,
trevas, doenças, pecados. Ele é o
espírito hostil, destruidor, que vive no deserto entre sombras eternas. Ormuzd,
no entanto, é o Criador original, organizador do mundo de modo perfeito. Ele é
o criador do universo e da raça humana, com poderes para sustentar e prover
todos os seres, na luz e na glória supremas.
- o que tens a dizer
do princípio?
- no princípio sempre
existiu o bem e o mal. A luta entre Bem e Mal origina todas as alternativas da
vida do universo e da humanidade. A vitória definitiva de Ormuz sobre Arimã só
poderá ocorrer se eu consegui formar uma legião de seguidores e servidores,
forte o bastante para vencer o Espírito Hostil, e expurgar o Mal do universo.
- Hum! De acordo com
os seus preceitos, o mundo duraria doze mil anos. No fim de nove mil anos,
ocorreria a segunda ida a terra como um sinal e uma promessa de redenção final
dos bons. Isso seria seguido do nascimento miraculoso do Saoshyant, estava se
referindo ao Messias hebreu, cuja missão seria aperfeiçoar os bons para o fim
do mundo, da história humana, enfim, para a vitória do Bem sobre as forças do
Mal? A cada mil anos viria um profeta,messias, Saoshyant? você disse que,
assim, nos últimos três milênios, três Saoshyant preparariam a completude do
grande ano cósmico. Cada série de desenvolvimento da História seria presidida
por um profeta, que teria seu hazar, seu reino de mil anos. Anunciando a
chegada do tempo em que surgirá da raça persa o Shah Bahram, o Senhor
Prometido, o Salvador do Mundo, o Grande Mensageiro da Paz. disse que no final
dos tempos haveria o julgamento derradeiro de todas as almas e a ressurreição
dos mortos. consta também que você disse que o mal poderia ser banido para
sempre do universo, com o nascimento de um novo mundo, física e espiritualmente
perfeito, la na Terra. Não seria possível, assim, a coexistência de um mundo
físico degradado e um mundo hiperfísico perfeito.
Você, com a sua
mensagem, provocou uma verdadeira transformação no modo de pensar da sua
civilização, contrariando o tradicional pensamento dos sábios de sua época. Sua
mensagem continham o triplo princípio de boa mente, boas palavras e boas ações.
- É, O Bem e o
Mal, manifestam-se também na alma
humana, e a única forma de poder organizar o mundo e a sociedade é estando o
Bem acima do Mal. Este não traz contribuição alguma para a construção de uma
vida boa, já que impossibilita uma relação equilibrada entre ser humano,
sociedade e natureza.
eu proponho que o homem encontre o seu lugar no
planeta de forma harmoniosa, buscando o equilíbrio com o meio natural e social,
respeitando e protegendo terra, água, ar, fogo e a comunidade. O cultivo de
mente, palavras e ações boas é de livre escolha: o indivíduo deve decidir
perante as circunstâncias que se apresentam em determinado fato. A boa
deliberação, ou seja, uma boa reflexão a respeito de cada ação faz surgir uma
responsabilidade social para colaborar com o projeto que Deus propôs ao mundo.
Os seres humanos, portanto, possuem livre-arbítrio e são livres para pecar ou
para praticar boas ações. Mas serão recompensados ou punidos na vida futura
conforme a sua conduta. Os mandamentos são: Fale a verdade! Cumpra com as
promessas! Não contraia dívidas!. Trate
seu sememelhante como a te mesmo! Age como gostarias que agissem contigo!
Entre as condutas
proibidas destacavam-se a Não seja guloso!, Não seja orgulhoso!, Não seja
indolente, Não cobiçarás!, a ira, a luxúria, Não adulterás!, Não abortás!, Não
calúniais! Não dissipais. Cobrar juros a um integrante da religião era
considerado o pior dos pecados. Reprovava-se duramente o acúmulo de riquezas.
As virtudes como
justiça, retidão, cooperação, verdade e bondade, surgem com o princípio
organizador de Deus Ascha, que só se pode manifestar com o esforço individual de
cultivar a Tríplice Bondade. Esta prática do Bem leva ao bem-estar individual
e, conseqüentemente, coletivo. A comunidade somente pode surgir quando o
indivíduo se vê como autônomo, e desse modo pode descobrir o outro como pessoa.
O ego é valorizado como fonte para o reconhecimento do próximo. Cultivado de
forma sadia, o ego torna-se forte e poderoso para o homem observar a si próprio
como membro da comunidade e capaz de contribuir para o bom relacionamento
harmonioso com os outros seres.
Por isso, eram incentivadas
as virtudes econômicas e políticas, entre elas a diligência, o respeito aos
contratos, a obediência aos governantes, a procriação de uma prole numerosa e o
cultivo da terra, como está expresso na frase: "Aquele que semeia o grão,
semeia santidade". Havia também outras virtudes ou recomendações de Ahura
Mazda: os homens devem ser fiéis, amar e auxiliar uns aos outros, amparar o
pobre e ser hospitaleiros.
A doutrina original
de Zaratustra opunha-se ao ascetismo. Era proibido infligir sofrimento a si,
jejuar e mesmo suportar dores excessivas, visto o fato de essas práticas
prejudicarem a alma e o corpo, e impedirem os seres humanos de exercerem os
deveres de cultivar a terra e de procriar. Essas prescrições fomentavam a
temperança e não a abstinência. Assim, as exortações e interdições
destinavam-se a proporcionar aos homens uma boa conduta, além de reprimir os
maus impulsos.
[editar] Doutrina
religiosa
Ver artigo principal: Zoroastrismo
As revelações e
profecias de Zaratustra estão contidas nos Gathas, cinco hinos que formam a
mais antiga parte do livro do Masdeísmo, o Avesta. Os Gathas datam do final do
segundo milênio a.C. Foram escritos numa língua do nordeste do Irã, aparentada
ao sânscrito, o avestan gático. Originalmente, esses hinos eram transmitidos
oralmente. Grande parte do Avesta original foi destruída, com a invasão de
Alexandre Magno e com o domínio posterior do Islamismo. As escrituras sagradas
do Masdeísmo, o Avesta ou Zend-Avesta, como se tornaram mais conhecidas no
ocidente, significam "comentário sobre o conhecimento".
O Zoroastrismo é uma
das religiões mais antigas e de mais longa duração da humanidade. Seu
monoteísmo influenciou as doutrinas judaica, Cristãs e Islâmicas [carece de
fontes?]. Após o domínio Islâmico do Irã, o Masdeísmo passou a ser religião de
uma minoria, que passou a ser perseguida pela nova religião hegemônica. Por
isso, parte dos seguidores remanescentes migrou para o noroeste da Índia, onde
foi estabelecida a comunidade Parsi. No Irã, permanece ainda a comunidade
Zardushti. Atualmente, o número total de seguidores do Masdeísmo (Zoroastrismo)
não chega a 120 mil, distribuídos em pequenas comunidades rurais. Por ser uma
religião étnica, o Masdeísmo geralmente não permite a adesão de convertidos. Na
atualidade há uma maior flexibilidade, devido à migração, à secularização e aos
casamentos realizados entre etnias distintas.
Como já mencionado, a
base da doutrina de Zaratustra é o dualismo Bem-Mal. O cerne da religião
consiste em evitar o mal por intermédio de uma distinção rigorosa entre Bem e
Mal. Além disso, é necessário cultivar a sabedoria e a virtude, por meio de
sete ideais, personificados em sete espíritos, os Imortais Sagrados: o próprio
Ahura Mazda, concebido como criador e espírito santo; Vohu Mano, o Espírito do
Bem; Asa-Vahista, que simboliza a Retidão Suprema; Khsathra Varya, o Espírito
do Governo Ideal;Spenta Armaiti, a Piedade Sagrada; Haurvatãt, a Perfeição; e
Ameretãt, a Imortalidade. Estes deuses enfrentam constantemente as forças do Mal,
os maus pensamentos, a mentira, a rebelião, a doença e a morte. O príncipe
destas forças é Angra Mainyu, o Espírito Hostil, também conhecido como Arimã.
A adoração a Ahura
Mazda ou Ormuz pode também ser chamada Mazdayasna (Adoração ao Sábio). O culto
não requeria templos, pois Deus era representado pelo fogo, considerado sagrado
e símbolo de pureza. A chama era mantida constantemente em altares, erguidos
geralmente em lugares elevados das montanhas, onde se faziam oferendas. Os
magos, detentores de segredos e de verdades reveladas, dirigiam os ritos e os
cultos – são referidos na Bíblia, no Novo Testamento. O rei da Pérsia teria
enviado a Israel sacerdotes do Zoroastrismo, que seguiram uma estrela até
Belém, no intuito de encontrar o Salvador, ou Messias.
Zaratustra
transmitira, aos magos e adeptos, os segredos e a verdade suprema que lhe foram
revelados por Ahura Mazda por meio de um anjo chamado Vohu Manõ. Assim como o
Cristianismo, o judaísmo e o islamismo, também no zoroastrismo a revelação
divina é elemento essencial.
A religião Masdeísta
diferencia-se das existentes até então não só pelo dualismo Bem–Mal, mas também
pelo caráter escatológico. Entre os seus dogmas, estão a vinda do Messias, a
ressurreição dos mortos, o julgamento final e a translação dos bons para o
paraíso eterno. Inclui também a doutrina da imortalidade da alma e o seu
julgamento.
Conforme os seus
méritos ou pecados, elas iriam para o mundo dos justos (paraíso), para a mansão
dos pesos iguais (purgatório) ou para a escuridão eterna (inferno). Não
sepultavam, incineravam ou jogavam os mortos em rios, mas ficavam expostos em
altas torres a céu aberto. Os corpos dos justos, salvos da destruição,
secariam; já os dos injustos seriam devorados pelas aves de rapina. Desse modo,
Zaratustra pode ser visto como um dos primeiros teólogos da história por ter
erigido um sistema de fé religiosa desenvolvido e estruturado.
Enquanto religião
ética, o Masdeísmo possuía a missão de purificar os costumes tradicionais de
seu povo a fim de erradicar o politeísmo, o sacrifício de animais e a magia.
Com isso, o culto poderia atingir uma dimensão ético-espiritual elevada.
Zaratustra pregava que o esforço e o trabalho eram atos santos. Eis algumas
frases ou ditos a ele atribuídos:
* "O que vale mais num trabalho é a
dedicação do trabalhador".
* "O que lavra a terra com dedicação
tem mais mérito religioso do que poderia obter com mil orações sem nada
fazer".
* "Aquele que diz uma palavra injusta
pode enganar o seu semelhante, mas não enganará a Deus."
* "Deus está sempre à tua porta, na
pessoa dos teus irmãos de todo o mundo."
* "O que semeia milho, semeia a
religião. Não trabalhar é um pecado."