Santa Luzia-Quem governa um Município deve seguir as normas da moral? O político se
funda em princípios éticos?
Dr. Pau de Dá em Doido- Olha,
para ser extremamente realista, sobre as duas perguntas a minha resposta é a
mesma, não, e nem deveria. Porque a relação entre moral e política deve ser
investigada na sua verdade efetiva, ou seja, nas realidades de fato, e não
segundo princípios abstratos.
Santa Luzia-Que fatos podemos dá
um exemplo?
Dr. Pau de Dá em Doido - Ora, já
vem aí os candidatos fazendo suas campanhas imaginando uma Luzia de fantasia
nunca vista nem conhecida na realidade, mas que mais parece uma bela deusa do
Olimpo que só, para alguns, só não era mais bela que Helena de Tróia. Na
verdade, não existe uma Luzia ideal, mas uma Luzia real. Porque, se bem ver, há
diferença em como se vive e como se deveria viver, pois aquele que abandona o
que faz por aquilo que deveria fazer só verá que aprendeu a fazer sua própria
ruina.Se fores de opinião diversa da minha eu entendo perfeitamente, mas um
homem que queira ser bom no meio de tantos homens maus acaba por arruinar-se.
Santa Luzia- Já que estamos
falando de política e, como a palavra sugere, política é todo tipo de
comunidade seja lá que tipo for: religião, sindicato, estado, país...Enfim.
Somos mais ou menos 20 mil luzienses que temos um Estado comum: Município; e
várias subcomunidades incomum tais como: igrejas, crenças, descrenças,
sindicatos, partidos, escolas e para finalizar: casas. Eu pergunto: nós estamos
agregados uns aos outros nessa cidade que chamamos de sociedade por puro
instinto ou por necessitamos uns dos outros, ou seja, estamos unidos por
necessidade?
Dr. Pau de Dá em Doido- Está se
saindo muito bem nas suas perguntas. Se continuarmos assim vamos fazer uma
educação política em Santa Luzia do Paruá nunca dantes imaginada. Na verdade,
pelo fato de nossa condição sexual heterogênea somos institivamente
sociológicos por natureza, mesmo que sem se dá conta disso, somos levado à
procriação e isso é uma necessidade para existir vida humana e outras pelo
mesmo processo. Aristóteles via na sociedade um resultado de instinto
primordial, mas Hobbes não via assim. O que Hobbes via era que o gênero humano,
diferente das formigas, por exemplo, de animais sociais, não existe, em nós,
sociabilidade instintiva porque entre os homens não existe um amor natural, mas
somente uma explosão de temor e necessidade recíprocos que se não fosse
disciplinada pela Prefeitura, originaria uma incontrolável sucessão de violências
e excessos. Precisamente porque o contrato de fundação de toda sociedade humana
tem caráter artificial, então, nesse caso, faz-se necessário que a Prefeitura
seja Absoluta, Soberana e poderosa, capaz de suprimir qualquer tentativa de
fazer prevalecer o interesse pessoal. Daí que somente todos como súditos de uma
autoridade externa como a Prefeitura, os seus habitantes podem acabar com
qualquer forma de incompatibilidade reciproco que prevaleceria se os moradores
se transformassem em cidadãos, adquirindo o direito de julgar a coisa publica.
Santa Luzia- Um político segue
carreira política como um ofício. “É sua profissão” segundo ele. O Senhor
gostaria de falar sobre?
Dr. Pau de Dá em Doido- Eu penso
que isso é muita prepotência e um tanto quanto perigoso porque quem faz as leis
não deveria depois de aprovada ser encarregado de coloca-las em práticas e
fazer com que sejam respeitadas. Quem escolheu a politica como profissão
deveria escolher qual sua especialidade: fazer leis, sancionar, ou fazer
cumprir. Então um vereador nunca poderia ser prefeito e um prefeito, nunca um
vereador e assim também para judiciário. Caberia bem na nossa Lei Orgânicauma
emenda assim e logo temos autonomia para isso e não é anticonstitucional e
politicamente correto. Certamente quem faria uma lei assim? Quem sancionaria?
Mas quem mesmo faria cumprir? Seria beber amanhã do próprio veneno. O veneno
que faz justiça.
Santa Luzia- Até em que ponto a
política deve ser tolerante?
Dr. Pau de Dá em Doido- Logicamente
que tolerância temlimite, mas todos podem ver que a politica tem uma tendência
a ser tolerante com os poderosos e intolerante com os fracos. O que acontece é
que um prefeito quer tolerar um poderoso para que possa vi a ser seu aliado. Mas
vemos também que a intolerância está também entres as minorias das classes
porque sempre há conflitos internos.
Santa Luzia- Como um prefeito
deve agir?
Dr. Pau de Dá em Doido- O
prefeito deve ser tanto raposa como leão foi o que disse Maquiavel. O que ele
quis dizer com isso? Que o prefeito deve manter sua palavra segundo sua
conveniência. Ele pode alternar a lei e a força e, como disse Maquiavel, nos
casos específicos deve ser raposa e leão, astuto e agressivo. Mas esse modo de
agir tem sempre que levar em conta o interesse da prefeitura e não sua opinião.
O prefeito é só um delegado da Prefeitura que tem um objetivo filosófico dos
seus súditos. A prefeitura está acima de todos porque lá está a síntese da
opinião de todos.
Santa Luzia - Nós somos falsos
por natureza?
Dr. Pau de Dá em Doido- Olha, a
natureza humana, a propensão à traição é congênita. Se todos os homens fossem
bons, esse não seria um bom preceito; mas posto que os homens sejam maus e não mantenha
a palavra a ti empenhada, também não deve mantê-la em relação a eles. De
qualquer forma, a traição deve ser sempre disfarçada. Em política, a aparência
é tão importante quanto a substancia. E nunca faltaram a um prefeito razões
legitimas para mascarar a inobservância. De que se poderia dá vários exemplos
na recente politica de Santa Luzia do Paruá,mostrando quantas pazes, quantas
promessas se tornaram vãs pela deslealdade dos prefeitos: e aquele que sobe
melhor emular a raposa saiu-se melhor. E por isso mesmo tem a admiração do povo
ao dizerem: “esse é mala”. Mas é preciso mascara bem essa natureza e ser um
grande simulador e dissimulador: os homens são tão ingênuos e sujeitos às
necessidades do momento que aquele que engana encontrará sempre quem se deixa
enganar.
Santa Luzia - Gostaria de
finalizar perguntando se existemmorais diferentes?
Dr. Pau de Dá em Doido - creio
que sim, pois em uma guerra sempre há um ganhador e consequentemente um
perdedor e é aí que se encontram duas morais: a do vencedor e a do perdedor. Na
antiga Grécia, a ética dominante era da aristocracia e se fundava no valor do
indivíduo, na qualidade de sua pessoa, prescindindo dos comportamentos
efetivamente adotados. A saúde, a juventude, a sexualidade, o orgulho da
própria força, o desejo de domínio expressos em falsos pudores eram então
considerados como virtudes. Mas o que aconteceu? Aconteceu foi que essa vital
alegria de viver decaiu com a aristocracia cavalheiresca que havia inventado,
sendo substituída por uma moral de escravos e, depois pelo Cristianismo que é
ainda hoje a grande doença pisca do homem ocidental. Os mesmos valores que se
impuseram são ainda os mesmos pelos quais somos educados: o pudor do corpo, a
vergonha da sexualidade, a humildade, o amor pela pobreza, a renuncia de viver
em plenitude, o desejo da morte que começou com exemplo de Sócrates que tomou a
sua dose de veneno letal em busca de encontrar velhos amigos no céu ou no
inferno que deu origem ao mito de Jesus que só trocou a cicuta pela cruz.
Santa Luzia- Muito obrigado!
Pode fazer suas considerações finais.
Dr. Pau de Dá em Doido- Não há
mais muito a dizer, mas que fique entendido que a politica encontra em si mesmo
sua própria justificação, ao garantir a ordem e a liberdade de convivência
civil. A politica, portanto, constitui uma ciência autônoma e independente de
qualquer sistema ético ou religioso.
“governar grilhando a mente através do medo da punição noutro
mundo é tão baixo quanto usar a força” (Hypatia)