quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Gramsci: nova estratégia educativa


NOVA ESTRATÉGIA EDUCATIVA
GRAMSCI

“Devemos impedir esse cérebro de funcionar durante vinte anos”

Essa foi a frase proferida pelo procurador-geral do governo de Mussolini no julgamento de Gramsci. Pois entre os intelectuais italianos que marcaram a historia da europa, numerosos são os que passaram anos de sua vida e escreveram o melhor de sua obra na prisão ou no exilio. Quanro mais seu pensamento e suas atividades contibuiam para o desenvolvimento cultural e para a educação do povo, maiores foram a repressão de sua voz e a deformação de sua mensagem.
Assim como Tommaso Campanella escreveu a primeira “Utopia” italiana, com o título Acidade do Sol, durante os vinte e sete anos que passou no cácere, também antonio Gramsci escreveu na prisão o texto mais importante já produzido sobre a função educativa e política dos intelectuais que atualmente são conhecidadas com o nome de Caderno do Cárcere.

Jornalista e membro do Partido comunista Italiano, Antonio Gramsci se notabilizou como escritor brilhante e político atuante. Passou mais de 10 anos preso sob o regime facista de Mussolini.
No projeto filosófico de Gramsci o que está em pauta é a emancipação universal de toda a humanidade e, portanto, a necessidade de nós construímos, de preferencia pelo consenso, esta visão que se tronasse hegemônica para toda humanidade, que pudesse assegurar a todas as pessoas um mais de autonomia, um mais de realização e um maior índice de humanização.

FILOSOFIA DE PRÁXIS

Bem na linha da tradição marxista, a visão da filosofia da práxis de Gramsci é uma visão universalista, é uma visão que transcende os limites de cada sociedade histórica particular. Trata-se de uma proposta de construção de uma civilização cosmopolita, ou seja, as condições de humanização precisam ser válidas para todos os homens, independente de todas as suas diferenças e particularidades. Nenhuma diferença deve justificar qualquer tipo de desigualdade.
Para Gramsci, o papel do filosofo deve ser pensar, explicitar e discutir a união entre teoria e prática, ou seja, a ítima ligação que existe entre nossas atividades subjetivas, tais como nossa reflexão e nossas ações objetivas, seja no trabalho ou em nossa atividade política e social.
Ele insiste em dizer que todos os homens são filósofos. Mas ele não quer dizer com isso que que todos os homens sejam profissionais em filosofia, mas que todas as nossas ações, desde as mais simples, desde as mais elementares, são ações atravessadas por uma significação propriamente reflexiva, e uma reflexão teórica.
Ele se esforça em mostrar que não existe dicotomia entre pensamento puaramente teórico, subjetivo e uma prática concreta, objetiva. Por isso, ele fala em práxis, que é a prática informada pelo conhecimento, informada pela reflexão.

EDUCAÇÃO

Para Gramsci, a educação deve elevar as pessoas do senso comum ao bom senso. O bom senso é a capacidade de entendimento da realidade, do conhecimento dos requisitos da ação de talmodo que o agir do homem tanto no âmbito individual, quanto coletivo, seja esclarecida pela consciência filosófica.
A educação é esse processo de elevação da consciência filosófica, ou seja, este máximo de explicitação dos sentidos que norteiam a nossa prática, para que ela não seja uma prática mecânica, instintiva ou uma pratica totalmente condicionada como ocorre, por exemplo, no caso dos demais seres vivos. O seu agir não é conduzido por significações intelectualmente elaboradas.
A tarefa que cabe à educação é suscitar o bom senso, a consciência filosófica e, consequentemente, o exercício da reflexão crítica.

Quando nós olhamos a educação, de modo geral, como professor formativo, é sempre esta idéia, que é da tradição filosófica ocidental. É você sair da pré-conciencia para a consciência, e no caso da expressão de Gramsci, do senso comum à consciência filosófica. Quando nós passamos para a escola concretamente, como é que dá esse processo formativo? É justamente explicitando a ideologia e, eventualmente, construindo uma contra-ideologia, que é o que pede da escola.

IDEOLOGIA E CONTRA-IDEOLOGIA NA ESCOLA

Quando a ideologia é construída a partir do consenso e da comunhão das posições, sentimentos e interesses de todos os membros dessa sociedade, temos,sengundo Gramsci, uma ideologia orgânica. Por outro lado, se a ideologia é construída de forma mais artificial, temos uma ideologia arbitrária. Acontece quando, por exemplo, um partido político com a intenção de dominar a sociedade, elabora um programa ideológico, um conjunto de valores que impõe àquela sociedade.

ESCOLA UNITÁRIA

A proposta que Gramsci tem para a escola, que ele designou como escola unitária, seria exatamente uma experiência desta organicidade, desta harmonia, deste esforço de consenso que constrói a comunidade. Quando Gramsci considera a escola como devendo ser uma experiência unitária, ele está dizendo, por exemplo, que a formação que nós vamos receber na escola durante esse processo, dessa dialética pedagógica de sair do senso comum para o bom senso, de conhecer a ciência, a filosofia, as artes, este processo mediado pelo currículo deve ser um processo plenamente unificado. Unificado primeiro no seguinte: todas as pessoas tem de participar desse processo. Não há uma hierarquização, uma diferenciação no trabalho pedagógico. Ele deve ser um trabalho pedagógico unificado, direcionado, destinado a todos os integrantes da sociedade. Mas, além disso, esse trabalho de formação, que se dá no interior da escola, não se estrutura de forma dividida, fragmentada. É, simultaneamente, uma educação única, ou seja, a educação para o trabalho, para a vida social, para acultura. Não existe uma escola profissionalizante que se separa de uma escola de humanidades, de uma escola que cuidadasse do teórico ou que cuidasse do prático, porque para Gramsci é fundamental esta união entre essa dimensão de subjetividade, de criação teórica e essa dimensão de ação prática.

EDUCADOR GRAMSCIANO

Para Gramsci, a escola deve ter um caráter unitário, ou seja, deve integrar as pessoas em todas as dimensões de nossa existência. Além disso, a educação escolar é a responsável pela conservação, sistematização e disseminação de todo o conteúdo armazenado e articulado pela ideologia, tais como a ciência, as artes, a filosofia, a política e a ética.
Não só podemos como devemos pensar a relação pedagógica, a didática, a prática docente do educador, minimamente coerente com essas preimissas. Porque se nós concebermos o processo pedagógico como esse processo de explicitação das significações da existência humana, que estão articuladas em torno desses conjuntos ideológicos, desta cosmovisão, é evidente que o professor não pode atuar de uma maneira puramente tecnicista. A formação jamais será um processo mecânico, autoritário e que não faça mediação única e exclusivamente através de uma lógica e de uma pedagogia dialética, no sentido de que leva o estudante a esta experiência de reflexão.

A Educação não deve ser instrucional, mas de vivencia, de reflexão e de conhecimento. Um processo que, ao mesmo tempo em que o exercício da subjetividade pode trazer ao educando, leva esse indivíduo a fazer uma avaliação crítica de todo o acervo de que dispõe e a propor novos significados. O educador com inspiração gramsciana deve dominar as informações e metodologias didáticas de sua área de atuação. Deve ser criativo no sentido de despertar, incentivar e fazer avançar as descobertas dos aprendizes e ser crítico quanto a sua própria prática. É um professor não dogmático, mas construtor, mas que valoriza a autonomia e o espaço para a criação.
Considerando um professor não dogmático somente de conteúdo, mas de fato e de direito, ou seja, que o professor seja um professor isento de qualquer assunto religioso –permita-me falar disso aqui, pois julgo coerente e oportuno, demais estou entalado e preciso tirar esse engasgo - que não seja adepto, na sua vida privada, de nenhuma religião. Porque as religiões são dogmáticas, são doutrinárias, são avessas a ciências – porém nada fazem sem a ciência - a arte e a filosofia de livre pensador. Porque um educador cristão, por exemplo, acredita que os mortos ressuscitam.Que os espiritas acreditam em reencarnação e por aí vai. O que faz com que esse educador, por mais profissional que seja não consegue se livrar desses dogmas, e, portanto, vai andar com o freio de mão puxado. A criança, aluno, já recebe de cara isso em casa, mas na escola é o lugar onde se podem tirar os tóxicos mentais impregnados pelos dogmas, e, com mais firmeza, os da religião, que, já é visto sempre, por esses dogmas absurdos matam e morrem. O professor educador, é um agente publico, pertence ao Estado e o Estado deve ser Laico. Mesmo as escolas privadas de uma forma ou de outra é Estatal. Visto que seus currículos e grades curriculares obedecem a resoluções do Estado. Na verdade, para um Estado Laico, deve se banir o “Ensino Religioso” das escolas brasileiras que, currículo “facultativo”, está impregnado nas escolas brasileiras. Esses ensinos são puramente cristão porque ninguém de outra religião se atreveria em reivindicar o ensino da Umbanda, nem Mulçumano ou espírita. Não há o que ensinar em religião porque para o religião tudo já tem explicação, tudo é Deus e nem mesmo se pode discutir como é que Deus fez isso ou aquilo. Que a palavra de ordem é: “que sua palavra seja sim sim, não não, o que passar disso é do maligno”. Portanto, o professor Gramcino vai durar muito tempo para ser uma realidade. Todo religioso, aqui os cristãos, analfabetos, nada sabem de nada,mas de deus tudo sabe. Portanto, melhor do que ir a escola é ficar em casa. Porque aprender a ler não significar nada, posto que tem o Livro da Vida, tem a Bíblia que, sem nunca terem lido um frase dizem: “ a Bliblia diz que”.E pronto, ali está e “verdade” escrita pelo punho do próprio Deus e nem mesmo se pode contradizê-lo porque o pior dogma, o dogma que mais tem força é aquele que diz: “respeita a minha crença!”.

NOVA ESTRATÉGIA EDUCATIVA

Os processos educativos de desenvolve de muitas maneiras e devem ser estudados prestando especial atenção aos momentos que geralmente não são considerados educativos no sentido estrito do termo. A escola, a formação profissional, a educação de adultos e a universidade podem ser apenas uma fachada, um aparente conflito entre a organização da cultura e o poder político, sendo que a maioria das ações que produzem “persuasão permanente” ocorrem nos bastidores, à margem do sistema educativo formal. As decisões tomadas no âmbito dos meios de difusão, da editoração e da comunicação; as mudanças introduzida na organização do trabalho; as opções em favor de uma ou de outra tecnologia da indústria e dos serviços; o sistema de escolhae nomeação de funcionários e dirigentes de sindicatos e dos partidos, bem como sua função na vida cotidiana da sociedade constituem os principais veículos modernos e ocultos dos processos educativos.

É preciso perder o habito e deixar de conceber a cultura como saber enciclopedio, no qual o homem é visto sob a forma de recipiente para encher e amontoar com dados empíricos, com fatos ao acaso e desconexos, que ele depois deverá arrumar no cérebro como nas colunas de um dicionário para poder então, em qualquer altura, responder aos vários estímulos do mundo externo. Esta forma de responder aos vários estímulos do mundo externo. Esta forma de cultura é deveras prejudicial, especialmente para o proletariado. Serve apenas para criar desajustados, ente que crer ser superior ao resto da humanidade porque armazenou na memoria certa quantidade de dados e de datas, que aproveita todas as ocasiões para estabelecer quase uma barreira entre si e os outros. Serve para criar um certo intelectualismo flácido e incolor que pariu uma ceterva de presunçosos e desatinados, mas deletérios para a vida social do que os micróbios da tuberculose ou daa sífilis para a beleza e a sanidade física do corpos.

a história de Judite sobre o poder e o dejeso

 




No movimento Barroco a chegada de um novo pensamento (comercial, filosófico, social), da inevitável morte de Deus, do incômodo com as paixões humanas, da repressão externa e dos conflitos internos fez nascer obras lindíssimas. Todas, mais ou menos católicas, tem a capacidade de expor uma urgência terrível de ser gente, uma percepção absurda dos desejos e malícias humanas, apesar da repressão: os sonetos do Gregório, os sermões do Padre Vieira, as pinturas do Caravaggio. Na tela acima, Judite decapita Holofernes, e deixa o espectador com um sentimento que suponho Caravaggio tinha diante dessa história bíblica: o horror de ver o poder humano ser derrubado por seus desejos.
A história, contada lá no antigo testamento, no livro de Judite, (para os desavisados: não, este não é um blog cristão) é mais ou menos assim: Holofernes, capitão do exército de Nabucodonosor, rei assírio que tomou a maior parte dos povos do “mundo” (que, naquela época, limitava-se a um pedacinho só), foi enviado a  invadir as terras daqueles que iam contra a vontade do rei. Chegou então aos israelitas, mas como ele era um homem inteligente (já ouvira falar que o deus daquele povo agia com requintes de crueldade), tem uma grande ideia: tomar as fontes de água. Ele, então, coloca cem homens em cada fonte e espera que o desespero tome conta da cidade, ou que todos morram de sede. Enquanto espera, no conforto da sua tenda, recebe a visita da viúva Judite (segundo a bíblia: “Era extremamente bela, e seu marido tinha-lhe deixado grandes riquezas”), israelita, toda enfeitada com braceletes, brincos e vestido, que vem trazendo vinho, queijo, figos e grãos. Ao vê-la, “Holofernes ficou cativo de seus olhos” (tradução para meninos de hoje: achou-a linda, gostosa e bacana pra caralho). Depois de ouví-la dizer que seu deus a havia enviado para avisar que ele venceria a guerra (ahhh, qual mulher não elogia?) ele já estava apaixonadíssimo, pobrezinho (provavelmente pensou: “Além de bonita e rica é inteligente!”). Mas, como vocês já devem saber ( o quadro não tem nada de sutíl), ela não estava lá pelos músculos fortes e poderosos do pobre moço: ela era serva do deus de Israel, ela queria sua cabeça. Durante três dias ficou no acampamento, e ainda podia entrar e sair livremente para fazer suas preces. No terceiro dia, Holofernes, já louquíssimo e sem juízo (imaginem só, um marechal acreditar no inimigo!), resolve convidá-la para um vinhozinho na sua tenda, e daí, vejam só:
15 Ela levantou-se e, trajada com requinte, apresentou-se diante dele. 16 O coração de Holofernes agitou-se, porque ardia de paixão por ela. 17 Come e bebe alegremente, disse-lhe ele, pois encontraste graça aos meus olhos. 18 Ao que respondeu Judite: Eu beberei, senhor, porque nunca em minha vida me senti tão engrandecida como hoje. 19 Mas ela tomou e comeu do que a sua serva lhe tinha preparado, e bebeu com ele. 20 Holofernes alegrou-se grandemente por tê-la junto dele, e bebeu vinho como nunca tinha bebido.
O resultado, todo mundo imagina. Enquanto o pobre dormia bêbado, Judite o golpeia com uma faca e, não contente, decapita Holofernes. Adeus poder, adeus novas terras, adeus Judite. Holofernes foi (literalmente, pelo menos a cabeça) para o saco, que ela (cobrona) leva para incitar o seu povo a expulsar o exército assírio.
O velho testamento e suas crueldades. Certamente Caravaggio não via o poder divino agindo nessa história. Ele via, sim, um homem poderosíssimo sucumbindo aos seus desejos de amor, sexo e beleza (coisa que o Caravaggio conhecia bem). O quadro é pertinente e vai ser pertinente para sempre: quem nunca foi decapitado, exposto e ridicularizado pelo desejo? Hein? E quem nunca foi a Judite, maliciosa, tirando proveito do desejo alheio?