Não é por
nada que Nietzsche é um dos autores mais lidos no mundo. Ele não tem medo de
não somente analisar friamente instituições e religiões, mas as ataca
diretamente, sem pelos na língua, não importando que sejam instituições
publicas e privadas, políticas ou religiosas, até mesmo indivíduo ou
associações, escritores ou jornalistas, tudo para ele é terreno fértil para
desenvolver e mostrar seu pensamento vulcânico, irreverente, impulsivo, mas ao
mesmo tempo frio, lógico e perspicazmente correto. Não como não se curvar às
conclusões a que chega em suas análises do pensamento filosófico tradicional,
da historia do homem e da humanidade em geral, das evoluções e involuções
políticas e religiosas. Nietzsche é contundente, mas ao mesmo tempo sagazmente
ponderado. Responder a ele, condenar suas ideias? Pode-se. Mas não é tarefa
fácil.
Neste livro, Nietzsche passa pelo
crivo de seu cérebro algumas conquistas da sociedade de sua época –que assim
eram consideradas pelo mundo político e filosófico – e condenas algumas como
ilusórias, ataca outras como ridículas e aceitas poucas como fruto do
pensamento de espíritos e mentes superiores. Mas no mundo politico, as despreza
e condena praticamente todas, porquanto conquistas reveladoras de desumanidade,
de domínio improprio de pseudo-vontade superior, de uma moral opressora e
cristãmente insossa, insulsa, inconsequente, insalubre, quando não pérfida.
Esses mitos criados para o homem
e não pelo homem, fomentados por forças políticas e religiosas sem escrúpulos,
esses ídolos estão em seu crepúsculo: serão rejeitados, eliminados, degradados
e banidos da vida do homem. Não lhe pertencem. Foram jungidos a ele. foram lhe
enxertados por uma tradição de fundo orgiástico grego, por uma fé de fundo
cristão, por uma política de fundo escuso e opressor.
O verdadeiro valor reside no
instinto, na realização do instinto, em sua expressão espontânea e livre. É ele
que cria e recria, que impele e faz, que idealiza e transforma, que induz e
resolve, que realiza e plenifica o homem enquanto homem indivíduo, o homem
enquanto grupo social, o homem enquanto projeção política, o homem enquanto ser
livre vivendo no presente, projetando o futuro e renegando o passado à medida
que não lhe serve para construir sua própria felicidade. O mundo de Nietzsche é
um mundo ideal e livre, um mundo apresentado e oferecido ao homem. Compete ao
homem, sem qualquer interferência, fazer dele o que bem entender.
Nietzsche era dotado de um
espirito irrequieto, perquiridor, próprio de um grande pensador. De índole
romântica, poeta por natureza, levado pela imaginação, Nietzsche era o tipo de
homem que vivia recurvado sobre si mesmo. Emotivo e fascinado por tudo que
resplandece vida, era ao mesmo tempo sedento por liberdade espiritual e
intelectual; levado pelo instinto ao mundo irreal, ao mesmo tempo era apegado
ao mundo concreto e real; religoso por natureza e formação, era ao mesmo tempo
um demolidor de religiões; entusiasta defensor da beleza da vida, era também
critico feroz de toda fraqueza humana; conhecedor de si mesmo, era seu próprio
algoz; seu espirito era campo aberto em que se irromperem as mais variadas
tendências, sob a influência de sua agitada consciência.
NIETZSCHE
Friedrich Nietzsche é um dos
maiores pensadores que mais influenciam a cultura contemporânea. Contundente e
polemico, foi um dos principais crítico do racionalismo.
Nietzsche é um profundo conhecedor da literatura romântica alemã de sua
época, mas ao mesmo tempo, de toda a cultura e filosofia ocidentais,
particularmente, da mítica da Grécia Clássica. Encontra na tragédia grega a
maior inspiração do seu pensamento a respeito do espírito humano tal como ele
deveria ter se desenvolvido se não fosse o comprometimento ocorrido justamente
com o racionalismo que vai guiar, vai dominar o pensamento grego e, na
sequencia, todo o pensamento ocidental.
Sócrates, Platão e Aristóteles rompem com a
visão mítica da realidade. É a origem do racionalismo, que tem como ponto
culminante o Iluminismo do século XVIII. Alguns de seus principais
representantes foram Kant e Descartes. Para eles, as ações humanas devem ser
orientadas pelo uso da razão.
APOLO E DIONÍSIO
Este posicionamento de Nietzsche com relação à tradição filosófica
ocidental, sem dúvida alguma, representa um contraponto, uma ruptura com
relação a essa tradição que se tornou extremamente racionalista. Ele achava que
era justamente na tragédia grega que se encontravam as raízes da verdadeira
condição do espírito humano. Para isso, fez uma contraposição entre o espírito
dionisíaco e o espírito apolíneo.
Apolo traz o espírito da racionalidade, da
lógica, em oposição ao espírito de Dionísio que representa as forças vitais do
espírito humano.
De acordo com Nietzsche, o
espírito dionisíaco é o espírito da sensibilidade humana, dquelas forças mais
profundas do nosso espírito, do nosso ser que nos movem, que alimentam a nossa
existência como força de potencia, como vontade. Enquanto o espírito apolíneo é
o espírito da racionalidade, o espírito do pensamento lógico que, segundo
Nietzsche, é um pensamento muito matematizante, é um pensamento pouco
impregnado pelas forças vitais. O que
caracteriza exatamente a cultura ocidental foi ter baseado, ter feito esta
opção por este espírito apolíneo, como se o principal da existência humana, a
dimensão principal da existência humana fosse a dimensão do conhecimento
lógico, do uso da racionalidade. É isso que Nietzsche como grande equivoco da
cultura ocidental e que comprometeu tanto a moral, a ciência, a filosofia, a
arte, enfim, a própria maneira de do existir humano nesta cultura ocidental. É
exatamente contra esta orientação que ele propõe, que ele traz, que ele faz a
sua proposta de uma verdadeira revolução cultural, uma retomada dos rumos da
existência humana.
FILOSOFIA A MARTELADAS
Nietzsche luta contra todas as
orientações do racionalismo surgido na Grécia a partir de Sócrates. Questiona
as propostas do cristianismo que, segundo ele, enfatiza o lado fraco e
subserviente do espírito humano. Nietzsche critica as orientações iluministas,
como a valorização doconhecimento científico, bem como os filósofos que defedem
essas propostas, tais como Kant, Descartes e Hegel. Nietzsche também se opõe ao
socialismo por acreditar que, ao defender uma igualdade entre os homens, o
socialismo desqualifica a verdadeira grandeza do espírito humano. Por tantas e
tão contundentes críticas, filosofia de Nietzsche é conhecida como uma
filosofia a marteladas.
Ele está tentando destruir todos
os ícones, todos os pressupostos e, particularmente, todos os valores que a
nossa cultura, com seu embasamento filosófico-racionalista, acabou consagrando.
SUPER-HOMEM
Nietzsche acredita que o homem
não deve seguir os valores consagrados pela cultura ocidental, marcados pela
moral cristã e pela política liberal e iluminista. Sua proposta é que
reencontremos os valores a partir de nossa condição de seres vivos, dotados de
uma potencia instintiva, que apela para uma maior grandeza, para um
posicionamento moral aristocrático. Para Nietzsche, o homem é um ser
voluntarioso, poderoso, que quer e deve defender sua condição de criador da
historia, de condutor de sua própria existência. Sua proposta é do surgimento
de um homem superior, capaz de fruir o prazer e sentir a felicidade.
Nesse sentido, Nietzsche se
posiciona contra a democracia liberal, se posiciona contra o socialismo, contra
o comunismo, por entender que todas as suas propostas, todas essas ideologias
acabam escravizando o homem, de uma maneira ou de outra, o homem, do mesmo modo
que os valores morais do cristianismo conduziram o homem a uma situação muito
análoga à situação do escravo. É bom entender, no entanto, que ao contrário do
que fazem algumas interpretações apressadas, de maneira nenhuma Nietzsche
estava justificando com isso posições como aquelas que se consolidaram em
sistemas políticos tipo nazismo, fascismo. Para Nietzsche, esses sistemas também
apareciam como dominadores dos indivíduos, escravizadores da vontade livre
desses indivíduos. Se é que podemos falar de uma proposta política, a dele
seria de uma sociedade organizada de forma aristocrática, em que toadas as
pessoas pudessem exercer livremente sua vontade de potencia, ou seja, seguir os
seus instintos mais naturais, mais profundos, seguir suas pulsões, não se
deixando em circunstancia alguma se condicionar por determinações alheias a sua
própria vontade.
O homem deve ser um espírito
livre, não deve se deixar conduzir como uma ovelha em um rebanho. Um indivíduo
que exerce plenamente sua vontade de potência torna-se, para Nietzsche, um
super-homem, um indivíduo superior que não se deixa dominar por nenhuma força
externa à sua vontade. Para ele, promover esse homem superior deve ser o papel
da educação.
A educação tende a padronizar ao invés
de deixar que os indivíduos se destaquem. Então, a implicância de Nietzsche com
a democracia, com a pedagogia e com a própria ciência é esse espirito de
padronização, com se todos os indivíduos devessem ter o mesmo desempenho, porque
todos teriam igualmente a mesma base. E ele não acha isso. Então, nós
precisaríamos de uma política e de uma pedagogia que exatamente fizesse o
contrário, ao invés de padronizar, de fazer com que aqueles indivíduos mais
dotados, mais talentosos, pudessem se destacar.
Contra a padronização dos
indivíduos, Nietzsche propunha uma formação diferenciada. Uma formação com
expansão, como desdobramento, nunca como ajuste ou adequação.
Ao falar de educação de seu
tempo, Nietzsche se refere a três tipos de egoísmos a que ela tem conduzido.
Primeiramente, o egoísmo que ele chama dos comerciantes, que é este egoísmo que
preside todo o nosso relacionamento comercial, onde se visa simplesmente o
lucro, o ganho, a usura, bem no espírito do capitalismo que está se consolidando
naquela época. Em segundo lugar, há o egoísmo do estado, que é este egoísmo do
espírito público que tende a introduzir na vida social uma igualdade de fracos,
uma igualdade de pessoas menores totalmente dominadas pelas determinações dos
partidos, dos governos, enfim, da burocracia. A terceira forma de egoísmo é o
egoísmo da ciência na medida em que ela se considera como sinônimo do único
conhecimento válido, vendo a cultura apenas como resultado do progresso
cientifico, desconhecendo os principais valores da existência humana, que são
aqueles valores ligados, exatamente, à vontade de potencia do homem, todo este
poder dinâmico que a humanidade tra e que foi sufocado pela tradição cultural
racionalista do Ocidente.
CULTIVO DA AUTONOMIA
Assim como Nietzsche, o
Iluminismo propunha o cultivo da autonomia. Mas eram visões muito diferentes.
Para os Iluministas como Kant, a autonomia se caracterizava exclusivamente pelo
aprimoramento da razão. Todas as demais forças presente no homem eram
considerdas contrarias a essa autonomia, a essa emancipação.
É esta grande pedagogia do
Iluminismo que prometia liberdade, a emancipação humana, graças a incorporação
das luzes da razão. As luzes da razão iluminaria as trevas da ignorância e,
portanto, nos possibilitava conhecer todos os mistérios do mundo, que não são
mais mistérios, são puramente fenômenos. O mundo está desencantado e, corolário
disso, haveria igualmente liberdade, a consolidação da liberdade. Os homens
poderiam se organizar democraticamente em uma sociedade esclarecida, livre e
igualitária, e que todos seriam felizes, mas exatamente esta promessa do
projeto iluminista da modernidade não se realizou.
Nietzsche acreditava que a
autonomia não se constituía apenas pela razão, ao contrario, a verdadeira
emancipação deriva do crescimento da liberdade, da vontade de potencia. Para
Nietzsche, da vontade de potencia fazem parte todos os nossos dinamismos
emocionais, afetivos e instintivos. Muitas dessas orientações fazem parte do
pensamento contemporâneo que descobre novas inteligências e valoriza diferentes
formas de sensibilidades.
EDUCAÇÃO E EDUCADOR
Na visão do Nietzsche, o que se
espera da educação, o que se esperaria da educação é ela não reforçasse esses
elementos da tradição iluministas, mas que, ao contrário, pudesse ser um
ambiente, um clima para o despertar dessas energias que estão presentes, mas,
muitas vezes, sufocadas em cada indivíduo. O modo de educação da vida social na
cultura contemporânea acaba sufocando muito estas pulsões que são reprimidas
pelo sistema cultural, pelo sistema religioso. Então, Nietzsche propõe que se
quebre a marteladas todos esses ídolos, todos esses ícones e todas essas
repressões para que, então, a nossa potencia possa se exprimir. Certamente, ele
chega a discutir esta questão de como preparar o educador, fortemente inspirado
pelo Schopenhauer, que exerceu um grande papel na formação filosófica do
Nietzsche. Não se trata do caso do professor, nem de um preparo técnico
científico na linha da tradição iluminista, e nem mesmo ver a escola como uma
estrutura burocrática ou administrativa, gerencial. O que está em pauta é muito
mais a personalidade do educador. Certamente o professor para Nietzsche é um
mestre, este mestre e o modelo da escola dele seriam muito mais a de um
ambiente, de uma educação muito mais convival do que propriamente neste esquema
que acabou consolidando no Ocidente, que é uma escola formal, uma escola
burocratizada, gerenciada, mais um ambiente de administração da vida do que de
fecundação da vida.
DIVERSIDADE E CRIATIVIDADE
Nietzsche é a lembrança da dimensão
dionisíaca perdida durante o predomínio do pensamento racional no Ocidente.
E é o que talvez todas essas
referências à inteligência emocional, ao reconhecimento das diversas formas de
sensibilidade humana, a valorização da estética, isto, sem dúvida alguma, é um
legado da inspiração nietzschiana para o pensamento contemporâneo. Seria característico
desse espirito superior, dessa vontade de potencia, ser extremamente criativo,
comose as coisas surgissem, esta força brotasse aos borbotões e levasse o
indivíduo humano a ser muito mais um artista do que um cientista ou um técnico.
Porque ele está vivendo a expansão dos seus sentimentos vitais. É a força da
vida que empurra para cima e que torna o homem extremamente criativo,
descobridor das coisas. Isso vai acontecer com o verdadeiro artista, que não
cria a partir de critérios racionais, mas justamente pela sensibilidade, pela
capacidade de se deixar explodir, de se deixar expressar a partir da pulsão de
suas próprias forças. Esta filosofia de Nietzsche, em que pese as suas
limitações pessoais e todas as dificuldades existenciais que ele mesmo enfrentou
no convívio com a sociedade de sua época, sem dúvida alguma, representou uma
importante manifestação de protesto e um grito de defesa de liberdade humana.
Embora ele tenha carregado muito nas tintas, sem dúvida alguma, esta é uma
proposta que valoriza a autonomia do ser humano e, consequentemente, o respeito
pela dignidade humana.
Embora incompreendido em sua
época, hoje Nietzsche é a principal inspiração do pensamento filosófico pós-moderno.
A filosofia de Nietzsche foi um
apelo coletivo, que serve a todo indivíduo, mas foi também um desabafo pessoal,
um grito de protesto contra as duras injunções que ele próprio enfrentou em sua
vida profissional, amorosa, como cidadão.
A vida do indivíduo Nietzsche, não
é uma demonstração da sua teoria, mas por limitações, ele tinha uma clareza de
espírito muito grande desse modelo de homem que ele visava, mas ele não
conseguiu implementar isso pessoalmente. O que ele conseguiu de fato realizar
foi uma personalidade rebelde, ele foi corajoso para enfrentar todo o poderio
de Igreja, o poderio do poder publico, mas não tinha como individualmente fazer
tudo isso.
BIBLIOGRAFIA:
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ExcluirSe o ser humano exercer sua vontade de potência, materializar suas pulsões em busca do sumo bem, retornaríamos ao estado de natureza de Hobbes, num contexto de guerra de todos contra todos, pura selvageria e barbárie. Assim, tudo que coloque em risco o futuro da raça humana é anti-natural, portanto, execrável.
ExcluirCuidado meu caro, os nazistas também distorceram o pensamento de Nietzsche, e buscavam justificar os seus atos como utilitários à uma felicidade genuína.
Tanto Kant como Nietzsche advogavam o primado da liberdade. Só que ambos tinham um conceito inteiramente oposto, com consequências diametralmente opostas e inconciliáveis, sobre o que seria a liberdade. Como me considero um kantiano com traços fortemente antinietzschenianos, faço agora uma análise do que ambos entendiam por liberdade, para ver se, esclarecidos os conceitos, ainda conseguimos aderir ao ideal de liberdade como entendido por Nietzsche.
ResponderExcluirPara Kant, liberdade é faculdade que possui um ser racional de agir de forma auto-determinada, independente da natureza, unicamente pela razão e sem nenhuma determinação exterior. Não que o homem sempre aja assim, ou que deva sempre agir assim, mas que possui a faculdade de agir assim, desde que o queira. Assim como a natureza tem as suas leis (que são matemáticas), a liberdade também tem as suas (as leis morais). Só se consegue obedecer às leis de liberdade quando se é livre, e por isso, liberdade é também a faculdade de obedecer a essas leis da razão. O animal, que não é livre, não consegue obedecer uma tal lei, e por isso leis não fazem o menor sentido para eles. Então, para Kant, o homem pode sim satisfazer os seus desejos sensíveis, mas deve se conformar às leis da razão (leis morais) e só satisfazê-los quando esta satisfação não for de encontro ao que prescreve a lei. Por exemplo, se quero um pouco mais de luxo e conforto é justo que eu satisfaça esse desejo sensível por meio do trabalho e do salário, que me permitirão financiar esse meu desejo. Mas se a única forma de eu satisfazer esse desejo fosse o roubo, então a lei da razão me proíbe de satisfazer o desejo dessa forma e ordena que eu me abstenha. Se eu sou livre, tenho a faculdade de ignorar o meu desejo e não roubar. Se não sou livre, não conseguiria evitar praticar o ato. Em linhas gerais, esse é o entendimento de Kant a respeito da liberdade, que pode ser também chamada de "liberdade inteligível". Vejamos o que entendia Nietzsche.
Para Nietzsche a liberdade era algo completamente diverso. Para ele, a tal faculdade de se impor aos desejos sensíveis simplesmente não existe. Do livro Nietzsche x Kant, págs. 149 a 151, Oswaldo Giacoia Junior, citando Nietzsche, escreve:
"A fábula da liberdade inteligível - A história dos sentimentos em virtude dos quais tornamos alguém responsável por seus atos.... (...) De maneira que sucessivamente tornamos o homem responsável por seus efeitos, depois por suas ações, depois por seus motivos e finalmente por seu próprio ser. E afinal descobrimos que tampouco este pode ser responsável, na medida em que é inteiramente uma consequência necessária e se forma a partir dos elementos e influxos de coisas passadas e presentes: portanto, que não se pode tornar o homem responsável por nada, seja por seu ser, por seus motivos, por suas ações ou por seus efeitos. Com isso chegamos ao conhecimento de que a história dos sentimentos morais é a história de um erro, o erro da responsabilidade, que se baseia no erro do livre-arbítrio."
E conclui:
"Ninguém é responsável por suas ações, ninguém é responsável por seu ser; julgar significa ser injusto. Isso vale também para quando o indivíduo julga a si mesmo. Essa tese é clara como a luz do sol: no entanto, todos preferem retornar à sombra e à inverdade: por medo das consequências."
Sem entrar no mérito da negação dogmática da liberdade inteligível (como é que ele conseguiu isso, já que é um conceito absolutamente suprassensível?), a liberdade para Nietzsche, portanto, é a liberdade animal, a de fazer o que bem quiser, como quiser, inclusive ignorando princípios morais e de direito, sem responsabilidade ou culpa. Não se trata da liberdade de poder se impor aos instintos (como queria Kant), mas a liberdade de se deixar levar por eles, sem culpas, disparates tais que nenhuma pessoa sensata ousa se comprometer. A ausência de culpa era para ele um dos sinais pelo que se reconheceria o super-homem.
continua...
continuando...
ResponderExcluirFoi esse ideal de ausência de sentimento de culpa o responsável pela frieza nazista perante os assassinatos e violações que cometiam. Mesmo que eles intimamente não fossem frios, eles se faziam frios para se enquadrarem na profecia nietzcheniana do super-homem. Compare, por exemplo, os escritos abaixo de Nietzsche com uma fala de Himmler, que você verá toda a ideologia de ausência de culpa, de liberdade irrestrita, animal, impregnada no discurso:
"...Mas ao dizer isto sinto - para com eles, não menos do que para conosco, seus arautos e precursores, nós, espíritos livres! - a obrigação de varrer para longe de nós, conjuntamente,, um velho, tolo equívoco e preconceito, que por muito tempo obscureceu, como uma névoa, o conceito de "espírito livre"... Em suma, e lamentavelmente, eles são niveladores, esses falsamente chamados "espíritos livres" - escravos eloquentes e folhetinescos do gosto democrático e suas "ideias modernas"; todos eles sem solidão, sem solidão própria, rapazes bonzinhos e desajeitados... O que eles gostariam de perseguir com todas as forças é a universal felicidade do rebanho em pasto verde, com segurança, ausência de perigo, bem-estar e facilidade para todos; suas duas doutrinas e cantigas mais lembradas são "igualdade de direitos" e "compaixão pelos que sofrem" - e o sofrimento mesmo é visto por eles como algo que se deve abolir... Nós, os avessos, que abrimos os olhos e a consciência de onde e de que modo, até hoje, a planta "homem" creceu mais vigorosamente às alturas, acreditamos que isso sempre ocorreu em condições opostas... - acreditamos que dureza, violência, escravidão, perigo nas ruas e no coração, ocultamento, estoicismo, arte da tentação e do diabolismo de toda espécie, tudo o que há de mau, terrível, tirânico, tudo o que há de animal de rapina e de serpente no homem serve tão bem à elevação da espécie "homem" quanto o seu contrário." (Nietzsche em Para além do bem e do mal, item 44)
"Ali desfrutam a liberdade de toda coerção social, na selva se recobram da tensão trazida por um longo cerceamento e confinamento na paz da comunidade, retornam à inocente consciência dos animais de rapina, como jubilosos monstros que deixam atrás de si, com ânimo elevado e equilíbrio interior, uma sucessão horrenda de assassínios, incêndios, violações e torturas, como se tudo não passasse de brincadeira de estudantes, convencidos de que mais uma vez os poetas muito terão para cantar e louvar. Na raiz de todas as raças nobres é difícil não reconhecer o animal de rapina, a magnífica besta loura que vagueia ávida de espólios e vitórias; de quando em quando este cerne oculto necessita desafogo, o animal tem que sair fora tem que voltar à selva - nobreza romana, árabe, germânica, japonesa, heróis homéricos, vikings escandinavos: nesta necessidade todos se assemelham." (Nietzsche em Genealogia da Moral, item 11)
E agora Himmler (líder das SS e responsável pelo extermínio dos judeus), em 04/10/1943:
"(...) Desejo também falar-vos francamente sobre um assunto muito grave. Deve-se, entre nós, mencioná-lo com franqueza. Cumpre, contudo, jamais falarmos sobre isso em público (...)
Refiro-me (...) ao extermínio da raça judaica (...) Muitos, entre vós, desejam saber o que significa quando cem, ou quinhentos, ou mil corpos jazem um do lado do outro. Tendo suportado isso e ao mesmo tempo - salvo exceções causadas pela fraqueza humana - permanecermos criaturas dignas, é o que nos fez fortes. É essa uma página de glória de nossa história que jamais foi escrita e jamais o será (...)"
"Obs.: O míope chefe das S.S. quase desmaiou ao ver uma centena de judeus orientais, inclusive mulheres, sendo fuzilados para sua própria satisfação. Depois disso, mandou usarem o gás, o que foi ainda pior." (William Shirer, Ascenção e Queda do Terceiro Reich).
continua...
continuando e finalizando...
ResponderExcluirDe fato, Nietzsche nunca foi um anti-semita e nenhum crítico sério de sua filosofia o acusa disso. Mas a ideologia do super-homem, sem culpa, sem responsabilidade, do "inocente animal de rapina", estava impregnada nas mentes deles, e esse lado perverso os nazistas colheram da filosofia nietzscheniana.
Por outro lado, eu gostaria de ver os que hoje defendem a liberdade sem lei de Nietzsche, continuarem defendendo isso se um bandido da pior espécie entrasse em sua casa, cometesse uma série de violações e assassinatos, como se tudo "não passasse de uma brincadeira de estudantes". Eu gostaria de vê-los continuar defendendo que não há responsabilidade, não há culpa, que o "coitado" deve ser livre para agir como quiser, por impulso, dando o exemplo eles próprios e não prestando queixas do violador à justiça, como bons nietzschenianos.
O artigo acima, portanto, não revela a verdadeira natureza da filosofia nietzscheniana, mas usa de eufemismos para fazê-la parecer o que ela não é, em discordância com o que realmente pensava o seu autor, que nada mais é do que a pura negação dogmática da liberdade inteligível em favor da liberdade animal, selvagem, o que inviabiliza todo o Direito e a Justiça. A filosofia nietzscheniana é perigosa e serve de inspiração intelectual para gente da pior espécie, que já seriam ruins sem ela, mas que se tornam piores com ela. Sobre isso eu recomendo dois artigos, sobre a influência que tem tais filosofias sobre mentes já perturbadas:
O primeiro é a história de Leopold e Loeb, que queriam se tornar os super-homens de Nietzsche:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Leopold_e_Loeb
E a segunda é no livro, "o Diabo & Sherlock Holmes, histórias reais de assassinato, loucura e obsessão", na história intitulada "Mistério de um assassinato pós-moderno", em que um inteligente estudante de filosofia quis levar o que aprendeu com o pós-modernismo às últimas consequências. Mas não adiantou esse papo furado de pós-modernismo, de inocência, ausência de culpa, invalidação do Direito, etc. Krystiam Bala foi condenado a 25 anos de prisão na Polônia. Infelizmente não há link para citar.
Portanto, podemos satisfazer os desejos sim (falando kantianamente), mesmo os mais intensos, mas sob as leis, respeitando os direitos e a dignidade alheia, assim como a nossa própria. As obras de Nietzsche podem servir para tudo (peso de papel, batente de porta, várias delas empilhadas podem ser usadas como banquinho, etc...), menos para a educação, a menos que queiramos ver novamente uma nação de "homens livres", como se sentiam os "super-homens" da Alemanha de 1933 a 1945.
Rafael, eu estou tendo dificuldade com tempo para vi aqui, por isso estou demorando te replicar. Mas, para começo, você diz:
Excluir“...O artigo acima, portanto, não revela a verdadeira natureza da filosofia nietzscheniana, mas usa de eufemismos para fazê-la parecer o que ela não é, em discordância com o que realmente pensava o seu autor, que nada mais é do que a pura negação dogmática da liberdade inteligível em favor da liberdade animal, selvagem, o que inviabiliza todo o Direito e a Justiça. A filosofia nietzscheniana é perigosa e serve de inspiração intelectual para gente da pior espécie, que já seriam ruins sem ela, mas que se tornam piores com ela. Sobre isso eu recomendo dois artigos, sobre a influência que tem tais filosofias sobre mentes já perturbadas:...”
Linkei apressado, li e colei aqui um trecho do artigo:
Leopold, com 19 anos na época do assassinato, e Loeb com 18, se inspiraram na obra de Friedrich Nietzsche para cometer o crime perfeito, nesse caso sequestro e assassinato.[2] Antes do assassinato, Leopold escreveu para Loeb: "Um superhomen (...) é, em virtude de certas qualidades superiores inerentes a ele, isento das leis comuns que regem os homens. Ele não é responsável por qualquer coisa que ele possa fazer."[3]
Os dois eram bastante inteligentes. Nathan Leopold era superdotado, e falou suas primeiras palavras com quatro meses.[carece de fontes] Leopold já havia terminado a faculdade, se formando em Phi Beta Kappa e estava cursando Direito na Universidade de Chicago.[2] Ele dizia ter estudado 15 línguas, mas em fato só falava quatro.[4]”
Então nós podemos condenar a filosofia de Nietzsche por dois, por assim dizer, assassinos adolescentes universitários que, devido às más línguas, disseram, que os jovens, para se safarem do castigo, que leram obra de Nietzsche.
Estaríamos mesmo sendo racionais...
Como eu me indentifico com Nietszche! Como concordo em muito com ele. Um homem que... Se eu te perguntasse, Gasparini, se eu te perguntasse se você é feliz. se voce me respondesse porque voce é feliz infeliz, eu te eu usando a razão de que tem algo errado. porque uma sim e outro não. Seria muito razoavel que eu quisesse obter a parte que me cabe. mas por que, Gasparini, em vez de voce ter respondido sim, alguma coisa me diz que voce não é feliz. não é feliz por ter postado no meu blog. estaria feliz por que então. refutou nietszhe e pronto! Ta tudo ok. vou tirando de fininho e coisa e tal. racionei direitinho e não dá outra: A Razão é Soberana.
Excluirse deus existe é o titulo do debate entre razão e fé recentemente para saber quem é quem. pois bem,
lá ficou definido se deus existe coisa nenhuma, sabemos quem é deus. sabemos que manda. Mas se eu quisesse me opor a razão, com o instinto "puro", e não o instinto "teórico" poderia usar a razão, encontrar a razão na razão e no instinto.
ExcluirMeu caro Kant,meu admirável, é bom o poder é. Gostaria de provar racionalmente, sem me ridicularizar, o poder. "Fui vi e venci". aff! tão perigoso, tão instintivo! Cuidado na racionalidade! Nosso inimigo, inimigo da vida, da felicidade. sem felicidade não há vida. alguem pode encontrar felicidade sendo livre, se possivel, for, do instinto.
ExcluirPois é... eu tinha me esquecido que não podemos apagar a história, mesmo que seja uma história de equívocos. Essas obras deviam então ser banidas da faculdade de filosofia para a faculdade de história onde os erros, de certa forma até óbveis para quem tenha um parco conhecimento da crítica da razão kantiana, possam alertar as populações do futuro sobre como é que não se faz filosofia e principalmente como é que se evita a aceitação de pseudofilosofias, o que de certa forma pode ser reduzido a uma única e simples sentença: "nada de existente na natureza pode ser conhecido sem a experiência".
ResponderExcluirO fato de as faculdades de filosofia terem despendido tanto tempo e recursos com a filosofia pós-moderna, que não chega e não chegará a conclusão alguma daquilo que investiga (pois está além de toda experiência possível), vai ficar conhecido no futuro como um dos grandes escândalos intelectuais que marcaram o nosso tempo.
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ExcluirEu passo a escrever aqui embaixo. então, ser livre Nietszcheniano para voce é sair matando as pessoas tirando como "irracionai" tendo em vista que a razão não é uma remedio, mas a dença. Quem levou socrates a tomar a cicuta foi a propria Razão. foi sua dialetica. ele, rsrsrss, um exagerado, racional, pai de Kant, quis o poder, queria o poder, usou, feriu o instinto dos "homens de bem", com razão.
ResponderExcluirE tomou a cicuta para ter razão. não fugiu quando lhe foi oferecido ou na oportunidade. vi Kant, com sua razão pura, destronar o deus de Agostino. Perfeito é a Razão. inimigo com fé em fantasia de carneiro, querendo pegar lobo.
ResponderExcluire continuamos trabalhamos nesse campo, por que instinto, humildemente pede cuidado! porque ha razão em tudo. há razão até mesmo para se autodestrui-la; mas o que não pode mesmo é viver.
ResponderExcluirEntão quem manda é que demonstra. o Deus da demonstração. então, para Kant, hoje dias dos finados rsrssssrsr, Kant, tentando se, batendo se com o deus que destronou de Agostino, e o deus que ele substituiu no poder, rsrsrs deve está se esperniano no seu paraíso, esparando, talvez, dizendo, Cláudio, me perdou! Calma Kant! vou provar na meu a caduquice dos ídolos teóricos, que voce agiu por instinto.
ResponderExcluirno dizer de Nietszche sobra a Razão, não que ela não tenha serventia nenhuma, não é isso, mas a imposição de como solução de tudo. o remédio que salva o povo pobre a subir, a guargar no poder, a se manter lá, absoluta.
ResponderExcluirQuando alguem, encontra razão para praticar um homicidio, é justificavel pela razão de ser da coisa em si, e tambem, pode ser um puro instinto de sobrevivencia que falou mais alto, muito embora, não era racional fazer isso.
toda frase hoje, que ler por aí nas redes sociais é: isso pode, mas isso não pode". mas sempre contra isso, um muito evidente o instinto querendo seu lugar e a razão pondo limite:
ResponderExcluir"Quem nunca disse "Se cuida" querendo dizer "Eu te amo" ou "Juizo" querendo dizer "Não faça nada q me magoe!"
o que queremos mesmo é sermos felizes. Se a razão nos impede de sermos felizes, não há obedecemos! Por que há mais razão em sermos felizes.
ResponderExcluirAlguem quisesse se inspirar na obras de Kant, podeiria, se quisesse, cometer homicídio e justificar racionalmente, e por silogismo, que se justifica a lei da seleção natural. uma lei acima da ética. mas que, se parece mesmo que, para a felicidade, a felicidade, é a ética da vida. Talvez os fins justifique os erros, rsrsr os meios. tudo ciencia, tudo racional. ganho, razão é evolução, se é, o que vem depois dela... se é cabal, por que não somos felizes... rsrsrsrssrsr
ResponderExcluirnão se e´feliz impondo ou aceitando a imposição do outro. Até o contrato social poderia ser desenecessario por que há uma ética tambem no verme que se encolhe ao ser pisado. há razão para o verme fazer isso.
ResponderExcluirSe voce me perguntar se eu sou feliz como racionalista eu digo que sim , mas o instinto, toda vez que usei, que foi impulsionado a usar, e sempre que uso, fui e sou realemte feliz.
ResponderExcluira razão para o extremo nos é dada pela razão, negando a fisiologia dos organismo. até para comer hoje é dado pela razão. desrepeitando a felicidade de ver o organismo dizer, já chega! Basta! por hoje estou satisfeito.
vou tenta te fazer uma ilustração, uma analogia Daniel. quando um pinto ainda está no ovo, se a fatalidade permitir, ele, o pinto, vai sair de um mundo, um mundo apertado, opressor. então quebra se um mundo e se encontra livre, em um mundo livre. Totalmente livre. o fato de continuar lutando pela sobrvivencia não tira a liberdade. então, par o pinto, o mundo é livre e é seu para ele fazer o que bem entender. porem, ele é enviado para a granja, é gado. lhe foi tirado o mundo real. lhe foi tirado o mundo de liberdade e consequentimente a falicidade.
ResponderExcluiressa coisa de assasinato, de criminalizar os homicidios, infanticidos ou qualquer coisa que seja, é uma forma de tirar a liberdade. Que que estmos fazendo com nossas crianças: estamos dando a elas o nosso mundo e não o mundo que ela conquistou ao nasecer. os primeiro cuidados que temos, é de ordem fisiolgica de preservação da especie. porque estamos somente ajudando a criança a desenvolver o instinto de preservação que ainda não está ativado por completo. mas logo se ver que a lida é livre.
ResponderExcluirnão há porque julgar ninguem. essa ansia de julgar é a vontade de poder. de poder decidir pelo outros. no Estado, prisão, porque as pessoas nascem livres e depois, logo ao nascer, já colocam o registro. o estado já carimba. já bota a Marca de Caim nela, criança. é seu gado. o mesmo faz a Igreja Católica. No Estado pode se julgar os que não são livres, podem serem cacerados, mas o homem livre não assinou nenhum acordo de cidadão. sua passagem é livre. a igreja e o estado tem que punir os seus comungadores, mas suas "leis" não se aplica a natureza livre.
ResponderExcluirEu sou professor. Mas veja o que está, por exemplo, acontecendo esse ano, esse fim de ano letivo, eu "mando" as crianças fazerem os trabalhos dos conteudos dos livros didáticos. Terrivel. por que... porque se eu desejo aprender tocar vilão, então, de livre vontade procuro um professor de ensino de tocar vilão. ele, o professor, por livre vontade, ou não, se coloca disposição de me ensinar. Porem, quando fazem eu aprender tocar violão contras a minha vontade, dizendo que isso vai ser muito bom pra mim. eu, estou condicionado meus alunos. estou fabricando homens fracos. o "boam aluno" para mim, foi o aluno reprovado na minha disciplina porque se recusou a fazer aquilo que eu mandei como sendo bom pra ele. a criança não é boba, ela sabe o que é bom pra ela.
ResponderExcluirFala mestre:
ResponderExcluirMeu conceito de liberdade.
"O valor de uma coisa reside às vezes não no que se ganha para obtê-la, mas no que se paga para adquiri-la – naquilo que custa. Cito um exemplo. As instituições liberais deixam de ser liberais tão logo são adquiridas: não há, na seqüência nada tão radicalmente nocivo para a liberdade como as instituições liberais. Já se sabe para onde conduzem: minam surdamente a vontade de potencia, são o nivelamento da montanha e do vale erigido em moral, tornam o homem pequeno, covardes e ávido de prazeres – o triunfo dos animais de rebanho as acompanha sempre. Liberalismo: dito de outra forma, embrutecimento por rebanhos... As mesmas instituições, enquanto se deve lutar por elas, produzem conseqüências bem diferentes; favorecem então, de uma maneira poderosa, o desenvolvimento da liberdade. Olhando-se mais de perto, percebe-se que é a guerra que produz esses efeitos, a guerra pelos instintos liberais, que, enquanto guerra, deixa subsistir os instintos antiliberais. A guerra educa para a liberdade. De fato, o que é liberdade... É ter a vontade de responder de si; é manter as distancias que nos separam; é ser indiferente às amarguras, às asperezas, às privações, à própria vida; é está pronto a sacrificar os homens por sua própria causa, sem excetuar a si mesmo. Liberdade significa que os instintos viris, os alegres instintos, por exemplo, sobre aqueles da “felicidade”. Do homem tornado livre, mais ainda o espírito tornado livre, calca aos pés essa espécie de bem-estar desprezível com que sonham os merceeiros os cristãos, as vacas, as mulheres, os ingleses e outros democratas. O homem livre é guerreiro. – como se mede a liberdade nos indivíduos e nos povos... Pela existência que cumpre vencer, pelo trabalho que custa chegar ao alto. O tipo mais elevado do homem livre deve ser procurado ali, onde é preciso vencer constantemente uma resistência mais dura: a cinco passos da tirania, à soleira do perigo da escravidão. Isso é fisiologicamente verdadeiro se se entende por “tirania” instintos terríveis e implacáveis que provocam contra eles o máximo de autoridade e de disciplina – o mais belo tipo dessa classe é Júlio Cesar – e também verdadeira politicamente, basta percorrer a historia. Os povos que tiveram algum valor, que conquistaram algum valor, não o conquistaram com respeito, esse perigo que é o único que nos leva a conhecer nossos recursos, a ser fortes... Primeiro principio: é preciso ter necessidade de ser forte, caso contrario nunca se chega a sê-lo. – Essas grandes escolas, verdadeira estufas quentes para homens fortes, para a mais forte espécie de homens que jamais houve, as sociedades aristocráticas à moda de Roma e Veneza, com alguma coisa que ao mesmo tempo se tem e não tem, se quer, que não se conquista... "
então, Daniel, Gasparine. existem dois mundos, por assim dizer, porque o mundo real, que vemos hoje, esse mundo da moral, esse mundo burocratico, é o mundo das aparencias, mas que é tomado como real. porem, o mundo real, o mundo livre, o mundo da felicidade, foi tirado pela racionalidade que teve seu ponto culminante com Kant. o mundo livre, o mundo assim como é de fato, o mundo dos instintos, deve ser readiquirido com liberdade. estamos muitos arquaicos, estamos desgenerados, fomo corrompidos. é preciso fazer o homem feliz. parecem crianças, não tem coragem de amadurecerem. Se lhes prende em uma gaiola, depois de muito tempo condicionado, se lhes abre a porta da gaiola, não tem mais coragem de voar, tem medo da liberdade. aquele mundo que intuiu ao nascer lhe foi tirado, até o instinto de lutar não existe mais. alutar agora é para não sair da gaiola.
ResponderExcluirNão posso fazer muito se você é condicionado a pensar assim Daniel.seria preciso um "centro de tratamento para os condicionados" . A verdade é, para os condicionados, que, sem o devido tratamento, posto em liberdade, não saberia o que fazer com ela. É o que acontece com animais domesticados, jamais consegue viver, ou seja, voltar a seu habitar natural.
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