Kant, um dos mais importantes
filósofos da história, foi diretor e professor. Ele representou um dos momentos
mais significativos da filosofia na Idade Moderna, e ainda influencia
profundamente os pensadores da atualidade.
A filosofia de Kant, mais tarde
designada como criticismo, representa a crítica mais radical a esta proposta do
pensamento metafísico tal qual foi desenvolvida na IdadeMédia.
Na Idade antiga e na Idade Média
prevaleceu o modo metafísico de pensar. Para os filósofos dessa época, as
coisas possuíam uma existência autônoma, objetiva, independente da consciência
humana. Elas eram essência criada por Deus, coexistindo eternamente. Assim,
havia uma idéia de arvore perfeita e as arvores que percebemos com os nossos
sentidos são cópias imperfeitas de sua essência. O pensamento metafísico
buscava conhecer os objetos atingindo sua essência. Do ponto de vista
filosófico, a Idade Moderno é uma ruptura. Seus filósofos acreditavam que todo
conhecimento somente poderia vir a partir da razão natural, abandonando a metafísica
e substituindo-a pela ciência. Um período marcado pelo racionalismo e pelo
naturalismo.
Com o avanço do racionalismo e do
naturalismo, já no final da Idade Média e começo da Idade Moderna, os homens
vão se dando conta de que o conhecimento é uma atribuição da sua própria razão,
da sua razão natural, e que não existe nenhuma interferência de influencias
divinas transcendentais nesse processo de representação do ser, da realidade,
dos objetos e de todos os entes e de todas as situações. O que está ocorrendo
é, exatamente, um processo de naturalização do mundo, de naturalização da razão
humana e, consequentemente, um desencantamento da própria realidade. Os homens,
por assim dizer, vão perdendo o medo de desvendar todos os supostos mistérios
da realidade e isto é feito graças ao poder da sua razão natural.
Há uma profunda crença de que a
razão natural trará luzes sobre o mundo, permitindo ao homem ter uma visão mais
objetiva da realidade. Esse período é conhecido como Iluminismo.
De modo geral, a filosofia vai se
preocupar, profundamente, com a questão do conhecimento, vai discutir a
capacidade que o homem tem de conhecer a realidade e ver se realiza esse
processo e, sobretudo, de estabelecer seus limites.
Os filósofos desse período
mostram que não há como chegar às essências das coisas, assim, a única atitude
deve ser dedicar-se ao conhecimento dos fenômenos, ou seja, aquilo que pode ser
percebido pelas simples impressões sensíveis. Por meio da razão natural, da
linguagem matemática e do contato experimental com os fenômenos, o pensamento
científico vive um grande avanço.
O que é extremamente
significativo nesse momento é que este conhecimento científico a respeito das
realidades naturais permite ao homem manipular, manusear essa realidade,
transformá-la como se fosse um co-criador dessa realidade. Nós estamos falando
do surgimento da técnica, ou seja, a ciência ao surgir no inicia da Era Moderna
e no contexto da cultura ocidental, não surge apenas como uma representação
teórica da realidade, mas, sobretudo, como conhecimento dos mecanismos que
permitem ao homem interferir na transformação desta própria realidade.
Na Idade Moderna, a ciência se
transforma na mais importante instancia cultural, principalmente pela
contribuição que pode dar à evolução da técnica e na possibilidade que dá ao
homem de adequar a realidade aos seus interesses. A filosofia vive uma profunda
modificação, sua principal preocupação deixa de ser conhecer a natureza do
homem e passa a ser compreender o processo pelo qual os homens constroem o
conhecimento.
Kant estava profundamente
impressionado com o resultado da física newtoniana. Para Kant, Newton era o
próprio símbolo do sucesso, do conhecimento verdadeiro que a ciência tinha
trazido à cultura da sua época. O papel, então, da filosofia era o de mostrar,
não só que a ciência, a física newtoniana, é o modelo exemplar do conhecimento
científico, mas este conhecimento é plenamente legitimado do ponto de vista da
lógica, do ponto de vista da epistemologia. É esta a tarefa que Kant se dedica.
Kant analisa o processo do
conhecimento humano para mostrar que a física era a aplicação das regras
fundamentais do conhecimento racional que o homem poderia desenvolver. Para
isso, fará a síntese de duas filosofias: o Inatismo, de René Descartes e o empirismo
dos filósofos ingleses, particularmente, de David Hume.
Os filósofos ingleses defendiam a
posição de que todo nosso conhecimento só podia se dar mesmo através das
impressões sensíveis, o espirito humano surgia como página em branco na qual as
impressões sensíveis viriam registrar a sua representação dos dados da
realidade. Descartes defendia a existência de algumas idéias inatas, que eram,
por assim dizer, constitutivas do próprio espirito humano e que quando entrava
em contato com o mundo natural, ele já trazia em si algumas proposições de
cunho universal.o exemplo melhor desse processo seriam as ideias matemáticas,
que estavam se revelando, àquela altura, muito fecundas para a construção do
conhecimento científico.
De modo geral, Kant explica que o
conteúdo do conhecimento vem das impressões sensíveis, como queria Hume e os
empiristas. Por outro lado, para esse conteúdo ser de fato conhecido deve ser
organizado e ordenado na consciência, de acordo com uma estrutura que já está
no sujeito que conhece. Assim, para conhecer, o homem precisa da experiência
sensível, mas também necessita de uma estrutura lógica que organize esses dados
empíricos.
Foi assim que Kant construiu a
sua famosa teoria do conhecimento, de acordo com a qual o nosso conhecimento é
formado sim com a contribuição imprescindível de intuições que são fornecidas
pela nossa sensibilidade, mas intuições que precisam ser articuladas,
sistematizadas, esquematizadas por esquemas a priori, que são constitutivas da
própria racionalidade humana, da própria condição do conhecimento.
Para Kant, a sensibilidade como pensava Hume. O sujeito humano depende
de esquemas ordenadores ou estruturas formais presentes, a priori, no sujeito,
que são o tempo e o espaço. Com a aplicação desses esquemas ordenadores, dessas
formas a priori, o sujeito consegue organizar os conteúdos que são passados a
ele a partir da experiência sensível. Segundo Kant, nós não podemos aprender a
essência dos objetos, mas apenas seus fenômenos, ou seja, somente aquilo que se
pode observar.
O mundo, a árvore que nós estamos
vendo não chega “bonitinha” assim no cérebro. Ao contrário, vem em uma onda
magnética que vai pegando a retina e vai mandado, é uma coisa atrás da outra,
em carreirinha. O que vai acontecer no cérebro? Aquilo que acontece na
televisão. O que é a televisão? Como funciona a televisão? Na televisão a onda
eletromagnética é pontual, ou seja, ela vai atrás uma da outra, quer dizer, o fenômeno,
a emissão da luz verde no meu olho vem uma atrás da outra e, então, chega ao
cérebro e é lá que se faz a organização. Então, primeiro uma organização
espacial forma uma silhueta e depois isto dura no tempo. E a duração do tempo é
que dá a ideia de uma imagem permanente. Mas o nosso olho não está vendo assim,
quem está vendo assim é o cérebro. É o que acontece na televisão. O que
acontece na televisão? A câmera pega a imagem e é em linhas, como a gente sabe,
é uma varredura e é transmitido depois para o espaço também em ondas, em
fileira, é um fio e que chega ao monitor, ou seja, vai fazer aquela varredura
24 quadros por segundo e que isso vai permitir que o olho faça o mesmo processo
também, ou seja, tanto a imagem, que depois Kant joga para o conceito, são
construtos. É por isso que o computador, que foi feito a imagem e semelhança do
sistema nervoso, justamente, chamou-se, no primeiro momento, cérebro eletrônico
e depois chama-se processador. O que acontece? Todos os comandos que nós damos são
bits, são pontos unitários, (010101010...). o que o processador faz? Organiza,
sintetiza, e para Kant, toda atividade do conhecimento é uma atividade de
síntese e não de análise, então, este poder de sintetizar é o x da questão, mas
para fazer isso, nós temos que ter o processador interno e o processador é o
sujeito transcendental, porque, na verdade,o processador está imitando aquilo
que supostamente nós fazemos. A gente não sabe como é que o cérebro faz tudo
isso, o que a química e a neurologia têm a ver com tudo isso. Por mais que você
estude na neurociência como é que o cérebro, os neurônios estão funcionando, o
que acontece com eles do ponto de vista enegértico, do ponto de vista químico,
a sinapse, todas aquelas coisas, o problema é que gera um sentido e que tem uma
base físico-química, biológica, é inegável, tanto que se você ficar dois minutos
sem oxigênio, pifa tudo. Mas ao mesmo tempo gera uma cadeia de significações
que transcende esse contato físico, porque todos os nossos conceitos, por
exemplo, o conceito de sofá, quando eu chego a essa representação, eu chego na
do processo, eu não vejo, nós não assistimos ao processo em si.por isso, olha
como tudo vai se achando, de onde vem o construtivismo de Piaget? De Kant, quer
dizer, Kant mostrou que o sujeito é ativo, o sujeito não é passivo. Mas essa
atividade é como se você pusesse um andaime para construir um prédio. Você põe
um andaime e constrói um andar, você aumenta um andaime e constrói um próximo
andar. São estruturas, estruturas armadas, aliás, andaimes chamam-se
estruturas, estruturas metálicas que você vai usar para compor, e isso foi o
que Piaget tentou mostrar, inclusive empiricamente. Ele tinha uma grande
admiração por Kant, assim como Newton fez a física, ele queria fazer uma
ciência da psicologia que mostrasse o mesmo processo, quer dizer, a psicogênese
e, depois, a noogênese também, que dizer, como é que a própria razão procede
dessa maneira.
Na teoria do conhecimento de
Kant, além das intuições sensíveis que recebemos e da organização das
informações pelas estruturas de conhecimento que todo homem possui, há uma
terceira faculdade, que é a razão. A razão é a faculdade das ideias.
Qual foi o erro dos metafísicos,
daqueles que buscavam a essências das coisas e, nesse sentido, Deus, que ele
tanto criticava? Foi ter confundido o que era objeto das idéias, objeto do
pensamento como se fosse conteúdo de conhecimento. Então, qual foi o grande
equivoco da metafísica? Ter acreditado que porque ela podia pensar as ideias de
mundo, as ideias de Deus e as ideias de alma, que essas entidades pudessem ser
objeto de conhecimento e, portanto, existir.
Para Kant era legitimo pensar
essas ideias desde que não se concluísse que fossem objetos de conhecimento. De
fato, até hoje, até mesmo antes de Kant, essas ideias, Deus, nunca foi
conhecido. Para Kant, quem conhece o real é a ciência, somente os fenômenos
podem ser conhecidos. Alma, Deus, não são fenômenos e, portanto, não são objeto
de conhecimento.
Kant era uma personalidade muito
interessante e, segundo a crônica que sempre acompanha a historia da filosofia,
ele teria exposto ao mordomo de sua casa as conclusões a que chegou, que se
expressava nas suas três grandes obras: “ A Crítica da Razão Pura Teórica”, “ A
Crítica da Razão Pura Prática” e “ A Crítica do Juízo”. Ao contar esta teoria
citada, ou seja, que Deus, Alma e Mundo são ideias pensadas, mas não são
realidades conhecidas, o mordomo ficou muito chocado e repreendeu, severamente,
Kant dizendo: “ mas como você uma pessoa tão religiosa, (ele era adepto do
pietismo, uma denominação do protestantismo, bastante rigoroso) como você uma
pessoa com tão boa formação religiosa pode chegar a uma conclusão dessa, o mais
sua mãe vai pensar disso?” então, Kant teria dito ao mordomo: “ não se preocupe,
o que eu destruí em “ a Crítica da Razão Pura Teórica”, eu vou reconstruir em “
A Crítica da Razão Pura Prática.” E nós entramos assim na segunda parte da
grande obra kantiniana. Essas três ideias da metafisica tradicional, de Deus,
Alma e Mundo, que não são ideias, não saõ conceitos correspondentes a fenômenos
que pudessem ser conhecidos, estas entidades que não podem ser conhecidas devem
ser pressupostas, porque elas são condições sine qua non ( sem o qual não pode
ser) para a legitimação e para a fundamentação da moralidade, que deve ser
entendida em Kant do mesmo modo que nós entendíamos a questão do conhecimento,
ou seja, a moral é um fato na realidade humana. ( veja a sutileza). Os homens
praticam a moral não como uma mera circunstância histórica cultural, mas por
uma necessidade interna.
Para Kant, a moral se impõe ao
homem como uma força universal, assim como a ciência, a moral não se impõe por
necessidade psicológicas, culturais ou sociais, mas por exigências
transcendentais que constituem a própria estrutura de todos os homens. É
proibido matar o próximo, não devido a leis ou por respeito ao próximo, mas por
força interna que exige a bondade, um bem agir. Para Kant, o fato de um homem
ser um ente moral demonstra a existência de mundo, de alma, de Deus. Entenda,
existe sim, essas entidades, mas como uma ética da moral porque até mesmo os
animais obedecem a lei de não matar o próximo com mais eficácia que o homem.
Não se registra casos de animais assassino do próximo e nem suicidas. Só para
melhor entendimento, dizemos que temos ética. Dizemos que a ética existe.
Realmente existe, mas não como entidade, mas existe como uma força universal.
Não é um objeto fora do homem que está lá. Assim é a alma, o mundo e Deus.
A ética, portanto, deve ser
seguida pelos homens, deve haver este esforço de incorporação da ética do mesmo
modo,de modo análogo a este esforço de incorporação do conhecimento científico,
porque faz parte da própria estrutura constitutiva da experiência e da
atividade humana. É nesse contexto, inclusive, que nós podemos conceber a
contribuição que Kant para a gente pensar na educação. É interessante observar
que ele não escreveu nenhum tratado que tivesse por tema especifico a educação o
com a politica, mas isso transpira em toda sua obra, porque toda razão de ser
da existência de uma sociedade em processo de civilização, em processo
histórico e toda construção do indivíduo, está sempre relacionada com a busca
da realização desta perfeição humana, de que o sujeito humano tanto coletivo,
no caso da sociedade, como no individual, no caso da pessoa, toda a sua razão
de ser, todo o investimento de sua existência, deve ser na linha de superar a
sua condição da pura empiricidade, de pura naturalidade, de pura instintividade,
para se tronar, exatamente, esse sujeito autônomo, ou seja, o sujeito age em
função e a partir das condições estruturais que o constitui. É por isso que a
pedagogia dele é toda baseada nesta proposta de emancipação do espirito, de
emancipação do sujeito, da postura do sujeito como sujeito autônomo que atinge
a sua maioridade, é essa a expressão que ele usa e para qual ele carreia todo o
investimento da filosofia, todo investimento da pedagogia, no sentido de que
nós passemos a nos conduzir, não por imposições externas, mas pe3la própria
condição do nosso modo propriamente humano de ser, que é de ser guiado por esse
sujeito estrutural, que está a base da nossa própria existência.
Kant acredita que a humanidade
passa por processo de constante aperfeiçoamento e que o individuo deve buscar a
perfeição no plano pessoal. Daí sua proposta pedagógica de criar condições para
possibilitar a realização desse esforço. Kant valoriza a disciplina, para ele,
um instrumento fecundo para que o sujeito possa tornar compatível uma existência
com as pressões concretas e as circunstâncias que o envolvem. Segundo Kant, o
homem deve ser culto, no sentido de aprimorar sua capacidade de conhecimento.
Isso nos mostra um Kant que, como
pessoa, como educador, devemos lembrar que ele foi professor ao longo de toda a
sua vida, foi diretor de ginásio, Kant levou tão a serio esse seu projeto de
vida, que sequer saiu de sua cidade. Ele não viajou, ele era professor de
geografia. Também formado em geografia.
Kant fez a leitura de “Emilio”,
de Rousseau, que é justamente a obra sobre a pedagogia, sobre educação, o que
ela emblematicamente representou, não tanto pelas suas conclusões particulares,
mas, exatamente, pela postura que Rousseau assumiu na consideração da educação
(Eu indicaria a todo professor, pedagogo, educador a ler Emilio e Robson
Crusoé.) sobretudo, no fato de está descobrindo a infância e a criança como
sujeito central do processo pedagógico. Falarei, oportunamente, de Jean Jaques
Rousseau aqui no blog.
Para kant, todos os investimentos
pedagógicos devem ser na direção de promover a busca pela perfeição, que se dá
na plenitude da moralidade. Para tanto, deveria se promover a disciplina, não
como uma forma de opressão, mas para superar o comportamento puramente
instintivo. Valorizava a ampliação do conhecimento, particularmente o
conhecimento cientifico, mas também da arte e da estética. Acreditava, enfim,
que o sujeito deveria tornar-se cada vez mais moral, prudente, culto e
emancipado.
De toda esta proposta da
filosofia kantiniana, certamente nós podemos concluir que a tarefa da politica,
no que diz respeito a sociedade e a tarefa da educação, no que diz respeito a
pessoa humana, é transformar, é de transformar todos os sujeitos humanos em
processos de educação em sujeito disciplinados, que busquem superar, que
busquem viver, independente de sua materialidade animal, de suas pulsões
instintivas, ( já publiquei aqui no blog que Nietsche priorizava,ao contrário
de Kant, o instinto) em um sujeito culto que explore todas as sua potencialidades
de conhecimento, particularmente a partir da ciência, em um sujeito prudente
que saiba conviver com as circunstancias históricas no espirito de paz, de
harmonia social e, finalmente, de um sujeito moral, ou seja, aquele que atingiu
a plenitude de uma existência pautada nas exigências transcendentais da
eticidade. Talvez estamos aqui, certamente, diante de palavras talvez muito
marcadas pelo seu tempo histórico, mas que na sua significação mais profunda,
continua tendo extrema validade no contexto histórico contemporânea, e em
educação, estes mesmo desafios, tentando responder: “quem somos nós os homens?”
; “ O que podemos saber?” ; “ E o que devemos fazer?”.
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