Convicto
tornei-me da natureza universal. Convicto de que todos os deuses e fantasmas
são mitos que entraram na minha mente, na minha alma, em cada gota do meu
sangue, o senso, o sentimento e a alegria da liberdade. Fugi da prisão quando
os muros racharam. Livre agora estou. A luz invadiu as masmorras e a tristeza
deu lugar à alegria. Pó foi o que restou às travas, as algemas, as barreiras.
Um servo, um servente ou um escravo, nada mais disso sou. Sem mestres estou
nesse gigantesco mundo. Nesse espaço infinito onde paira o meu finito ser
dimensional desse planeta azul. Estou livre. Penso livremente em um ideal de
vida e amor. Rejeitei toda e qualquer crença cruel e ignorante digitado em
todos os "livros sagrados" que selvagens ignorantes e estúpidos do
passado produziram. Livre de todas as bárbaras lendas do passado, livre de
papas e padres, de todos os "chamados" e dos "excluídos",
dos erros santificados e das mentiras santas, do medo de sofrimento eterno, dos
monstros alados da noite, de diabos, fantasmas e deuses. Pela primeira vez sou
livre. Não há lugares proibidos em qualquer recanto da minha mente. Não há
lugar que a imaginação não possa atingir com suas asas coloridas. Nenhuma
algema me prendendo. Nenhum acoite nas minhas costas. Nenhum fogo na minha
carne, nenhum mestre me encarando nem ameaçando, nada mais de seguir os passos
dos outros, nenhuma necessidade de me curvar, ajoelhar ou rastejar, ou
expressar palavras mentirosas. Estou livre. Coloco-me de pé e sem medo e
alegremente, encaro o mundo. E então, meu coração é preenchido de gratidão, com
a paixão por todos aqueles heróis, os pensadores, que deram suas vidas pela
liberdade de mãos e cérebros, pela liberdade de trabalho e pensamento, por
aqueles que tombaram nos campos cruéis da guerra; aqueles que morreram nas
masmorras, acorrentados; aqueles que subiram orgulhosamente os degraus do
patíbulo, aqueles acoitados no pelourinho, aqueles cujos ossos foram esmagados,
cujas carnes foram feridas e rasgadas; aqueles que foram esquartejados e
lançados seus membros nos recantos do país, por aqueles consumidos pelo fogo,
por todos os bravos, sábios e bons de todos os países, cujo saber e ações
resultaram em liberdade para os filhos dos homens. Não de deuses. Quando me
dispus a segurar a tocha que eles acenderam e a ergui no alto, aquela chama
pôde ainda iluminar a escuridão. Vou ser verdadeiros para mim mesmo. Verdadeiro
para os fatos que conheço e, acima de tudo, preservar a veracidade de minha
alma. Se há deuses, não posso ajudá-los. Mas poço ajudar meus semelhantes. Não
posso amar o inconcebível, mas poço amar minhas companheiras, filhos e amigos.
Poço ser tão honesto quanto ignorante. Se o que há alem do horizonte do
desconhecido, na geografia do além for me perguntado, direi que não sei. Eu
posso dizer a verdade. A liberdade que os bravos conquistaram, posso gozar. O
monstro da superstição posso destruir. A serpente silvante da ignorância e do
medo posso destruir. As coisas assustadoras que dilaceram e ferem com bicos e
garras, posso afastar de minha mente. Civilizar nosso semelhante posso. Posso
preencher a minha e sua vida com ações generosas, com palavras carinhosas, com
arte e música e todo o êxtase do amor. Inundar nossos anos com o brilho do sol
posso. Posso, com o clima da candura, beber até a última gota do cálice dourado
da felicidade. Posso olhar a natureza e entender seus mistérios. Isso
posso."
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