O PROBLEMA: em que consiste o
enamoramento?
A TESE: o sentimento de amor é
básico para o individuo, certamente o tema mais abordado por todas as artes e
pela cultura em geral. A filosofia deve ocupar-se do amor, afirma Schopenhauer.
Mas exatamente nesse elevado nível, em que o homem parecer exprimir melhor a
própria individualidade e espiritualidade, descobre-se uma ilusão. Por trás de
toda manifestação do amor, mesmo a mais pura e sutil, está o instinto
procriador, uma escondida determinação biológica voltada ao acasalamento e à
reprodução da espécie. A tese de Schopenhauer, de forte sabor freudiano é a de
que não existe amor sem sexualidade o
homem é um joguete nas mãos da natureza e da vontade de viver, ilude-se ou voluntariamente se engana quanto ao
verdadeiro escopo das suas ações; na realidade, todo enomoramento, por mais
etério que possa parecer, está voltado para a continuidade da espécie. -Muito embora
Platão, como já mostrei em um tópico aqui, diz que o amor homossexual não está voltado à procriação e, portanto, mais
inclinado a um desenvolvimento num sentido puramente espiritual – portanto,
para Schopenhauer, o amor é somente o instrumento usado pela natureza para
perpetuar o gênero humano. De fato, se o homem não fosse dominado pelo instinto
erótico nunca colocaria filhos no mundo, porque ninguém é tão maldoso, afirma
Schopenhauer, a ponto de desejar a qualquer ser vivente a vida neste vale de légrimas.
É por essa natureza associou o orgasmo ao acasalamento, para induzir o
indivíduo a ultrapassar o senso da culpa ligado ao ato de procriar.
Todo enamoramento, por mais que
queira mostrar etéreo, tem sua raiz unicamente no instinto sexual; ou melhor,
em tudo e por tudo, é somente um impulso sexual determinado, especializado e
rigorosamente individualizado...
O êxtase encantador que arrebata
o homem à vista de uma mulher cuja beleza lhe apraz e que o leva a imaginar a
união com ela como supremo bemé exatamente o sentido de espécie, que,
reconhecendo o seu caráter claramente impresso nela, desejaria perpetuá-lo com
a mesma. Dessa decidida inclinação para a beleza depende a conservação do tipo
da espécie: por isso ele age com tamanha força...
Portanto, o homem é realmente
guiado por um instinto que tende ao melhoramento da espécie, mesmo que se iluda
ao pensar que busca somente um aumento do próprio prazer. De fato, o que temos
é um instrutivo esclarecimento sobre a íntima essência de todo instinto, que quase
sempre, como aquicoloca o individuo em movimento para o bem da espécie...
Em conformidade ao exposto
caráter do assunto, todo enamorado, depois do gozo finalmente alcançado,
experimenta uma estranha desilusão e se surpreende de que aquilo que tão ardentemente
desejou não ofereça nada mais do que qualquer outra satisfação sexual; tanto
que agora já não se sente mais por ele impelido.
Logo, aquele desejo estava para
todos os seus demais desejos na mesma relação em que a espécie está para o
individuo – ou seja, entre uma coisa infinita e uma finita. A satisfação, ao
contrario, só se realiza propriamente para o bem da espécie e não cai,
portanto, na consciência do individuo, o qual, animado pela vontade da espécie,
servia com todo sacrifício a um fim que não era o seu próprio.
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