O PROBLEMA: E que consiste o fenômeno
religioso?
A TESE: Qualquer religião representa
uma forma de alienação, uma patologia
do espírito pela qual o homem projeta a sua humanidade fora de si mesmo,
criando inconscientemente um ídolo ao qual depois se submete. Consequentemente,
todo progresso em campo teológico se transmuta em um correspondente abaixamento
da humanidade. A glória de Deus funda-se na diminuição do homem, a beatitude
divina na miséria humana, a divina sapiência na insensatez humana, a potencia
divina na fraqueza humana. O ateísmo torna-se, assim, um dever ético do homem
que reencontrou a si mesmo. É preciso transformar os homens de amigos de Deus
em amigos dos homens, de homens que creem em homens que pensam de candidatos a
outro mundo em estudiosos deste mundo, de cristãos – que se reconhecem metade
animais e metade anjos – em homens na sua inteireza.
A SÍNTESE: A religião é uma ilusão
perniciosa. Vejamos: em suas relações com as ideias religiosas, a razão
consciente deve apenas destruir uma ilusão, porem, que está longe de ser
inócua, porque exerce sobre o homem uma influencia fundamental perigosa e
funesta, que destrói as suas forças para a vida real e lhe faz perder o sentido
da verdade e da virtude.
O amor
religioso é contra a natureza. Vejamos: de fato, o próprio amor, sentimento em
si mais verdadeiro, é corrompido pela religião e transformado em um sentimento
puramente aparente e ilusório; o amor religioso não ama o homem senão por amor
a Deus – ou seja, ama o homem só aparentemente. As historias da religião
primitiva até os dias de hoje falam por si sós. Porque na realidade não ama o
homem, mas Deus. É de se ver que se uma espécie viva inteligente sabendo dessa
fraqueza humana poderia se fazer passar por um Deus, Jesus, e com sua
tecnologia, poderia facilmente escravizar os humanos religiosos que “subiriam”
com eles. E, até, matariam os homens que os alertassem dessa armadilha.
Portanto, a humanidade está em perigo, considerando que possa existir uma mente
inteligente extraterrestre.
Deus é pensado
em contraposição ao ser humano. Considere: a religião é a cisão do homem
consigo mesmo: ele se põe diante de Deus como um ser contraposto. Deus é o ser
infinito, o homem é o ser finito; Deus é perfeito, o homem imperfeito; Deus é
eterno, o homem temporal; Deus é onipotente, o homem impotente; deus é santo, o
homem pecador. Portanto, deus e o homem são extremos: Deus é o polo positivo, a
some de todas as realidades, o homem é o polo negativo, a soma de todas as
nulidades.
O próprio fato
de o homem sentir-se cindido de Deus significa que não é verdadeiramente um
outro ser. O homem tem como objeto, na religião, o seu ser oculto. Deve-se
portanto, demonstrar que essa antítese, essa desarmonia entre Deus e o homem,
onde a religião tem sua origem, é uma desarmonia do homem com o seu próprio ser. A intima necessidade
dessa demonstração resulta do fato de que se realmente o ser divino, o objeto
da religião, fosse algo diferente do ser homem, não podia realizar-se uma
cisão, uma desarmonia. Se realmente Deus é um outro ser, que me importa a sua
perfeição?
Pode cindir-se
somente aquilo que é em si unitário. Portanto, cisão só existe entre seres em
discordância entre si, mas devem, depois de cindido, constituir um único ser;
podem sê-lo e, em consequência, essencialmente são realmente um só ser.
Logo, deus é
uma criação da mente. Portanto, já a partir desse principio geral, deve
resultar que o ser, do qual o homem religioso se sente cindido, é um ser que
lhe é inato, mas ao mesmo tempo um ser de natureza diversa, como o ser ou o
poder que lhe dá o sentimento, a consciência da conciliação, da unidade de Deus
ou, o que forma um todo, consigo mesmo.
Deus é a
objetivação da razão humana. Porque esse ser não é nada mais que a
inteligência, a razão ou o intelecto. Deus concebido como o extremo oposto do
homem, não como um ser humano – ou seja, pessoalmente humano - ,é o ser
objetivado do intelecto. O ser divino, puro, perfeito, desprovido de defeitos é
a autoconsciência do intelecto da própria perfeição. O intelecto não conhece os
sofrimentos do coração: não tem desejos, paixões, necessidades e justamente por
isso, nenhuma deficiência ou fraqueza, como o coração.
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